Olívia de Cássia – jornalista
Chove lá fora. O vento frio não me faz bem; tenho que sair de casa mesmo assim. Em dias como esse fico imaginando aqueles bons romances que a gente devora debaixo de cobertas quentes e limpas.
A chuva tem cheiro de saudade. Lembranças que muitas vezes não são tão felizes, mas o tempo agora é de evocar boas lembranças do tempo da meninice.
Do banho de chuva na rua, nas biqueiras das casas, de catar sapinhos pequenos que brotavam nessa época em União, na Rua da Ponte, quando não era ainda pavimentada, das chuvas de bolinhas de gelo que nos encantava e do ralhar da minha mãe quando descobria nossas traquinagens de menina arteira.
O Rio Mundaú ficava encorpado despertando a curiosidade dos moradores que iam para a ponte vê-lo correr velozmente, barrento, levando baronesas e os moleques que pulavam da ponte fazendo festa.
Nos fundos da nossa casa da Rua da Ponte tinha uma lagoa de águas represadas e poluídas que criava um matinho verde.
Minha mãe ia marcando com uma pequena vareta para medir o nível do Mundaú subindo, pois as águas que ficavam ali iam subindo também. A lagoa ficava entre as casas da Rua da Ponte, do lado esquerdo e a Fazenda Jurema.
Nessa época minha mãe não dormia, preocupada com enchentes do rio, o nosso amado Mundaú. Quem está acostumado a vê-lo seco no verão, se surpreende com o volume das águas que recebe em época em tempo chuvoso.
Tenho saudade do cheiro do mato da Barriguda, parece que ficou nas nossas entranhas. As lembranças e a saudade dos bons tempos vividos têm cheiro. Quem não teve infância não sabe o que é isso.
A gente do interior tem muita coisa para lembrar. E a chuva persistente lá fora insiste em trazer lembranças que a gente não pode trazer de volta. Lembranças boas da juventude, dos sonhos que a gente tinha de transformar o mundo com nossas ideias e nossos ideais.
Para nós não importava as intempéries do tempo, estávamos lá, reunidos, na chuva, no sol, cantando, contando histórias, ouvindo músicas e vivendo. Vivendo a vida. Cheiro de saudade.
terça-feira, 31 de julho de 2012
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