Ex-governador destaca que a humanização do governo fez a diferença em sua gestão
Olívia de Cássia - Repórter
O deputado federal Ronaldo Augusto Lessa Santos (PDT), falou à reportagem em um bate-papo agradável sobre sua atuação política, desde o movimento estudantil; trajetória política, atuação nos movimentos sociais; o período de seu governo e a conjuntura política brasileira, na tarde da última sexta-feira, 4.
Atualmente integrante de seis comissões em Brasília, sendo quatro permanentes, o parlamentar indagado sobre os movimentos que foram para a rua recentemente reivindicar a volta da ditadura; o impeachment da presidente Dilma e outras propostas de atraso, destaca que a diferença dos movimentos sociais liderados por jovens de antes, que iam para rua por reformas políticas, contra a ditadura, contra a falta de liberdade, entre outras bandeiras de luta.
“Eu acho até que está certo combater a corrupção, mas falta essa turma dizer para onde vai. Essa é que é a diferença da população que está sendo conduzida; não tem um posicionamento ideológico, não consegue enxergar que o Estado é muito mais do que o Executivo e o Legislativo”, destaca.
O deputado argumenta que alguns setores da sociedade entendem que todos os problemas estão no Legislativo e não veem que o Judiciário tem problema, por exemplo. Segundo ele, essas pessoas acreditavam que o corrupto era só o agente público.
“Estamos vendo que a malha de corrupção está dentro do próprio corruptor. A gente está vivendo um momento diferenciado, isso também se aflora; acho que é hora de as instituições repensarem: veio um processo de recomeço de democracia, depois da nova Carta Constitucional; acho que avançou o País, mas é preciso aperfeiçoar”, avalia.
O parlamentar do PDT argumenta também que o Congresso Nacional precisa ser mais objetivo e avalia que a postura de setores conservadores do Congresso é uma reação ao que está sendo posto na sociedade.
“Veja só, a gente poderia imaginar o casamento de pessoas do mesmo sexo? Na minha juventude não podia; há duas três décadas isso era quase impossível e hoje já está existindo. E ali o confronto se dá no Congresso, concordo que seja o Congresso mais conservador da história do País, porque uma boa parte foi eleita ou por setores organizados ou financiados”, argumenta.
Na visão do deputado, os setores de esquerda perderam terreno na política, apesar de terem chegado ao poder. “O PT era o simbolismo do que havia de mais esquerda; apesar de o Serra (José Serra-PSDB) insistir que ele (o PT) não passa de um partido socialdemocrata, mas era o mais avançado. Essas coisas surgem e é possível que seja o mais conservador; o próprio Senado diz isso”, revela.
Deputado diz que sociedade precisa discutir e debater todas as questões que estão postas
Segundo o deputado, o país precisa discutir tudo isso, todas essas questões que estão postas. “O fato é que isso tem na sociedade (o conservadorismo) , não sei se está bem equilibrado. A grande camada da população que é a mais pobre, também vota errado. Vota no agronegócio, isso é que é o grande problema”, avalia.
Indagado sobre o conservadorismo e falta de informação da população jovem, que foi às ruas pedir a volta da ditadura militar, Ronaldo Lessa disse que não consegue analisar ainda esse período que a história está vivendo.
“Só com anos passados vamos avaliar isso. Eu acho que a nossa geração, o pós-guerra, que viu Cuba; o Muro de Berlim cair; viu a pílula explodir, a liberação da mulher; a liberação sexual, o mundo crescer, a quebra de preconceito, talvez a nossa geração, que foi tão reprimida, tenha liberado de tal forma que faltou limite. Foi como a Constituição: acho que faltou limite, suponho”.
Ronaldo Lessa, que também foi professor, disse que é importante olhar para trás para construir o futuro e que o político é obrigado a ser um cara que interpreta a sociedade. Ele observou que ficou surpreso quando pessoas estavam se vangloriando quando aprovaram a maioridade penal aos 16 anos.
“Nenhum dos dois era para estar se vangloriando. Nem quem queria não baixar e nem ao contrário. Tem que aumentar a punição pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É triste, porque a gente está pensando em punir a juventude. Então nós fracassamos”, avalia.
Ele comentou sobre os cartazes dos movimentos que foram às ruas pedindo a volta do regime militar. “Aquilo é uma ignorância total de quem não conhece o passado. Não pode pedir o nazismo e a volta da ditadura, isso é falta de conhecimento absoluto da história. É preciso mais do que nunca politizar, democratizar, para poder ultrapassar esse momento que estamos passando”, reforça.
Sobre a postura do senador Aécio Neves (PSDB) que não se conforma em ter perdido a eleição de 2014 ele opina: “É o terceiro turno o que eles querem; acabou o golpe, a questão do impeachment. Para tirar a presidente é preciso que haja uma coisa muito forte; se ela tiver envolvida num ato de corrupção”, explica. Segundo ele, o fato de a economia do país estar passando por problemas não é motivo para tirar a presidente Dilma.
