terça-feira, 9 de novembro de 2010

Serra da Barriga, o descaso continua


Olívia de Cássia – jornalista

(Primeira foto onde eu apareço é de autoria de Sandro Lima - Tribuna Independente)

Todo ano a história é sempre a mesma. Quando se aproxima o dia 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra, em homenagem ao guerreiro e herói Zumbi dos Palmares, as atenções se voltam para a Serra da Barriga, em União dos Palmares. O Parque ali construído pelo Governo Federal para servir de referência, cuja construção custou aos cofres do País a bagatela de R$ 1,5 milhão, está praticamente entregue à própria sorte.
Local sagrado para quem milita no movimento negro, símbolo de luta e resistência contra a escravidão no Brasil, a Serra da Barriga foi tombada pelo Decreto 95.855 de 1988 e se tornou um monumento nacional. A responsabilidade para sua preservação foi entregue à Fundação Cultural Palmares, que inaugurou um escritório de representação em União, mas pouco se comenta o que é feito por lá.
Também o Ministério da Cultura ficou com essa tarefa, mas atualmente o local está entregue à própria sorte. O Parque foi inaugurado em 2007; na época o Governo do Estado gastou com o acesso à Serra o valor de R$ 341.000 para pavimentação que não foi concluída e o local continuou com difícil acesso até hoje.

Foto: Olívia de Cássia
Quem visita o Parque Memorial se encanta com a magia do local, geralmente estudantes, pesquisadores e turistas estrangeiros, mas reclamam do acesso e da falta de carinho. Quando foi construído, a promessa era transformar o espaço em uma rota do turismo étnico, na qual já se encontra a cidade de Salvador (BA). Passados três anos da construção, sem o cumprimento das promessas de projetos turísticos e culturais que mantenham o parque em atividade, o lugar fica quase vazio o ano todo.
No platô, onde são realizadas as festividades do Dia da Consciência Negra, foram construídas ocas, casa de farinha, restaurante, casa de orações, um mirante de observação. Tudo muito estilizado à maneira de como os negros viviam na serra, seguindo as informações orais e os registros históricos da época.

Essa foto é do interior do restaurante rústico contruído na Serra da Barriga, eu fiz em setembro de 2007, antes da inauguração oficial do local, assim como a foto anterior


Com a proteção de pequenas construções de palhas foram colocados ali painéis em quatro línguas: português, inglês, espanhol e italiano, onde era possível se ouvir, logo quando foi construído, textos falando da epopéia negra nas vozes da cantora Lecy Brandão e do ator Tony Tornado, entre outros artistas do Brasil.
Mas segundo fotos recentes e informações do estudante de geografia da Uneal, em União dos Palmares, José Marcelo Pereira, o local está precisando de manutenção. Os bancos de madeira rústicas que foram colocados em frente das ocas estão quebrados, mostrando o descaso para com aquele patrimônio. As palhas das ocas e casa de farinha precisam ser trocadas, os painéis não estão funcionando e o local de ressente da falta de cuidados e de carinho.
Não merecemos isso. Zumbi e a história da resistência merecem respeito e dignidade. A Serra da Barriga lembra a África, de onde vieram seus habitantes do passado; talvez tenha sido por isso que foi o principal lugar escolhido para o refúgio daquele povo que fugia da escravidão.
Uma mistura de negros, brancos e índios rebelados que se insurgiram contra o regime colonial opressor, tendo como líder Ganga Zumba e depois Zumbi, reconhecido como herói nacional. O lugar tem magia e encanto e deve ser preservado e colocado em funcionamento para visitação.Mas todo ano a história se repete: quilômetros de matérias são produzidas, reclamações são feitas, mas quando passa a Festa da Consciência, tudo volta como estava antes. Não devia ser assim.
No alto da serra tem muito verde, palmeiras e plantações. De lá dá para se ver várias paisagens que encantam os olhos dos visitantes. Zumbi parece que vive em cada canto do lugar, no ar que se respira ali, no clima e na história do primeiro símbolo de resistência do País. Viva Zumbi!

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