terça-feira, 8 de junho de 2010

De volta à infância

Olívia de Cássia – jornalista

A gente era pequenina, gostava de brincar de roda, de pular corda, de pega-ladrão, de ciranda cirandinha, de casinha, avião e outras brincadeiras da infância da década de 60. A Rua da Ponte não era pavimentada e quando chovia muito ficávamos na chuva brincando; ninguém pensava em contrair doenças.
Eu tomava muito banho de chuva nas biqueiras das casas, catando sapinhos pequenos com meu irmão Paulinho. Era uma brincadeira que gostávamos muito de fazer e quando chovia granizo também íamos para a rua catar aquelas bolinhas de gelo e nos divertíamos muito com tudo aquilo.
No fundo do armazém do meu pai tinha uma goiabeira enorme que dava pra gente ficar em cima, por horas a fio, comendo aquelas frutas gostosas e confidenciando segredos da infância com a amiga Mariza Matias, irmã do meu amigo Quitério Matias, ou tomando banho no Mundaú com as outras amigas da infância.
Quando ia pro Rio Mundaú tomar banho ou acompanhar alguma vizinha que ia lavar roupa ou prato, eu ficava escutando as conversas daquelas mulheres, cujo repertório quase sempre era enorme, e se referia, na maioria das vezes, à vida da vizinhança.
Eu vivia pela vizinhança ou na casa dos meus avós Manoel e Olívia e não parava em casa, o que rendia muitas críticas da minha tia Osória Paes, irmã mais nova de minha mãe, que quase sempre dizia:
– Antônia, essa menina vive muito solta na rua, gosta de ficar com os meninos da vizinhança, pode aprender safadeza com eles.
Um dia, por conta dessas brincadeiras de boneca com meninos e meninas da vizinhança, e de uma das reclamações da minha tia, levei uma surra danada de mamãe e outra de meu pai, que quase nunca me batia.
Como se não bastasse isso, certa feita peguei uma briga com uma vizinha que era colega de escola no Rocha Cavalcante e apanhei muito da menina que era mais velha e bem maior que eu.
Foram todos os meninos e meninas da escola me acompanhar até em casa, na Rua da Ponte e quando cheguei casa foi um labafero desgraçado. Fiquei com a garganta doendo por muitos dias de tanto aperto que levei.
Foi a única pessoa que nunca mais eu fiz as pazes, que eu me lembre, não que eu não quisesse, mas a vida tratou de nos separar e ainda hoje eu lembro dessa amiga. Fiquei chateada por muito tempo, mas depois passou.
Quando eu não estava nas brincadeiras com a meninada da Rua da Ponte, estava na casa do meu avô Manoel Paes, ouvindo ele me contar seus causos ou lendo para ele os livrinhos de literatura de cordel que comprava na feira livre de União. Meu avô gostava de ir à Barriguda a pé e uma vez ele passou três dias sumido, causando preocupação à minha avó e minha mãe. Disse que tinha se perdido no mato e que tinha sito vítima das caiporas que tinham pegado ele, mas não se lembrava do que tinha acontecido e contava várias vezes para mim essas histórias.
Seu Francisco, o vizinho da frente da casa do meu avô, tinha uma fabriqueta rústica de confeccionar colchões de palha forrados com chita e nós adorávamos pular em cima das palhas do seu Chico, fazendo a maior folia na casa dele. Depois que saí do Rocha Cavalcante fui estudar no Monsenhor Clóvis. As ladeiras de acesso à escola eram de barro e eu levei vários tombos e quedas em época de chuva. Chegava em minha casa com o fardamento todo sujo de barro, o que causava a ira de minha mãe com aquela sujeira da roupa.
Meu pai dava duro para criar e educar os filhos tinha pouca leitura, mas sabia fazer contas de cabeça muito mais que os filhos que estavam na escola. São tantas as lembranças que tenho da minha infância, que por vezes tenho muita saudade daquele tempo. O melhor tempo do mundo.

3 comentários:

Gagacia disse...

Bom dia Olívia, nada melhor do que essas recordações de nossa infância, elas nós transporta a tempos que se foram e que são inesquecíveis,dá uma saudade danada.
Bjussssss

Renata disse...

tia cal.. ri muitooo, fico ate vendo vendo a voinha falando p/ tia Antônia da sra....
e outra, não consegui imaginar a sra brigando!!! kkkkkkkkkk
=**

Blog do Etevaldo disse...

Boas memórias, Olívia. E bem contadas...

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