Olívia de Cássia - jornalista
Os gatos e os cães me
fazem companhia, para me lembrar nesta manhã de domingo de agosto, que apesar
de tudo eu não estou só, não obstante aquela sensação estranha estar me
perseguindo desde a quinta-feira. “Angústia e solidão um triste adeus em cada
mão”.
É como se eu tivesse levado uma paulada na cabeça, tivesse
ficado desacordada por muito tempo e
ainda não tivesse me situado por qual motivo estava sendo repreendida. Ter boas ideias e querer contribuir para o
melhoramento do produto do seu trabalho, parece que é uma infâmia, injúria e
difamação, apesar de estarmos em pleno século 21.
É assim que estou me sentindo desde então e tento me refazer
e não lembrar daquelas palavras que insinuavam que eu não teria autoridade para
pensar, em tomar iniciativas, fazer matérias fossem elas quais fossem, ‘sem
autorização’ como se eu fosse uma escrava da modernidade que não tivesse livre
arbítrio para pensar e elaborar minhas próprias ideias.
Escolhi fazer jornalismo por amor: por gostar de escrever,
por achar que seria escritora algum dia, por gostar de fazer o que eu achava
que poderia vir a ser poesia e por me afinar por tudo o que dizia respeito às
causas sociais, políticas, à literatura, à arte, à música e tudo o que eu
achava ideal.
O tempo foi me mostrando, nesses 25 anos de profissão, que a
banda não toca com o afinamento que a gente deseja. Os meios de comunicação no
país estão entregues aos grandes grupos políticos e conglomerados econômicos,
isso todo mundo sabe e quem manda é a política e o poder econômico, mas no
nosso caso eu avaliava que seria diferente. Ledo engano.
Assédio moral é um tema que me é familiar desde que comecei a
conviver com movimentos sociais e políticos; a partir do momento em que entrei
na universidade. Fui conhecendo façanhas e o caráter de muita gente, ao logo
desses meus anos que já me comprometem a saúde e a locomoção.
Na minha idade e com problema neurodegenerativo, fica difícil
ir em busca de outras searas, de outros campos de atuação. E nessas horas a
lembrança da minha mãe fica mais forte, porque ela se contrapunha à ideia de eu
fazer vestibular para jornalismo e não queria que eu enveredasse por esse
caminho.
Parece que minha mãe era visionária e sabia o que eu iria
encontrar pela frente: dificuldades, tentativas de impedimento de atuação na
minha profissão e um mercado estreito e cheio de descaminhos. Assim é o jornalismo brasileiro e o alagoano não fica atrás.
Quando me iniciei na profissão fui fazer revisão de texto e
naquela época, quando alguém começava em uma função era demorado ir para outra
editoria ou não ia. E assim passei quase toda a minha vida profissional com
medo que os outros não aprovassem meu texto.
Achava que o que escrevia não tivesse qualidade e fui me submetendo a humilhações até que resolvi dar um basta naquela situação e fui escrever, fazer o que sempre quis: matérias especiais, com conteúdos e responsabilidade social.
Achava que o que escrevia não tivesse qualidade e fui me submetendo a humilhações até que resolvi dar um basta naquela situação e fui escrever, fazer o que sempre quis: matérias especiais, com conteúdos e responsabilidade social.
E novamente me
enganei com o que achei tivesse liberdade de escolher também sobre o que eu achava fossem temas sérios e
do interesse da sociedade alagoana. A prática veio me jogar na cara que eu não
tenho esse direito.
Pensar à frente incomoda e isso tem me tirado o sossego e a
certeza de que chegou a hora de eu tentar a minha aposentadoria, nem que seja
pela questão da saúde e que, parodiando Fernando Pessoa, "nada vale a
pena, quando a alma é pequena". Bom dia.
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