Olívia de Cássia – jornalista
Uma caneca quente de chá de laranja, hortelã e
menta pode me aliviar a dificuldade de respirar nesse fim de noite: são
problemas de quem sofre de alergia e tem que passar por isso quase sempre. Um
pensamento me interrompe o raciocínio da tentativa de dormir, já que agora há
pouco eu dava cochilos no sofá da sala, com a televisão ligada para o nada.
Me deu frio e tento me livrar da sensação ruim que
é a gente não respirar direito e do pensamento de não acolhimento de uma ideia
que passei o dia com ela na cabeça, embora que isso não me pertença, não faça
parte do meu mundo e nem seja da minha conta: isso não é da minha seara, digo
aos meus botões.
Cheguei cedo do jornal, mas não me atrevi a ligar
o notebook. Estava com uma sensação de cansaço tão grande que nem a continuação
da minha leitura eu dei conta agora à noite. Como se algo estivesse pesando em
meus ombros.
Várias tentativas frustradas de marcação de
entrevistas para minha matéria especial de domingo me deixaram um pouco apreensiva:
não tem problema, amanhã eu consigo, mas não era isso que me agoniava o dia
todo.
A gente pensa que conhece as pessoas e passa o
tempo todo com a convicção de que algumas que nos são próximas ou que avaliamos
são do nosso convívio, têm o caráter leve, despojado. Passamos a acreditar no
caráter do bem que essas pessoas possam ter e nos frustramos quando percebemos
o contrário.
Achamos que esses possíveis amigos pensam um pouco
de acordo com nossa linha de pensamentos,
que têm verdades baseadas no bom caráter, nos princípios que fomos
criados; isso se dá apenas porque na nossa rotina elas aparentam concordar um
pouco com nossa avaliação e com nossa
maneira de ver o mundo.
Com o passar do tempo vamos percebemos que não é
assim que a banda toca e que é de bom tom ficar alerta, ser um pouco cautelosa com
aquilo.
Vamos
percebendo algum desvio de caráter ou de comportamento, falo de desvio como uma
forma diferente de pensar a vida, contrário aos ideais e aos dogmas e conceitos
que fomos aprendendo durante a nossa vida e a nossa formação. E nos
decepcionamos quando descobrimos isso.
Mas não estou aqui para julgar ninguém e
determinadas constatações e percepções são até salutares para o nosso
amadurecimento, para que a gente perceba o nosso grau de ingenuidade e crença
nos outros. Isso também não significa que aquela pessoa seja do mal.
Pode ser apenas uma forma diferente de ver a vida,
não tão meiga e nem tão dócil como a gente vai aprendendo. O chá já fez efeito e agora deu calor e
consigo respirar melhor. Boa madrugada!
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