Projeto ‘Tecendo a Manhã’, que virá para Maceió
em agosto, inspira artesãs de Pão de Açúcar e Piranhas e já movimenta o
comércio de bordados
A artista visual Maria Amélia
Vieira se mostra animada com os primeiros resultados dos trabalhos que estão
sendo realizados pelas bordadeiras das cooperativas dos povoados Ilha do Ferro,
que fica em Pão de Açúcar (a 227 km de Maceió), e Entremontes, em Piranhas (a 282
km da capital), para o projeto “Tecendo a Manhã”, levado a cabo pelo museu
Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea.
O evento, que acontece
nesses dois municípios do sertão alagoano, com patrocínio da Caixa Econômica
Federal e do Sebrae-AL, segue até o mês de agosto e inclui o lançamento de dois
livros-bordados, editados por Maria Amélia, e uma exposição em Maceió em local
a ser definido.
“Para esse trabalho, usei
como tema o projeto ‘Tecendo a Manhã’, criando dois objetos, que são livros com
fotografias que indicam amorosamente os povoados Ilha do Ferro e Entremontes.
Esse obras definem bem o cotidiano das bordadeiras e a poética da arquitetura
e paisagem ribeirinha”, explica a artista, que fez as fotos, juntamente
com o parceiro de vida e de arte, o também artista visual Dalton Costa.
“Em
cada ‘página’ desse livro-objeto, há uma interferência do bordado de cada
uma das bordadeiras. Esses livros irão compor a exposição ‘Tecendo a Manhã’ no
próximo mês de agosto”, diz Amélia.
Os produtos – que receberam
a prestimosa consultoria da artista, que nos últimos seis anos tornou-se
parceira dessas incríveis mulheres bordadeiras – já estão fazendo sucesso mesmo
antes da exposição.
“Os modelos desenvolvidos recebem muitos elogios e estão
sendo encomendados por turistas e apreciadores da cultura e artesanato
brasileiro, nas sedes das duas cooperativas”, informa a coordenadora do projeto
“Tecendo a Manhã”.
Essa parceria com bordadeiras, e com os escultores e
designers populares da região, começou em 2008, com o projeto “O Museu no
Balanço das Águas” – este patrocinado pelo Banco do Nordeste dentro do chamado
“Programa BNB de Cultura”. "Trabalhar com esse material humano, é
incrivelmente bom. Alimenta a minha paixão pela memória afetiva”, atesta
Amélia.
Segundo ela, o convívio com
as artesãs da Ilha do Ferro e de Entremontes, é enriquecedor. “As
conversas durante os nossos encontros, a comunicação entre os dois povoados, a
textura leve e maravilhosa do tecido de linho, a delicadeza das
linhas, a autoestima nas alturas dessas bravas mulheres, o maravilhoso
gesto de ser através de um ofício primoroso, são elementos que me fazem crescer
como designer e artista.”
Viagens ao Sertão
Com um pé em na Galeria
Karandash – que originou o museu Coleção Karandash em Maceió, que por sua vez se
estendeu até o Sertão por meio de um barco, batizado O Museu No Balanço das
Águas – e outro pé na estrada, Maria Amélia e o maridão,
Dalton Costa, viajam novamente na semana que
vem, no sábado (27), até Pão de Açúcar e Piranhas, para os arremates dos
bordados, dos livros artesanais e das próximas jornadas do barco-museu, este
formidável instrumento dos projetos sertanejos do casal a navegar diligentemente pelas águas do
rio São Francisco, levando arte e conhecimento a esses peculiares povoados
ribeirinhos de forte tradição cultural.
“Durante o projeto, senti
necessidade de incluir os bordados ‘boa noite’ e ‘redendê’ nos
meus livros-objetos. Pontos que definem o bordado boa noite e o redendê
emolduram fotos de paisagens, habitações e mãos femininas tecendo o
bordado, fotos que retratam o convívio entre essas pessoas e a própria vida,
impressas no linho, tomando a forma de paninhos de mesa, jogos de jantar e
diversos outros utensílios", revela Maria Amélia.
Sobre as fotos, Dalton
diz que, ao tempo em que fotografa, também exercita o olhar. “Gosto de
fotografar o incomum. Neste trabalho do projeto ‘Tecendo a Manhã’, procuro registrar as
singelas fachadas, os encontros, os lugares, a luz.”
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