
Olívia de Cássia – jornalista
(Primeira foto onde eu apareço é de autoria de Sandro Lima - Tribuna Independente)
Todo ano a história é sempre a mesma. Quando se aproxima o dia 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra, em homenagem ao guerreiro e herói Zumbi dos Palmares, as atenções se voltam para a Serra da Barriga, em União dos Palmares. O Parque ali construído pelo Governo Federal para servir de referência, cuja construção custou aos cofres do País a bagatela de R$ 1,5 milhão, está praticamente entregue à própria sorte.
Local sagrado para quem milita no movimento negro, símbolo de luta e resistência contra a escravidão no Brasil, a Serra da Barriga foi tombada pelo Decreto 95.855 de 1988 e se tornou um monumento nacional. A responsabilidade para sua preservação foi entregue à Fundação Cultural Palmares, que inaugurou um escritório de representação em União, mas pouco se comenta o que é feito por lá.
Também o Ministério da Cultura ficou com essa tarefa, mas atualmente o local está entregue à própria sorte. O Parque foi inaugurado em 2007; na época o Governo do Estado gastou com o acesso à Serra o valor de R$ 341.000 para pavimentação que não foi concluída e o local continuou com difícil acesso até hoje.
Foto: Olívia de Cássia
Quem visita o Parque Memorial se encanta com a magia do local, geralmente estudantes, pesquisadores e turistas estrangeiros, mas reclamam do acesso e da falta de carinho. Quando foi construído, a promessa era transformar o espaço em uma rota do turismo étnico, na qual já se encontra a cidade de Salvador (BA). Passados três anos da construção, sem o cumprimento das promessas de projetos turísticos e culturais que mantenham o parque em atividade, o lugar fica quase vazio o ano todo.No platô, onde são realizadas as festividades do Dia da Consciência Negra, foram construídas ocas, casa de farinha, restaurante, casa de orações, um mirante de observação. Tudo muito estilizado à maneira de como os negros viviam na serra, seguindo as informações orais e os registros históricos da época.
Essa foto é do interior do restaurante rústico contruído na Serra da Barriga, eu fiz em setembro de 2007, antes da inauguração oficial do local, assim como a foto anteriorCom a proteção de pequenas construções de palhas foram colocados ali painéis em quatro línguas: português, inglês, espanhol e italiano, onde era possível se ouvir, logo quando foi construído, textos falando da epopéia negra nas vozes da cantora Lecy Brandão e do ator Tony Tornado, entre outros artistas do Brasil.
Mas segundo fotos recentes e informações do estudante de geografia da Uneal, em União dos Palmares, José Marcelo Pereira, o local está precisando de manutenção. Os bancos de madeira rústicas que foram colocados em frente das ocas estão quebrados, mostrando o descaso para com aquele patrimônio. As palhas das ocas e casa de farinha precisam ser trocadas, os painéis não estão funcionando e o local de ressente da falta de cuidados e de carinho.
Não merecemos isso. Zumbi e a história da resistência merecem respeito e dignidade. A Serra da Barriga lembra a África, de onde vieram seus habitantes do passado; talvez tenha sido por isso que foi o principal lugar escolhido para o refúgio daquele povo que fugia da escravidão.
Uma mistura de negros, brancos e índios rebelados que se insurgiram contra o regime colonial opressor, tendo como líder Ganga Zumba e depois Zumbi, reconhecido como herói nacional. O lugar tem magia e encanto e deve ser preservado e colocado em funcionamento para visitação.Mas todo ano a história se repete: quilômetros de matérias são produzidas, reclamações são feitas, mas quando passa a Festa da Consciência, tudo volta como estava antes. Não devia ser assim.
No alto da serra tem muito verde, palmeiras e plantações. De lá dá para se ver várias paisagens que encantam os olhos dos visitantes. Zumbi parece que vive em cada canto do lugar, no ar que se respira ali, no clima e na história do primeiro símbolo de resistência do País. Viva Zumbi!
Nenhum comentário:
Postar um comentário