A solidão que me acomete agora às vezes é um sentimento de
abandono, às vezes não: é apenas uma maneira de autodefesa minha. Maneira de encarar
a vida e me conhecer melhor. A solidão é minha companheira de muitas horas, dos
meus silêncios, meus segredos mais profundos.
Antigamente a gente do interior vivia em grupos, fazia as refeições na mesa,
com a família. Era a hora de atualizar vivências, de passar conhecimento e
coragem para os filhos. Hoje eu não tenho mais isso na vida; perdi minha
família, minha referência, não tenho filhos.
Como disse Machado de Assis em Dom Casmurro, não terei a
quem passar o meu legado. Às vezes sinto-me só. Mas quando a solidão bate à
minha porta, eu procuro uma presença espiritual para me orientar e me conduzir
para o melhor de mim.
Quando falo de solidão, falo de um sentimento introspectivo,
uma sensação de saudade, talvez saudade do que não foi vivido e do que eu vivi
também. Saudade das coisas boas que eu vivi e daquelas que ficaram apenas na
minha vontade de fazer. Solidão que há em mim.
Tenho saudade dos meus pais e de tudo aquilo que me
ensinavam nas horas das nossas refeições lá em casa, em União dos Palmares. Meu
pai dizendo aqueles versos embolados e engraçados, feito literatura de cordel
ou falando de suas aventuras quando era solteiro.
Era muito bom tudo aquilo e eu me sinto só sem a presença
deles em minha vida para me dar o suporte emocional que eu preciso nesse
instante, em que vivencio tantos problemas da vida prática.
Eu não soube conduzir como deveria a minha vida. É uma sensação
às vezes de inabilidade, inapetência, mas ainda preservo os valores que
carreguei comigo por toda a vida. Os valores familiares que estão distantes da
gente de hoje.
Dizem que a cura para a solidão familiar é o estar presente,
mas no meu caso a única presença que tenho disponível é a minha mesmo e a dos
meus filhotes de quatro patas. E nessas horas eu prefiro a companhia deles para
não atrapalhar a vida dos outros que já têm seus problemas.
Tenho mania de solidão, solidão para fazer minhas reflexões,
minhas leituras, meus escritos, minha vida de solteirice na maturidade. Mesmo
sem querer a gente busca a solidão, todos os dias, é só dar uma olhada a nossa
volta.
É uma solidão sem mesquinhez, sem atropelos essa minha.
Talvez seja a oportunidade do crescimento interior, do autoconhecimento, da
aprendizagem. Pouca gente sabe lidar com a solidão e para mim é um novo
aprendizado a cada dia. Eu me dou muito bem com a minha solidão interior e a da
vida prática.
Quando falo de solidão...Boa noite e até mais tarde.
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