quarta-feira, 16 de junho de 2010


O golpe: o dia em que deu macaco

Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira - bancário *

Em 1964 foi deflagrado o golpe militar no Brasil. Eu tinha nove anos, estudava no Grupo Escolar Rocha Cavalcante. O caminho que seguia sempre para o grupo, era o mais distante, gostava de ir devagar, apreciando a paisagem, e, sem pressa. Subia pela Rua das Pedreiras, chegava na Avenida Monsenhor Clóvis, cheia de amendoeiras e prédios antigos, e, bem em frente à Avenida, a imponente Estação Ferroviária.
A Avenida Monsenhor Clóvis só tinha mão única. O outro lado, que dava para a Estação Ferroviária, era todo de jardins e fontes, que se estendiam até a esquina dos Correios. Num desses prédios (onde hoje é o Bar de Zé Veras), antigamente era a sorveteria de Seu Pedro Cavalcante, marido de Dona Quitéria. Esse Sr. Pedro, era parente de Seu Zuzinha, dono do Muquém. Vizinho tinha um ponto, em outro prédio, de jogo do bicho, que pertencia ao pai de Chico Cordeiro, delegado de trânsito em União.
No fim de março de 1964, mais precisamente no dia 30, antes do Dia “D” (do golpe), notei algo que nunca me saiu da memória, um soldado, com uma metralhadora em punho, estava em cima de uma locomotiva com um comboio vazio. O soldado era o marido da minha tia Osória, o Seu Fernando Freitas. Teria recebido ordens vindas de Maceió, para que o trem não chegasse ao destino final (Maceió). Esse comboio iria para Maceió, para que o pessoal daquela cidade fosse a Recife para o comício de Miguel Arraes. Isso foi no dia 30 de março; no dia 31, foi o golpe.
Numa dessas minhas idas para o grupo, ia eu passando na Avenida, perto do ponto do jogo de bicho, quando Heleno, filho mais velho de Dona Necí (amiga de minha família), me chama, e diz:
- Pepe (apelido que me chamavam), hoje vai dar “macaco” pode jogar todo o dinheiro que você tem aí. Relutei: - Eu só tenho o do lanche. Nunca tinha jogado. Aí fui na tentação. E não é que ganhei? Acertei logo na milhar. Foi seis mil e oitocentos cruzeiros.
Aí menino, prestou não. Quando cheguei em casa com aquela dinheirama, veio logo as perguntas difamatórias. Contei o acontecido, e não acreditaram. Vim pendurado pela orelha, da Rua da Ponte até a casa do pai de Chico Cordeiro (dono da banca), que ficava no fim da Avenida Monsenhor Clóvis, perto dos Correios, para saber realmente se eu tinha ganho todo aquele dinheiro.
Nunca mais eu quis saber de jogar dinheiro em nada. Nem na Mega-Sena eu jogo, ainda hoje tenho trauma. (* Meu irmão mais velho)

Um comentário:

GESTOR DE NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS disse...

Maravilhosa a história, me fez lembrar da minha infância tb.

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