Olívia de Cássia - jornalista
Faltava água potável na Rua da Ponte nos anos 1960 e sendo
assim, os moradores se valiam de favores e iam buscam água em uma cacimba na
Fazenda Jurema, de propriedade de dr. Antônio Gomes de Barros ou no Rio Mundaú;
mas para beber era a da cacimba da Jurema, que de tão transparente era azulada
e ficava no pé da serra.
Era uma verdadeira romaria de mulheres e meninos com latas d’água
na cabeça e a gente aproveitava para pegar manga e observar o gado da fazenda.
Para nossa visão de criança era tudo encantado e eu ficava entre curiosa e deslumbrada
ao mesmo tempo com aquilo tudo.
Na outra casa nossa, vizinha ao armazém de compras e cereais,
tinha um poço muito fundo, mas a água era salobra e só prestava para tomar
banho e lavar roupa. Quando nos mudamos de lá e papai vendeu o imóvel, os novos
proprietários mandaram aterrar.
Papai chegou a ter umas seis ou sete casas na Rua da Ponte,
que ele alugava para ajudar no orçamento doméstico, além da mercearia e do
armazém, de onde tirava o nosso sustento.
Na mercearia meu pai vendia de tudo um pouco: alimentos,
produtos de limpeza e higiene e outros objetos de consumo, pois naquela época
não havia supermercado e nem loja de conveniência em União dos Palmares.
E logo cedinho meu pai levantava para ir vender o pão para
que os moradores pudessem tomar o café. Meu Pai tinha muitos fregueses, mas a
maior parte da freguesia comprava fiado, e ele anotava tudo em uma pequena
caderneta, para ter controle das finanças.
Quando meu pai se aposentou não teve coragem de fazer todas
as cobranças para os devedores, delegou isso para o meu irmão Paulinho, mas muita
conta ficou por isso mesmo. Assim era o meu pai. Um homem honesto, religioso e
trabalhador.
Seu João Jonas não parava de trabalhar: era o dia todo na
lida; fosse na mercearia ou descarregando mercadoria que os matutos
traziam dos sítios para vender no armazém. Meu pai só parou de trabalhar quando
precisou se aposentar por conta da Doença de Machado Joseph, que fazia com que
levasse muitas quedas na rua e ele não pôde mais caminhar.
Quando a noite chegava, ele ainda ficava ali, até que não tivesse
mais freguês, ouvindo aquelas conversas dos bêbados, mas com toda paciência do mundo. Muitas vezes eu ficava na
cadeira de balanço com meu avô, na porta da mercearia, contando carneirinhos
nas nuvens, tomando guaraná e ouvindo as muitas histórias do meu avô, que era
um herói para mim.
Quando eu ia para a Barriguda passar as férias escolares,
era com meu tio Antônio Paes que eu mais dividia os momentos mágicos, quando não
estava brincando com minhas primas. Quando meu tio apontava lá em baixo no
lombo do burro, eu corria com a boneca na mão para encontrá-lo e vir na garupa do
burro com ele.
Tio Antônio ele me colocava no colo e me contava as
histórias da nossa família. E como ele tinha histórias engraçadas para dividir
com aquela criança que eu era; curiosa e aflita de informações!
Em tempo de moagem no velho engenho, nós cutucávamos os bois
da almanjarra, com um ferro pontiagudo e em cima de uma espécie de banquinho
colocado em uma linha, tudo puxado por bois; um deles se chamava Laranjeira e
tinha um touro nelore chamado Presidente.
Além do engenho tinha a casa de farinha, que produzia também
beiju, um iguaria parecida com a tapioca
e deliciosa que os trabalhadores e trabalhadoras, moradores do engenho do meu tio faziam. Na casa dos meus
tios Antônio e Marieta, na Barriguda, eu vivi muitas aventuras de criança,
aventuras que ficaram para sempre na minha memória e que me fazem muito feliz
lembrar.
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