quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quando falo de solidão...

Olívia de Cássia – jornalista

A solidão que me acomete agora às vezes é um sentimento de abandono, às vezes não: é apenas uma maneira de autodefesa minha. Maneira de encarar a vida e me conhecer melhor. A solidão é minha companheira de muitas horas, dos meus silêncios, meus segredos mais profundos.

Antigamente a gente do interior  vivia em grupos, fazia as refeições na mesa, com a família. Era a hora de atualizar vivências, de passar conhecimento e coragem para os filhos. Hoje eu não tenho mais isso na vida; perdi minha família, minha referência, não tenho filhos.

Como disse Machado de Assis em Dom Casmurro, não terei a quem passar o meu legado. Às vezes sinto-me só. Mas quando a solidão bate à minha porta, eu procuro uma presença espiritual para me orientar e me conduzir para o melhor de mim.

Quando falo de solidão, falo de um sentimento introspectivo, uma sensação de saudade, talvez saudade do que não foi vivido e do que eu vivi também. Saudade das coisas boas que eu vivi e daquelas que ficaram apenas na minha vontade de fazer. Solidão que há em mim.

Tenho saudade dos meus pais e de tudo aquilo que me ensinavam nas horas das nossas refeições lá em casa, em União dos Palmares. Meu pai dizendo aqueles versos embolados e engraçados, feito literatura de cordel ou falando de suas aventuras quando era solteiro.

Era muito bom tudo aquilo e eu me sinto só sem a presença deles em minha vida para me dar o suporte emocional que eu preciso nesse instante, em que vivencio tantos problemas da vida prática.

Eu não soube conduzir como deveria a minha vida. É uma sensação às vezes de inabilidade, inapetência, mas ainda preservo os valores que carreguei comigo por toda a vida. Os valores familiares que estão distantes da gente de hoje.

Dizem que a cura para a solidão familiar é o estar presente, mas no meu caso a única presença que tenho disponível é a minha mesmo e a dos meus filhotes de quatro patas. E nessas horas eu prefiro a companhia deles para não atrapalhar a vida dos outros que já têm seus problemas.

Tenho mania de solidão, solidão para fazer minhas reflexões, minhas leituras, meus escritos, minha vida de solteirice na maturidade. Mesmo sem querer a gente busca a solidão, todos os dias, é só dar uma olhada a nossa volta.

É uma solidão sem mesquinhez, sem atropelos essa minha. Talvez seja a oportunidade do crescimento interior, do autoconhecimento, da aprendizagem. Pouca gente sabe lidar com a solidão e para mim é um novo aprendizado a cada dia. Eu me dou muito bem com a minha solidão interior e a da vida prática. 

Quando falo de solidão...Boa noite e até mais tarde. 

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