quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Passa o tempo...

Olívia de Cássia - jornalista

Passei a terça-feira de Carnaval em casa, ‘brigando’ com a lentidão da internet. São três horas da manhã quando começo a escrevinhar esse texto e a situação já piorou faz tempo. Não consigo mais abrir algumas páginas e isso me irrita profundamente.

Sem ter o que fazer nem para onde ir, a única alternativa da terça-feira de Carnaval era minha leitura e a net  e nem assim funcionou. Sem falar nessa madrugada do calor insuportável. Já tirei uns cochilos no sofá porque estou tentando baixar algumas fotos no Ski Drive, para minha segurança, mas a paciência já vai longe. É tudo muito lento aqui.

Ligo o rádio do celular para lembrar que é Carnaval. Na rua onde moro o movimento o dia todo foi quase zero e não tenho o costume aqui de ficar nas portas, mas não ouvi nenhum barulho, sinal de que quem viajou ainda não voltou e que os poucos que ficaram não estão por aqui ou estão dentro de casa, da mesma forma que eu.

Me pus em reflexão no dia de hoje, o tempo da maturidade faz isso com a gente: ou se reflete o que foi feito e a gente tenta ser melhor a cada dia, ou não teria valido a pena chegar até aqui. Espero ter a graça de Deus de ainda ter muito o que refletir, pensar e melhorar com o aprimoramento.

Sou uma criatura fora dos padrões do que se possa pensar em normalidade, o  que a gente costuma ver por aí, sou esquisita mesmo. Eu não tive filhos, não tenho companheiro e moro sozinha com meus gatos e cães. As dificuldades da vida e da saúde  me impõem certos limites.

Confesso que fui me afastando da família, aos poucos. Não sei se esse problema neurológico me fez isso, mas às vezes me pego arredia, fugindo da companhia, sem querer, de pessoas que antes eu fazia questão de estar próxima. Também a maioria da família não me procura: elas por elas, sem caso pensado.

Lembro que minha mãe, talvez pela falta de liberdade ou de opções, todo domingo ela ia fazer visita a algum parente ou amigo em União dos Palmares; acho que esse era um costume que se tinha, mas eu não preservei isso e hoje até sinto falta disso.

Preciso voltar a visitar minha tia Noêmia, a única sobrevivente, irmã de mamãe. Estou devendo uma visita a ela faz tempo e ‘não sei por que cargas d’água’ eu não tenho ido visita-la. Sinto que preciso me reaproximar de alguns familiares, que já não visito faz tempo, mas é uma coisa e outra e acabo me dispersando. Não é por ruindade minha não.

Definitivamente eu não sou ‘normal’ feito as outras pessoas e comprovo isso a cada dia. Às vezes me ponho a refletir que se eu fosse outra pessoa e agisse de forma diferente, talvez minha vida fosse mais fácil, mas eu sou assim, não sei ser diferente disso que sou e avalio que a vida foi me conduzindo a esse comportamento que para muitos parece estranho.

Preciso arregimentar forças dentro de mim para ser diferente, para ser melhor. Às vezes me sinto um extraterrestre vivendo em terras áridas. Muitas vezes a companhia dos meus filhotes de quatro patas é mais reconfortante para a minha condição.

Penso que se procurar sempre a companhia dos outros vou incomodar com meus problemas, atrapalhar a felicidade alheia e assim eu vou levando essa minha vida enrolada e cheia de complicações que eu tento resolver sozinha.

E é nessas horas de profundidade reflexiva que lembro do que minha mãe pensava de mim: ela achava que eu não saberia conduzir minha vida sozinha, conhecia todas as minhas fraquezas e me queria uma mulher forte, feito ela, que enfrentou todo o tipo de adversidade e soube conduzir sua vida.

Era ela quem mandava lá em casa e queria conduzir o destino dos filhos. Não se conformava com a minha rebeldia e com a minha não-aceitação para aquele modo dominador, no que se referia a minha pessoa.

Nessas horas eu desejo a presença dela em minha vida, para me ajudar, me aconselhar e me dizer o que devo fazer, mesmo que na maioria das vezes eu não concordasse com sua maneira de pensar. Saudade é o que sinto nessa madrugada de Quarta-feira de Cinzas.

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