sexta-feira, 11 de junho de 2010


O empreendedor

Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira - bancário

Os negócios do meu pai, graças a Deus, melhoraram muito, e, a expansão do prédio para armazenamento das mercadorias (que era essencial), estava mais que evidente. Antes da nossa mudança para a nova casa, minha mãe fez-me uma grata surpresa. Passei para o terceiro ano primário com as melhores notas da minha turma no Rocha Cavalcante. Ganhei de presente um velocípede todo de metal (não tinha de plástico na minha época), todo vermelho, a coisa mais linda do mundo. O brinquedo era tão bom, que brincávamos eu e meu irmão Petrônio ao mesmo tempo.
Nós nos mudamos e perto da nossa nova casa tinha a Praça Costa Rêgo; de lado, o imponente prédio do Rocha Cavalcante. Era na calçada do Rocha que gostava de brincar, pois era cheia de curvas. Num dia desses, chegou me interpelando uma vizinha que mora ainda hoje na Praça Costa Rêgo, o porquê de eu não deixar o filho dela brincar com meu velocípede. Eu, que não era lá nenhum diplomata, respondi rispidamente e ela partiu pra cima de mim pra tomar o meu brinquedo, quando, de repente, ela não esperava pela minha reação e meti um tijolo nas pernas dela.
Pela primeira vez, a reação na minha casa foi de apoio para mim; naquele dia não apanhei. Sempre que vou a União dos Palmares eu passo por lá e converso com ela e os seus vizinhos:só não sei se ainda lembra do acontecido.
O tempo que moramos nessa Rua (a Presciliano Sarmento), foi um período de mais ou menos dois anos, pois o comércio do meu pai estava se expandindo, e apareceu a oportunidade. Meu pai, para aquela época, tinha uma visão muito boa para comércio (não era letrado), agregou valores, e com isso, aumentou o comércio.
Comprava milho, algodão (quanta fartura, naquela época), fava, feijão. Todo tipo de cereais que aparecia. Tinha que ter dinheiro em espécie para tocar os negócios. Ele notava que, quando o matuto trazia cereais para vender na cidade, era a sobra da produção que o agricultor vendia para comprar os outros gêneros de primeira necessidade.
Foi aí que a idéia de quem não tinha estudo brilhou: por que não botar uma bodega (Mercearia) pra vender aos matutos? Os mesmos recebiam pelas mercadorias, e iam comprar em outros lugares da cidade. Como diz o ditado, foi a faca e o queijo no prato; tudo deu certo e aí o comércio prosperou. O capital de giro que papai possuía, devia ser de bom tamanho (bela quantia), pois, passava todo o inverno vendendo fiado (a crédito) para a matutada que pagava só no verão com os cereais produzidos.
Uns vizinhos nossos, que ainda eram parentes do meu avô materno, tinham um armazém e duas casas pra vender, num lugar estratégico para o comércio do meu pai. Com o incentivo de minha mãe, não sei como foi que fizeram, mas meu pai comprou tudo.
Desde pequeno, eu tinha, e tenho uma fraqueza. É gostar de dinheiro. Quando pequeno não media esforços para consegui-lo (honestamente). Meu pai dava todos os dias para o lanche no Grupo Escolar. Nunca me faltou a mesada (graças a Deus). Só que eu vi num negócio que ninguém fazia um meio de ganhar mais um por fora; era juntar garrafas quebradas e ferro velho para vender.
Todos os dias, depois que fazia as lições escolares, partia eu com um carro de mão para o lixão da cidade que não ficava muito longe de onde morávamos. Não era orgulhoso, e não ligava para o que as pessoas diziam (que não precisava daquilo). Passei mais de um ano nessa luta, juntando tudo no quintal do armazém de meu pai.
Quando chegou o grande dia, eu pensei comigo mesmo: ‘agora estou feito, vou ganhar um dinheirinho extra’. Vocês não acreditam, foram seis toneladas de vidro e ferro velho. Naquela época a maior cédula do cruzeiro (moeda da época), era a cédula de dez mil cruzeiros com a estampa de Santos Dumont. Em sequência vinha a cinco mil cruzeiros com estampa de Tiradentes. Sabe quanto foi que recebi? Seis mil e oitocentos cruzeiros, pagos por Zé Pintor (pai de Cordeirinho). Imaginem só a alegria. Já estava planejando começar de novo, quando de repente entrou minha mãe na conversa, e, sobrou pra mim. Pegou todo o dinheiro que ganhei e disse: ‘vou compra roupas pra vocês’.
Fiquei revoltado com a atitude de minha mãe, e com isso, também veio a preguiça pra ajudar nos dias de feira, tanto na bodega como no armazém. (* É meu irmão mais velho)

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