Olívia de Cássia - Jornalista
Na época em que o primeiro homem pisou na lua, papai comprou
uma casa na Rua Tavares Bastos, número 35, junto com um terreno, que eram de
propriedade de Hamilton Baia, filho de dona Helena Baía, proprietária da Fazenda
Anhumas, local onde foi rodado, na década de 70, o filme “Joana Francesa”, com
a atriz Jeanne Moreau.
A casa da Tavares Bastos tinha um corredor enorme, com
três quartos, sala de janta e cozinha também amplas. Quando fomos morar no
imóvel, mamãe mandou fazer algumas reformas: o terreno ao lado transformou-se
num jardim, a garagem num quarto com suíte para ela e meu pai; outro nos fundos
para as visitas e o quarto da frente foi
adaptado para ser a sala de visitas.
Quando nos mudamos da Rua da Ponte para a Tavares Bastos, eu
estudava no Colégio Mário Gomes de Barros e pedi à mamãe que me colocasse no
colégio Santa Maria Madalena, pois era lá que estudavam meus novos amigos. Fui
estudar o hoje equivalente à sexta série do ensino fundamental, conheci novos
amigos e construí novas e sólidas amizades, que hoje já se dispersaram, na roda
viva da vida.
No Santa, tínhamos os
grêmios estudantis, onde mostrávamos os nossos “dotes” musicais. Éramos metidas
a cantar em inglês, sem saber nada dessa língua. Eu e Madalena Ferreira, filha
de seu Dalmário Ferreira, cantávamos músicas de Elton John, Billy Paul e de
cantores da MPB.
Dona Celina era a nossa boa professora de português e com
Antônio Manoel, já na oitava série, tínhamos as aulas de literatura, onde
interpretávamos textos das músicas de Chico Buarque: Construção, Roda Viva e
Cotidiano, além de cantores como Raul Seixas, Gilberto Gil, Caetano Veloso,
entre outros grandes nomes que estavam se firmando no cenário musical
brasileiro.
Mas foi com meu amigo Alonso Costa Pereira (Alonsinho), já
na juventude, que me apaixonei de verdade pela música. Ele colecionava discos e
tinha um verdadeiro acervo fonográfico em seu quarto. Era um armário, estilo
guarda-roupa, cheio de discos de músicas nacionais e internacionais, rock, MPB,
samba, frevo, trilhas de novelas da Globo e tudo o que se podia ouvir de bom
gosto musical.
Aos sábados, eu tinha o hábito de ir até a casa dele ouvir
os seus discos, conversar, desabafar minhas crises existenciais: com ele,
Marta, sua irmã, e dona Sebastiana, sua mãe, que era uma mulher bondosa e me
dava muitos conselhos, porque eu contava para ela as divergências que eu tinha
com mamãe.
Alonsinho era um bom filho e eu ficava ouvindo as histórias
de viagens que ele fazia ao Rio, à Paraíba, onde estudava, às praias de nudismo
que costumava ir com os amigos. Eram muitas aventuras interessantes que me
fascinavam, já que eu não costumava viajar muito, a não ser para a casa dos
meus tios no Rio de Janeiro.
Meu lindo amigo também gostava de ler a Bíblia e da mesma
forma que a família dele era evangélica, ele dava a interpretação aos textos
bíblicos na sua maneira de ver o mundo. Eu respeitava muito a opinião dele,
apesar de a minha família ser toda católica e eu participasse mais
profundamente da igreja, naquela época, mesmo tendo me afastado algum tempo
depois.
Com Alonsinho fazíamos pequenas viagens a Panelas, interior
de Pernambuco, para ver a corrida de jegue, no dia 1º de maio, Dia do Trabalho.
Minha amizade com esse querido amigo rendeu em União alguns comentários
maliciosos. Diziam de tudo de mim e de Alonso, mas éramos apenas confidentes e
muito unidos.
Senti profundamente a morte dele, que foi um irmão que eu perdi e, desde então,
nunca mais a cidade foi a mesma. É o que sempre afirmo quando encontro o
pessoal daquela época: para mim existiram duas cidades distintas: a União da
época de Alonsinho e a de agora, que está menos fraterna, menos aconchegante e
mais violenta, acompanhando o desenvolvimento das grandes cidades.
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