terça-feira, 10 de julho de 2012

Cinco anos de lutas

Olívia de Cássia – jornalista

Nesta terça-feira, 10 de julho, o jornal Tribuna Independente completa cinco anos de circulação na capital alagoana. Nós que participamos da construção do informativo e que fomos ludibriados por um golpista, temos muito a comemorar, apesar das dificuldades que enfrentamos ainda hoje.

Foram anos de dedicação e luta para levar a informação e para sobreviver no mercado jornalístico alagoano, apesar do calote que jornalistas, gráficos e funcionários da área administrativa do extinto jornal Tribuna de Alagoas sofreram, depois de serem enganados pelos arrendatários do antigo jornal.

Tudo começou quando os funcionários da antiga Tribuna de Alagoas estavam com dois meses de salários atrasados e das desculpas esfarrapadas dos antigos patrões: Ronaldo Lessa e Robert Lyra, representados pelos seus testas-de-ferro Vorney Mendes e Geraldo Lessa.

Esses agravantes fizeram com que jornalistas, gráficos e pessoal dá área administrativa do jornal resolvessem cruzar os braços e fizessem uma vigília em frente à empresa, no dia 16 de janeiro de 2007, para aguardarem que os salários fossem pagos.

O protesto teve o apoio dos sindicatos dos jornalistas e dos gráficos que deram o suporte político e logístico para as reivindicações dos trabalhadores que fizeram um acampamento em frente à empresa. A mobilização teve início numa sexta-feira, dia em que nos jornais são finalizadas duas edições de fim de semana: a de sábado e a de domingo.

Nessa época o diretor de jornalismo era o jornalista Manoel Miranda, que tentava o tempo todo convencer os trabalhadores que deveriam voltar aos postos de trabalho, pois o pagamento dos salários estava a caminho, coisa que não aconteceu. Era só conversa fiada, uma forma de ganhar tempo e embromar os jornalistas, gráficos e demais funcionários.

MOBILIZAÇÃO

A assembleia realizada pelos trabalhadores ficou definido que ninguém voltaria ao trabalho até que os salários fossem pagos e que os trabalhadores da empresa não arredariam o pé dali. A luta iria continuar. O horário para o fechamento do jornal foi se expirando e com o passar das horas todos começaram a perceber que aquela batalha estava apenas começando.

No fim da noite foi feita uma consulta e decidido o piquete para o dia seguinte. Com o passar dos dias, o movimento foi se fortalecendo em busca de saídas para aquela greve e foi nascendo a necessidade de colocar para a sociedade o que estava acontecendo com os trabalhadores da empresa.

Foram dias e noites de vigília, os turnos eram revezados na grama em frente ao prédio, com receio de que os empresários não dilapidassem o patrimônio do jornal, que na prática pertence ao Banco do Nordeste. A toda hora surgia uma notícia diferente. As entidades de classe colocaram faixas e carro de som para denunciar aquele calote. O que foi feito com a empresa e com os 140 trabalhadores, largados na rua da amargura.

Os débitos que a empresa tinha contraído com seus fornecedores, os gastos excessivos dos diretores com farras, viagens de lazer para a Europa e uso de cartão institucional sem limite foram os fatores que levaram à falência da empresa, na fase administrada por Geraldoo Lessa e Bob Lyra. A Tribuna de Alagoas foi à bancarrota.

Em uma assembleia decisiva e diante daquela crise instaurada, os jornalistas e gráficos decidiram invadir o prédio e fazer ocupação; como consequência iriam fazer edições semanais para que fossem distribuídas nos atos, piquetes e mobilizações que fossem feitas na rua, em frente à Nagoya, empresa do empresário Bob Lyra e nos sinais de trânsito, colocando para a sociedade alagoana toda aquela situação constrangedora que estavam passando.

A determinação foi aproveitar o material humano e o papel que ainda tinha na empresa e todo domingo passaram a finalizar as edições, com apoio da sociedade civil alagoana, de alguns parceiros que foram prestar solidariedade àqueles trabalhadores e familiares.

Além dessas edições e dos piquetes, foi elaborado um blog que era atualizado diariamente com postagens dos relatos do dia e fotos onde eram postadas inúmeras mensagens de apoio e comentários sobre todo aquele processo. As edições semanais da Tribuna Independente, ora saiam aos domingos e outras vezes na segunda-feira, de acordo com o que desse para fazer.

