quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Estou sozinha no mundo


Olívia de Cássia - jornalista

Estou sozinha no mundo; não tenho medo da solidão, eu tenho medo é de um dia ficar dependendo de terceiros e não mais poder ser eu mesma. Por que depender de outras pessoas para as tarefas mais corriqueiras, simples e pessoais deve ser a pior coisa na vida para uma pessoa que, assim como eu, está acostumada a se virar sozinha. A gente se sente pequena, sem chances, sem metas, sem chão.
Eu sei que por causa da ataxia, esse problema hereditário da minha família, a tendência é essa: eu ir piorando, enfraquecendo, me tornando um ser fraco, debilitado, quase vegetativo. Esse problema não tem cura, tem tratamentos paliativos.
A degeneração dos membros superiores e inferiores, da fala e da visão é coisa certa nesses casos; minha esperança é que o agravamento do problema demore muito a chegar para mim e que eu não tenha que ser mais carente do que já sou, mais dependente, de tudo e de todos.
Já apresento várias debilidades agora e reconheço que tenho muitas fragilidades nas tarefas práticas na vida. Falta-me equilíbrio para andar, vestir uma calça comprida, ver um filme de legenda. As pernas estão fracas. Já não sou uma mulher que toma a frente das tarefas domésticas, tenho a certeza de que preciso de alguém para me ajudar com elas.
Serviços de manutenção da casa, reparos, alguns impedimentos ou entraves que me aparecem sempre me põem em polvorosa, em agonia, sem chão e procuro recorrer a outras pessoas para me socorrerem. É sempre assim. Por mais que eu tenha lutado para tomar conta de mim, hoje já não tenho tanta força para lutar, para seguir em frente sem medo da vida. E isso tem me entristecido bastante.
Tenho alguns medos, não sou tão forte como foi minha saudosa mãe. Ela sim não tinha medo de nada. Mas eu não sou assim, puxei mais ao meu pai, que tinha um lado mais sensível e mais dependente dos outros, embora ele tenha sido um guerreiro que lutou pela sua sobrevivência e a de toda a família.
Quando veio o problema da ataxia, meu pai teve que se render aos cuidados da minha mãe e do meu irmão, em União dos Palmares, teve que se conformar com a situação. Mas pelo menos teve quem cuidasse do seu debilitado corpo; eu não terei, pelo menos voluntariamente.
E é por conhecer muito de perto essa estranha realidade desse problema neurológico que ultimamente dei para pensar nessa minha vida tão desorganizada, tão sem rumo e cheia de inseguranças, inseguranças que estão me deixando mais frágil nessa minha vida já tão cheia de questionamentos e incertezas.
Eu não soube ser firme e não consegui me firmar na vida, tocá-la de uma forma que me desse o conforto que minha mãe tanto desejava para mim. Reconheço que devo tê-la decepcionado muito, também e até nesse lado e isso me põe inquieta, pensante. O que será feito da vida? São tantas as interrogações que me vêm à cabeça que não sei como fazer para me livrar de tanta preocupação que me chega quando me ponho a pensar o que vai ser feito de mim.

2 comentários:

Ivone disse...

Olivia de Cássia, lindo nome, poético, expressivo e forte. Pessoa linda, criativa, inteligente, corajosa em pensamento e ações. Filha de pais Guereiros, responsáveis e amáveis com todos. Mulher sexo forte e divino.Você é a expressão real da vida. Sua vida é um Ser formado do átma, você é uma Centelha Divina e isso já é o tudo é a beleza, é a felicidade, o amor, a luz, a segurança.
Há uma expressão que precisamos nos perquntar e ao mesmo nos responder: QUEM SOU EU? DE ONDE VIM E PARA ONDE VOU? o SEU coração lhe responderá amorosamente daí a solidão não terá fará morada em você.
Deus está dentro de Você, em todos seus momentos . Lembre-se que voce é o altar do Senhor Deus, logo, precisas zelar por este altar com amor e satisfação. ANAMASTÊ!!!!!!!!

Olívia de Cássia Cerqueira disse...

Obrigada.

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