Olívia de Cássia – jornalista
Olho-me no espelho e vejo as marcas do tempo no meu rosto:
mais uma ruga me apareceu, olhar modificado por conta da questão de saúde:
estou diferente. A Doença de Machado Joseph (DMJ) vai modificando o olhar da
gente, o semblante.
Eu me policio frequentemente, com medo de ficar com aquele jeito
espantado, meio alienado, como meu irmão e meu pai. Já não tenho a meiguice da
meninice e nem olhar matreiro da juventude e da adolescência.
Não posso dizer que não vivi aventuras na minha vida, mas olhando
agora, bem de longe do meu passado, no alto dos meus 54 anos, e percebo que
queria ter vivido mais, com mais intensidade.
Minhas experiências daquela fase foram inocentes e desprovidas de malícia e às vezes
fico comparando com o que vivem os
jovens de agora. Tive minhas vivências próprias de cada fase da idade,
mas sinto ainda como se faltasse muito para viver.
Quero viajar, conhecer mundos, pessoas, viver outros
momentos da idade de agora. Acho que se eu tiver que ir agora não iria completa,
sem ter vivido tudo o que eu queria e aproveitado a vida muito mais. Se pudesse
ter uma chance de fazer essa reivindicação, eu pediria. Se pudesse voltar,
queria voltar para dar continuidade aos projetos idealizados, sonhados, desejados.
Fui almoçar no shopping hoje e encontrei uma colega da
pré-adolescência, com a filha. Na década de 1970 ela ia passar as férias na
casa da família, em União e se pôs a perguntar por todo mundo, queria saber das
pessoas, dos nossos amigos e conhecidos, sobre o que fizeram da vida.
Engraçado esses momentos. Saí dali pensando em como a vida
vai distanciando a gente e nos separando
das pessoas e muitas vezes de tudo. Cada um vai procurando seu caminho: alguns
se perderam, outros foram muito felizes em suas escolhas.
Eu não posso dizer que seja infeliz nas minhas e se me
coloco às vezes pensativa e interrogativa é porque eu penso que eu poderia
estar em situação melhor.
Dizem que a gente colhe o que planta e que nossa vida é
fruto de nossas escolhas, mas eu não escolhi ser herdeira de um problema
hereditário que vai nos limitando a cada dia e nos impossibilitando os
movimentos, ninguém escolhe isso para sua vida.
É um problema que vai limitando você com um tempo, às vezes
rapidamente, em outras situações mais lentamente. Tem gente que o problema chega com mais
intensidade e a pessoa se entrega com mais facilidade, mas eu não quero me
entregar, apesar das limitações.
Eu quero e preciso viver ainda bons momentos na vida, ter o que
compartilhar com outros, escrever muito e falar dos meus sentimentos; ter boas atitudes,
continuar amando meus animais e procurar ser melhor a cada dia. Boa tarde!
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