quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A fonte secou...

Olívia de Cássia - jornalista

De repente dá um nó na garganta, um aperto no peito, uma vontade de chorar, mas as lágrimas não descem. Talvez em protesto porque em outras épocas eu já chorei o bastante:  por sentimentos tão profundos, que já não tenho mais nada para chorar dentro de mim. Talvez a fonte tenha secado.

Não, não é transtorno de ansiedade ou síndrome do pânico o que estou sentido: são apenas sentimentos verdadeiros acumulados querendo explodir de alguma forma, extravasar o cansaço, conversar com um amigo, falar de coisas que às vezes nem sei dizer, protestar contra as injustiças do mundo ou nem sei o quê mais.

Todos nós ficamos ansiosos, às vezes, e essas minhas preocupações, ainda bem, não interferem na minha capacidade de levar a vida; eu consigo relaxar se ouço uma boa música, se leio um bom livro, se estou na companhia de gente que me traz alguma mensagem positiva, de gente do bem.

Mas esses são sentimentos e emoções que às vezes se fundem num só desejo: o de ser feliz. Sinto que já não tenho tanto tempo disponível e vem aquela vontade de viver muito mais, aproveitar a vida de forma que ela seja intensa e positiva.

Mas como vou viver intensamente se não tenho capacidade nem para administrar a minha vida? São perguntas que me veem à cabeça, depois de um dia de trabalho e a cabeça cheia de informações, adrenalina que serve de combustível para quem vive nesse mundo da comunicação.

E foram tantos os sonhos da juventude, tanta expectativa gerada, quereres acumulados, algumas frustrações, mas eu sempre tive a certeza do que eu queria ser e essa vontade era maior e a vida toda foi assim. Minha profissão sempre estava e esteve acima até de alguns sentimentos, eu confesso.

Nunca abri mão desse sonho profissional, embora lá na frente a gente vá percebendo que a família é muito mais importante que tudo. Mas no andar da minha carruagem eu não formei a minha própria família e como dizia Machado de Assis, não terei descendentes diretos.

Às vezes essa constatação arranha um pouco a minha existência, mas a essa altura da vida eu não tenho mais tempo para ilações a respeito de como teria sido minha vida se fosse de outra maneira.

O jeito é viver e viver muito mais, tentando ser feliz, afinando e refinando o gosto pela leitura, diversão e arte, procurando um pouco de qualidade de vida, embora as dificuldades encontradas sejam muitas, mas na certeza de que as escolhas que fiz me levaram e me levam aonde eu quero chegar.  

E eu quero e sei o que quero: sonhar, viver e querer o bem comum. Que tenhamos daqui para frente um mundo melhor e mais justo; que saibamos escolher sempre o melhor para nós e que a gente perceba que o nosso conceito de verdade não é absoluto, pois existem muitas versões para os mesmos fatos. E viva a República!

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