terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Não sou dona da verdade


Olívia de Cássia – jornalista

Quando eu escrevo no blog ou em qualquer canto e falo daquilo que se passa no meu coração, das minhas inquietações, incertezas e da maneira como eu vejo o mundo, me sinto aliviada, tiro um peso de cima de mim, parece que fico mais leve.

Sempre gostei de escrever: seja para fazer poesias, artigos, confissões nos meus diários ou cartas para os amigos. Não escrevo apenas fatos do dia-a-dia, releases ou noticiários. Sempre gostei de expressar meus sentimentos por meio de palavras escritas, desde a tenra idade. É uma forma de me sentir mais útil, mais leve e melhor.

Gosto de me expressar sobre assuntos diversos, desde temas sentimentais, problemas existenciais, até opinar sobre o que está sendo discutido na sociedade e na mídia. Mas devo alertar aqui que eu nunca disse que sou dona de verdade nenhuma e qualquer um pode e deve discordar daquilo que penso e que falo. É dialético isso.

Quando coloco para fora uma ideia, coisas que estão me incomodando, não o faço esperando aplausos ou aprovação seja lá de quem for. Mas admito que quando alguém se identifica com o que escrevo, com minha maneira de ver o mundo, é claro que me sinto bem. Não sou hipócrita. Quem é que não gosta disso?

Um moço internauta leu um dos meus escritos postado no site Portal Literal, onde tenho inscrição, artigo que publiquei no blog e que também foi publicado na Tribuna Independente do domingo passado, 13, onde eu defendi o resgate das tradições, critiquei as músicas de péssimo gosto tocadas por aí, inclusive as que detratam as mulheres e são preconceituosas.

O rapaz que leu meu texto no Portal Literal achou ruim quando eu sugeri que essas músicas, tipo aquela que chama as mulheres de cachorras, deveriam ser tratadas com restrições. Ele avaliou que eu estivesse defendendo a volta da censura e desceu a lenha na minha fala.

Avalio que me achou conservadora na minha maneira de pensar, acho que entendeu mal o meu ponto de vista, ou entendeu do jeito que queria entender. Eu jamais defenderia a volta da censura, até porque sempre defendi a liberdade. Essa sempre foi minha bandeira.

Acho importante que as pessoas opinem a respeito do que escrevo e que tenham suas opiniões próprias e divergências. Até por que ninguém é obrigado a aceitar todas as minhas ideias, pontos de vista e avaliações.

Penso eu que cada um teve uma educação e uma formação diferenciada e eu tive a minha, penso diferente. Posso até ser avaliada como uma pessoa conservadora, mas conservadora daquilo que é de qualidade. O novo não quer dizer que seja bom. Mas eu não sou dona da verdade e se o fosse seria muito chato.

Acredito que há várias verdades no mundo. Há verdades pré-estabelecidas, conceituais e a verdade de cada um. A verdade para mim é um conceito muito amplo e subjetivo. A minha é diferente daquela das pessoas que aprovam esse tipo de música, mas eu respeito o que pensa cada um.

Só não gosto dessas músicas e tenho o direito de dizê-lo abertamente, acredito eu, que são de péssimo gosto. Sou de um tempo em que vivi minha infância e juventude em plena ditadura militar, mas nem por isso engolíamos todas as músicas que o regime aprovava e que tentava nos empurrar.

Ainda bem que vivemos numa democracia e a divergência de opinião é muito salutar. Do mesmo jeito que o internauta lá me criticou por eu ter falado mal das músicas de forró-malícia, Tarraxinha e outras do mesmo naipe, eu também tenho o direito de expressar a minha opinião e de discordar dele.

Cada pessoa observa a vida e as situações de uma forma e eu tenho também a minha maneira de ver o mundo. Só gostaria de não ser impedida um dia de expressar essa minha maneira de ser. A democracia pede passagem. Dá licença, meu senhor.

2 comentários:

JOSIVALDO RAMOS disse...

Parabéns minha amiga! Linda reflexão... Vivo esta mesma inquietação, ou seja, de poder defender minhas ideias, ainda que muitos divirjam delas. Isto é a democracia. Forte abraço!

Goretti Brandão disse...

Olá Olívia!
É interessante como a unilateralidade - como premissa para muitas pessoas -, faz com que pontos de vista sejam julgados e de forma, claro, unilateral. A idéia que se tem de que o que é NOVO é bom e MODERNO, vem associada de maneira errônea àquilo que se inscreve no mundo de hoje, como modernismo. Acredita-se que quem não estiver 'na onda' é retrógado, conservador e coisa e tal. As pessoas por aí, defendem, até sem saber, a Indústria Cultural, seu enredo engenhoso, de fazer com que se engula tudo, sem ser questionado. Ser moderno não implica em ser unilateral, para não dizer, alienado da sua capacidade de ouvir, entender e selecionar o que é moderno e bom, e do que alcança popularidade e é ruim...
Concordo com você que existem inúmeras verdades. E que a gente precisa respeitar as demais verdades de cada um. Mas, só a título de citação, Adorno tem um texto muito bom sobre: A regressão da Audição. Defender seu ponto de vista, não significa apenas defender uma posição sua, mas perceber e aguçar os sentidos, para a mensagem e sobre o que ela veicula. Uma excelente mensagem sobre a importância da avaliação dessas músicas com o senso crítico. O desvirtuamento da cultura musical, a pobreza gramatical, tudo isso revela um problema maior, que é o da inconsciência coletiva, cada vez menos consciente e consumidora de conceitos vulgares, que no caso de muitas músicas, realmente, denigre a imagem da mulher.
Numa época onde se proclama e é conclamado, exaustivamente, direitos iguais entre os sexos, esse expediente, longe de ser produto cultural, é nocivo. É a ponta do iceberg, para quem usa de conceitos mais amplos de observação sobre o que acontece na sociedade, e sabe o quanto essas mensagens são a negação à igualdade, ao direito e ao respeito que as mulheres, nós, somos merecedoras. Não apenas por sermos mulheres, mas, por sermos seres, de carne e osso, e não produtos de consumo.
Um forte abraço!

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