quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Moradores da Vila Nossa Senhora do Carmo reclamam de descaso

Um ano e sete meses depois de explosão apenas sete famílias retornaram para caso

Olívia de Cássia - Repórter - Tribuna Independente
Um ano e sete meses depois da explosão de um silo do Moinho Motrisa, que atingiu 26 casas na Vila Nossa Senhora do Carmo, na Avenida Comendador Leão, no bairro do Poço, em Maceió, no dia 7 de abril de 2014, apenas sete moradores voltaram para suas casas e todos os proprietários dos imóveis atingidos aguardam o reparo que ainda não foi feito pela empresa, segundo eles.
Um ano e sete meses depois da explosão de um silo do Moinho Motrisa, que atingiu 26 casas na Vila Nossa Senhora do Carmo, na Avenida Comendador Leão, no bairro do Poço, em Maceió, no dia 7 de abril de 2014, apenas sete moradores voltaram para suas casas (Fotos: Adailson Calheiros)
A reportagem fez uma visita na tarde desta quarta-feira ao local e conversou com duas moradoras que revelaram apreensão e medo de que aconteça outro desabamento no Moinho. Dona Telma Cedrim disse que a sua casa está toda rachada, teto de gesso com fendas enormes e outros problemas.
Ela ainda não voltou para a vila e estava no local acompanhando dois pedreiros que foram olhar as rachaduras. Dona Telma mostrou cada cômodo do seu imóvel e disse que as pessoas das sete casas que retornaram são as que moram do lado oposto. 
Dona Telma Cedrim disse que a sua casa está toda rachada, teto de gesso com fendas enormes e outros problemas
“No meu caso, que moro muito próximo ao moinho, a minha casa rachou toda. O que foi de laje ela foi rachada. O que eu quero é que o Moinho deixe a minha casa do jeito que estava para eu voltar a morar. Não quero nada além disso; quero voltar para minha casa com segurança”, disse ela.
A proprietária do imóvel atingido na explosão do moinho disse que levou o pedreiro para ele ver a situação. “O Gesso e  uma parede atrás racharam, a casa está toda deteriorada, meus móveis estão se acabando, já joguei alguns no lixo; a gente não está de favor”, pontua.
Segundo ela, no dia do acidente, os moradores estavam numa tarde dentro de casa quando tudo desabou. “Eu não fui culpada. A manutenção da minha casa eu faço, mas a do Moinho, não. A vida dos proprietários da empresa continua a mesma, mas a minha mudou: eu não tenho mais a minha casa para retornar”, reclamou
Dona Telma Cedrim é moradora da Vila Nossa Senhora do Carmo há 40 anos: “Tenho meu pai enfartado, que teve que sair às pressas. Todo dia ele pergunta quando volta para casa. E esse emocional nosso, quem vai arcar?” indaga.
A moradora reforçou que não está pedindo favor e que não quer que a empresa construa uma parede que não tinha. “Eu quero que deixe minha casa limpa, pintada, com tudo feito para poder eu voltar: não quero mais nada, a não ser isso”, repete.
Segundo Telma Cedrim, um dos representantes da empresa perguntou quem teria dito que foi um acidente o que aconteceu com os moradores da vila. Enquanto ela mostrava as condições de seu imóvel, com a mobília coberta de poeira e mofo, sem manutenção, trabalhadores estavam fazendo serviço em um silo, atrás do moinho.
 “No dia do acidente, a poeira tomou conta de tudo e meu pai pensava que estava pegando fogo o moinho. Os móveis estão mofando, minha poltrona que comprei caríssima, está toda mofando”, reclamou.
Dona Neide Saraiva disse que passou oito meses fora, na Desembargador Mário Guimarães, mas voltou para ver a situação da casa, com dois meses que não visitava o local e quando chegou os armários estavam sendo destruídos pelos cupins, o teto impregnado desses insetos e outros problemas, aí resolveu voltar.
Dona Neide Saraiva disse que passou oito meses fora, na Desembargador Mário Guimarães, mas voltou para ver a situação da casa
 “Vim no Moinho, pedi um caminhão para fazer a mudança, estava morando numa casa que não é minha e meu imóvel se acabando. Eles (funcionários do MM) foram atenciosos, me deram um caminhão, mas minha casa está com problemas. O perito não quer que eu use a minha cozinha, por causa dos rachões”, ressaltou.
Outro problema apontado por dona Neide Saraiva é o de uma casa abandonada vizinha ao seu imóvel. “Dizem que já é do moinho, mas está abandonada há muitos anos, as raízes das árvores também estão afetando a minha cozinha; o terraço está se abrindo e meu filho não quer nem que eu estenda roupa aqui, com medo de que a parede caia em cima de mim e eu morra soterrada”, explicou.
Segundo dona Neide Saraiva, o Moinho ainda não tomou providências com relação ao seu imóvel. Para voltar a morar, ela disse que fez alguns reparos por conta própria, mas os rachões que estão no imóvel são grandes como a reportagem pode constatar.
A moradora disse que tem medo que aconteça outro acidente, principalmente à noite. “Tem uma parece ali que o piso cedeu e a parede está pensa, o oitão abrindo, então eu tenho medo de desabamento, principalmente quando a pessoa está dormindo”, observa
Segundo dona Neide Saraiva, a informação que circula entre os moradores é que o Moinho vai suspender os aluguéis. “Por isso que vim embora, felizmente meu filho está morando comigo”, disse ela.  
Já os comerciantes que ficam na rua de frete ao Moinho entraram com uma ação separada cobrando indenização. Os comerciantes ficaram 21dias sem abrir as lojas e por isso entraram na Justiça. Segundo um deles, que não quiseram se identificar, o Moinho indenizou uns poucos, com quantias pequenas.
“Fomos afetados, mas eles não pagaram a gente; passamos 21 dias fechados, depois 17 dias interditados, mas na verdade, deixamos para lá”, disse seu Silva.
Juiz da 4ª Vara faz inspeção em casas atingidas
Na manhã desta quarta-feira, 4, o juiz Marcelo Tadeu, da 4ª Vara Civil da capital, fez uma visita de inspeção às casas atingidas pelo desmoronamento do silo do Moinho Motrisa, acompanhado de um perito.
A visita teria sido solicitada pela defesa do Moinho. Em conversa por telefone ele disse que a visita foi para detectar a habitabilidade das casas e retorno dos moradores, dentro de 30 dias.
O magistrado disse ainda que algumas residências já podem ser habitadas e depois desta visita vai sentenciar a decisão, já que terá mais subsídios para amparar sua decisão. “A primeira casa (do lado esquerdo de quem entra na vila) está toda danificada, estruturalmente falando, com infiltrações; foi bastante atingida”, explicou.
O magistrado avalia que o Moinho Motrisa vai arcar com as despesas dos moradores atingidos na explosão, mas os danos morais  serão analisados em outra ação. “Estamos aguardando a resposta do juiz, para dizer quem pode e quem não pode voltar”, observou dona Telma Cedrim.
A reportagem tentou ouvir a direção do Moinho Motrisa, até o final da edição da matéria, mas não obteve êxito. 

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