APOIO

O movimento, as lutas e decisões que eram aprovadas em assembleias e reuniões foram divulgados nacionalmente e os trabalhadores receberam a solidariedade da Federação Nacional dos Jornalistas e sindicatos de todo o País.

Alguns funcionários dormiam na sala do setor comercial e revezavam os turnos. De manhã os sindicatos providenciavam o café. O almoço era na churrascaria ao lado da empresa.

Na primeira manifestação que foi feita na Avenida Fernandes Lima, em frente à Nagoya Veículos, o trânsito foi interrompido de um lado da pista, com faixas, carro de som e a distribuição da edição do jornal Tribuna Independente. Nossa primeira edição semanal causou um reboliço na cidade.

Quando as primeiras edições semanais foram saindo, os trabalhadores iam para os sinais de trânsito para vender o produto colocando o desabafo para a população. Nessa fase receberam muito apoio e a ideia da criação de uma cooperativa que reunisse as duas categorias foi tomando fôlego. Para que isso acontecesse era necessário ter o aval dos donos do prédio (a família Farias) e do Banco do Nordeste (financiador do maquinário do jornal).

JORGRAF

Com garra, coragem e resistência, sob o comando dos trabalhadores e depois de discussões sobre uma alternativa de reinserção no mercado de trabalho, nascia a Jorgraf – Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos de Alagoas que teria como principal produto o jornal Tribuna Independente, cuja primeira edição diária passou a circular no estado no dia 10 de julho de 2007, com um coquetel de lançamento nas dependências da empresa.

Passados cinco anos desde aquele início conturbado, pode-se dizer que apensar das muitas dificuldades o jornal está consolidado, garantiu os postos de trabalho para aqueles que quiseram continuar no projeto e se engajar na proposta do cooperativismo.
A Tribuna Independente ganhou a credibilidade e respeito dos leitores alagoanos.

É o primeiro jornal de uma cooperativa no Brasil e quiçá no mundo envolvendo duas categorias: jornalistas e gráficos, abrindo nacionalmente o comando para outros empreendimentos semelhantes. Também estamos comemorando neste dia 10 um ano do site Tribuna Hoje.

A Tribuna Independente, carro-chefe da cooperativa Jorgraf, circula diariamente com 20 páginas e aos domingos com 24 páginas e conta hoje com diversos parceiros de linhas ideológicas variadas: quem quiser se engajar nessa proposta será bem-vindo.

A criação da TI foi o coroamento de todo o esforço coletivo dos profissionais mostrando que é possível os trabalhadores gerenciarem uma empresa, sem patrões.

Apesar disso todos reconhecem as dificuldades que enfrentam diariamente, mas com esforço e dedicação da maioria sabem que estão fazendo história porque foram pioneiros nessa modalidade no Brasil.

Depois de abandonados à própria sorte pelos antigos administradores, ou era isso ou cada um ia tocar sua vida como achasse melhor. As perspectivas de crescimento da Tribuna Independente e a ampliação na oferta de produtos aos leitores, como a criação do Tribuna Hoje e de e outros serviços de comunicação são concretizações nossas.

Cinco anos passados desde o calote recebido, a greve, ocupação e circulação da primeira edição diária da TI, a Justiça do Trabalho, até agora não se posicionou favorável aos trabalhadores da extinta Tribuna de Alagoas, que até agora amargam o não-recebimento das verbas indenizatórias a que têm direito.

A Justiça não reconheceu os antigos gestores como proprietários que enganaram os trabalhadores e ainda retirou o nome de um dos acusados no golpe, o sr. Robert Lyra do processo trabalhista.

Cinco anos se passaram sem que os trabalhadores tenham recebido um centavo sequer do que têm direito. E eu pergunto: é justo isso? Enquanto ainda hoje amargamos endividamento de nossas vidas, quem nos deve está aí à solta, livre para se candidatar a cargos eletivos e sem compromisso com ninguém. Pense nisso!

Um comentário:

LEIA E ASSINE TRIBUNA INDEPENDENTE disse...

TEMOS TÃO SOMENTE QUE AGRADECER.
DEUS OBRIGADA POR TER NOS DADO A GRAÇA DE CONTINUAR NESSE CAMINHO. UNIDOS NUM MESMO OBJETIVO QUE É LEVAR AOS LEITORES A INFORMAÇÃO COM RESPEITO, CREDIBILIDADE, DIGNIDADE E ACIMA DE TUDO ISENÇÃO.

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...