Olívia de Cássia – jornalista
Deu vontade de pedir arrego, desde ontem, mas hoje é um novo dia. Eu precisava acordar logo cedo e acionei o despertador da companhia telefônica para me acordar, pois precisava ir à dentista colocar a última sessão de flúor.
Resolvi ir a pé, do Centro onde moro até a Pajuçara, para economizar o dinheiro da passagem, fazer um pouco de movimento nas pernas e ver o mar. Saí de casa às sete horas e cheguei à Dental Máster às oito.
Nem deu para observar a paisagem como eu queria, absorta que estava em meus pensamentos. Fui caminhando ao lado do Clube Fênix, por ser mais movimentado e por precaução, pois me conheço e sei que quando começo a pensar me desligo de tudo.
No caminho, como sempre faço nessas horas, eu fui lembrando dos conselhos que meus pais me davam, principalmente minha mãe, dona Antônia, que sabia das minhas fraquezas e limitações diante do lado prático da vida e não queria que eu sofresse tanto. Era ela quem comandava tudo lá em casa.
Mamãe contava que penou muito para fazer a cabeça do meu pai, no sentido de que ele vendesse as poucas terras da Baixa Seca, para irem morar em União dos Palmares. Diante da insistência e poder de convencimento dela, meu pai vendeu tudo e migraram para a Terra da Liberdade.
Ela dizia que não queria ver os filhos sendo criados no mato, sem estudos, no entanto, mais tarde, quando estava já doente, dizia que era melhor que tivesse tido uma filha analfabeta, que lhe fizesse companhia. Dizia isso quando estava com raiva e magoada comigo.
Foram tantas as mágoas e os desentendimentos que tivemos! Quase nunca nos entendíamos, éramos tão diferentes uma da outra; eu sempre me identifiquei mais com meu pai, meu avô e meu tio Antônio. É tão visível isso, percebi depois de amadurecida essa questão.
Passados esses anos todos da sua morte e diante das dificuldades e atropelos que passo na minha vida, eu sinto tanto a falta dela, da sua rusticidade, das suas broncas, dos seus sábios conselhos, do socorro que ela me dava, sempre que eu estava precisando,mesmo que ela discordasse de mim, que isso chega a doer no fundo da minha alma. Mãe é mãe.
Meu primeiro computador, no começo da década de 90, foi ela quem comprou, a linha telefônica naquela época era comprada e muito cara, foi ela também a doadora. A casa onde moro foi ela quem construiu e mobiliou nos primeiros meses.
Nunca fui uma pessoa organizada, prática ou empreendedora: admiro muito quem o é, principalmente as mulheres vencedoras. Não me preparei para isso e hoje, aos 51 anos de idade, estou penando por não ter aprendido a cuidar de mim como eu deveria, como queriam meus pais.
Terminada a aplicação do flúor eu voltei pelo mesmo caminho, pela Avenida da Paz, imaginando uma forma e pedindo a Deus uma luz para encontrar uma solução para os meus problemas. Mas tão distraída eu estava, que nem percebi o quanto eu amanheci desequilibrada e tombando hoje, por conta da ataxia.
A questão emocional conta muito nessas horas e próximo ao Alerta Médico eu bati nas canas do vendedor de caldo que comercializa nas redondezas e derrubei tudo, sou um desastre mesmo.
Tentei explicar para o moço que não tenho muito equilíbrio, mas acho que ele pensou que eu, às dez horas da manhã, já tivesse bêbada e se pôs a me xingar e reclamar pelo desastre que provoquei. Saí dali com lágrimas nos olhos , paciência, tenho que me acostumar com isso, até que Deus não me permita mais.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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