“Teve uma época que Fernando Henrique esteve lá embaixo, Lula também. Todos eles têm altos e baixos. Eu lembro que eu tive impopularidade, logo em um ano e meio de governo; eu fui lá para baixo e a Kátia para ser eleita em 2002 não queria nem que eu tivesse ao lado dela no palanque. Quando chegou perto da eleição, ela já pediu para eu a socorrer em seis meses voltou a minha popularidade”, argumenta.
Lessa avalia que o país criou uma casta bacharelesca
O deputado federal Ronaldo Lessa avalia também que o país criou uma casta “que a gente chama de plutocracia, muito mais bacharelesca do que humanista, com um pessoal mais conservador, e aí é difícil que as instituições se voltem para descobrir as coisas erradas, sejam elas de que lado for: Judiciário, Executivo, Legislativo e o próprio poder econômico. É preciso fortalecer as instituições, ser mais racional, corrigir, melhorar e aperfeiçoar a democracia”, pontua.
Para dar as respostas que a sociedade precisa, o parlamentar destaca que é preciso um esforço de todos os setores. Ele avalia que existe um rancor do pedaço mais atrasado da política, mas entende que houve muitos erros no governo, nos dois mandatos da presidente Dilma e observa que ela tem muita dificuldade de governar, mas que agora está se saindo melhor do que no primeiro mandato.
As dificuldades apontadas pelo parlamentar federal no desempenho da presidente, ele avalia que seja pela não vivência de Dilma na política. “Ela sempre foi mais executiva do que política, sempre esteve no campo mais técnico do que político e humano”, argumenta.
Ainda analisando o momento político, ele reforça que é preciso olhar para trás para não se cometer os mesmos erros: “Os erros maiores cometidos se dão quando não se olha para trás; “aí vem o nazismo, o fascismo, ditaduras, entre outros movimentos conservadores”. Lessa entende que é necessário que tivéssemos a escola falando isso, “a cultura para nos dar identidade e nos ensinar o futuro”, ensina.
Ex-governador destaca as obras que considera mais importante na sua gestão
Como gestor à frente do Governo do Estado 1998-2002, Ronaldo Lessa destaca as obras que considera as mais importantes, pelo porte delas: Aeroporto Zumbi dos Palmares; o Centro de Convenções Rute Cardoso, em Jaraguá; o Palácio Zumbi dos Palmares; a nova Ceasa (Central de Abastecimento); a casa de bombas do Canal do Sertão (Mais de 500 milhões gastos); Hospital da Unidade de Emergência de Arapiraca, entre outros.
Segundo ele, em sua gestão como governador foram feitas centenas de obras em escolas e muitos ginásios esportivos. “Mas o que marcou o nosso governo foi a visão de um novo paradigma. Concurso público passa a ter uma visão depois do meu governo; a questão da humanização; os valores de cidadania; de respeito ao trabalho; as minorias sociais”, pontua.
Militante de causas sociais, o deputado federal destaca que não tinha nenhuma secretaria para tratar da questão das mulheres; dos índios, quilombolas, questões de homofobia, antes da sua gestão: “Tudo isso foi um momento novo que a gente deu ao Estado; a humanização do governo faz a diferença, como o combate à violência”, reforça.
Ex-atleta e engenheiro de profissão, ele conta que começou sua vida política no movimento estudantil, na década de 1960, na universidade, na resistência à ditadura. Ronaldo Lessa destaca que participou também de política desportiva e naquela época o movimento tentava trabalhar três entidades: o teatro (TUA); a Fadu (Federação Alagoana de Desporto Universitário) e o DCE (Diretório Central dos Estudantes).
“Militei num partido clandestino num pequeno período, por dois anos no PCR (Partido Comunista Revolucionário), depois que me formei e resolvi trabalhar mais ajudando ao pessoal da anistia. Na década de 70 trabalhei como engenheiro fora de Alagoas, basicamente no Rio de Janeiro e Paraná e ajudava os presos políticos”, observa.
No final da década de 1970 o deputado federal pelo PDT comenta que entrou no Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro e em 1982 foi eleito pela primeira vez deputado estadual. Em 1988, Ronaldo Lessa lembra que foi eleito vereador por Maceió, em 1992 eleito prefeito e em 1998 governador, tendo sido reconduzido ao cargo em 2002.
“Teve um hiato que fiquei sem mandato, depois de 2006 e só vim me eleger agora, em 2014, como deputado federal, em primeiro mandato. Nesse intervalo que fiquei sem me eleger fui secretário do Ministério do Trabalho, em Brasília e depois para a assessoria do ministro Carlos Lupi”, ressalta.
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