terça-feira, 15 de junho de 2010

Viva São João!

Olívia de Cássia – jornalista

Hoje o Brasil enfrenta a Coreia do Norte, em jogo que será disputado logo mais à tarde. O clima na rua é de feriado. Tomara que cheguemos ao Hexa, mas nem posso comemorar porque tenho que ir pra Tribuna Independente, no máximo depois do primeiro tempo.
Mas agora eu quero falar de festas juninas, que por aqui, não têm o mesmo sabor das nossas antigas festas tradicionais, com fogueira, arrasta-pé, muita comida típica e forró dos bons, lá na Praça Basiliano Sarmento, em União, na Festa do Milho ou na rua mesmo, quando éramos criança.
No interior, nessa época do ano, as moças faziam simpatias para Santo Antônio, o santo casamenteiro. Tinha a brincadeira da faca no tronco da bananeira, dos pingos de vela numa bacia com água para ver se se formava o nome ou inicial do futuro marido, a da aliança no cabelo dentro de um copo, para saber se realmente casavam e muitas outras brincadeiras próprias da época que eu não participava e achava tudo besteira.
Minha mãe fazia para mim vestidos com muitas estampas e bolsos dos lados para que eu colocasse os artefatos infantis de pólvora: traques, chuvinhas, estalos bebes e outros. Numa dessas festas, quando amanheceu o dia, a fogueira ainda estava queimando, algumas brasas apenas.
Fiquei de cócoras para acender uma chuvinha e pegou fogo no meu vestido. Não contei história entrei correndo, tirei a roupa e escondi o que sobrou debaixo do meu colchão. Quando mamãe descobriu o que foi feito do vestido, eu não preciso nem dizer...
Naquela época, ao redor da fogueira, o povo se reunia para contar histórias e adivinhações, comer milho assado e cozinhado. Uma brincadeira e tradição que estão se perdendo e com tendência a acabar, a não ser em cidades como Caruaru e Campina Grande, onde a tradição ainda é preservada e parece que ali, sim, não vai acabar nunca.
Agora a investida é contra as tradicionais fogueiras juninas. Já existe até projeto de lei por conta da devastação ambiental. Não se pensava antigamente que o corte das árvores fosse causar o desmatamento como estão alegando agora para proibir as fogueiras. Essa tradição acontece apenas uma vez no ano e acho que não é isso que causa o desmatamento da nossa Mata Atlântica.
Eu tenho a opinião de que ao invés do fim da tradição deveria se estipular uma meta: para cada árvore cortada, duas ou três fossem plantadas. Até por que, em muitos casos, lá no interior, o corte dos galhos para as fogueiras eram daqueles, em sua maioria, que estavam sobrando e necessitavam de podas, os excedentes.
Por que se pensar em uma atitude radical do fim de uma tradição tão bonita se a gente pode ter alguma alternativa coerente? Se fosse uma tradição perniciosa e assassina como a farra dos bois, eu já não diria nada e concordaria, mas essa das nossas fogueiras tem uma solução: vamos replantar, despoluir, repovoar os rios, não jogar lixo nas encostas e córregos, vamos preservar e não destruir.

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