Olívia de Cássia Correia de Cerqueira - Jornalista
Em 11 de julho de 1997 o jornalismo alagoano perdia João Vicente de Feitas Neto, em desastre de avião, na cidade de Santiago, em Cuba, junto com sua esposa, Graça Carvalho. A notícia pegou a todos nós de surpresa e não queríamos acreditar no que estávamos ouvindo. Freitas, nosso companheiro do sindicato, morto. Ele que foi um dos pioneiros do jornalismo alagoano, mudou o curso do sindicalismo em Alagoas, e foi um lutador pelos direitos da cidadania. Tinha se tornado um amante de Cuba, a Ilha de Fidel, onde morreu com sua amada esposa.
Ele era um amigo de todos e me incentivava na continuação do informativo O Beco, da Vieira Perdigão, e na minha participação no jornal O Relâmpago, de União. Acreditava na força do jornalismo alternativo, e sempre que podia me dava umas orientações.
No dia do seu enterro fizemos uma vigília no Sindicato dos Jornalistas e Gracinha, sua sobrinha, colocou as músicas que Freitas mais gostava: “Vermelho”, cantado por Márcia Freire, e a música “Estou apaixonado”, de João Paulo e Daniel. Centenas de pessoas compareceram às últimas homenagens a Freitas. Foi uma comoção geral e não parávamos de chorar e de lembrar da imagem dele e das coisas que Freitas fazia.
Estava sempre envolvido em alguma atividade política, fosse ela qual fosse. A diretoria do Sindicato compareceu ao Aeroporto Zumbi dos Palmares, para esperar o caixão que iria chegar de Cuba, mas nós não acreditávamos ainda naquela notícia, como se fora uma brincadeira de mau gosto.
A imprensa nacional e internacional noticiou a morte do nosso querido amigo, que possuía um currículo invejável, engrossado por sua participação atuante em todas as frentes em defesa da cidadania. Freitas participou de pelo menos 32 congressos e encontros da categoria, em sua área de atuação profissional: o jornalismo, segundo o seu currículo. Além de jornalista Freitas Neto era também advogado e militava no direito trabalhista.
Por uma coincidência do destino, pouco tempo antes de viajar para Cuba, Freitas Neto tinha conversado com meu marido sobre a possibilidade de ele fundar o Sindicato dos Vendedores de Carros, na Praia da Avenida, em Maceió, já tinha até fundamentado um estatuto, porque Freitas acreditava na força do sindicalismo e achava que meu companheiro pudesse se interessar em organizar aquela categoria.
Além do incentivo, Freitas tinha conversado comigo e estava querendo me indicar para trabalhar na Sucursal de União dos Palmares do jornal Gazeta de Alagoas, onde era editor de Municípios. Nesse tempo, meu marido me levava todas as segundas-feiras para as reuniões do Sindicato dos Jornalistas e no final ia me buscar; foi quando fez amizade com meus amigos diretores da entidade.
Nos desfiles do bloco Filhos da Pauta, Freitas não perdia um e já era presença confirmada em todos eles. Irreverente, num dos desfiles, compareceu com um penico na cabeça, cuja foto ficou histórica na nossa categoria. Era uma pessoa inquieta, mas dócil, e lutou, durante toda a sua vida, contra a ditadura militar, pela democratização do País e pela organização da sociedade civil.
Era muito conhecido por causa de seu fusquinha amarelo, que se tornou folclórico em Maceió. No fusca, diziam que ele levava de tudo: roupa, livros, papéis em grande quantidade, comida e que até um gramado tinha no piso, com pés de tomate e coentro, no cantinho esquerdo do banco traseiro. Gostava de dar carona para os amigos, mas o fusquinha, quase sempre estava sem freios, pois o nosso amigo era um pouco desligado. (* Esse texto está publicado em meu blog http://oc-cerqueira.zip.net/arch2008-06-01_2008-06-15.html e farpa parte de um capítulo do meu livro Mosaicos do Tempo, foi escrito em 2004)
quarta-feira, 11 de julho de 2012
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