sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Quando isso acontece...

Olívia de Cássia – jornalista

Há uma semana meu radar interior está em alerta: alguma coisa não está caindo muito bem em mim e minha cabeça começa a ficar impaciente, confusa: ora me negando ou me acenando positivamente, num inconstante pêndulo que vai se ampliando e que muitas vezes me consome a paciência com quem está de fora e não me entende.

Talvez eu esteja precisando de uma análise mais profunda; sinto-me assim, sempre às vésperas ou quando está acontecendo alguma coisa e ainda não mensurei o que seja. Preciso descobrir o que se passa comigo nesses momentos, para tentar me aquietar diante das insurgências.

Passei esses dias com aquela interpelação; a sensação de atrapalhação no juízo, por conta de algumas produções que eu avalio não renderam como o esperado e quando isso acontece comigo,  me angustio, me culpo, me impaciento; cobro de mim, às vezes me policio demais, é como se uma tempestade estivesse por vir e eu não soubesse acalmá-la.

E só isso para mim já é uma punição interior; quando as cobranças chegam extemporâneas e sem aquele sentimento de pertencimento, de humildade, fazendo com que eu me sinta não acolhida diante de alguma falha, é um castigo, uma tortura.

E parece que quanto mais a gente liga o alerta vermelho, mais constrangimentos vamos sentindo; já me bastam minhas culpas. Minha mãe era uma mulher que não levava desaforos para casa: tinha sempre uma resposta na hora para dar a quem lhe interpelava, fosse de qualquer maneira.

Não tenho essa fortaleza que dona Antônia carregava consigo; puxei mais à condescendência e humildade do meu pai, sem quere ser piegas. Alguns conceitos da vida eu aprendi muito cedo com meus pais; outros eu fui aprendendo com as pancadas que levei da vida e elas não foram poucas e nem miúdas.

De resto me sobrou uma herança indesejada, que me limita e me envelhece a cada dia, sem que eu veja uma solução e tenha que ‘me conformar com meu destino’, política que sempre rechacei. Quando a gente fica vulnerável diante de um problema de saúde, muitas vezes perde o norte da situação.

Tenho um defeito enorme que é não saber guardar meus segredos e às vezes acabo confessando para quem não merece ou não se interessa. É uma estranha mania. Às vezes avalio que é para desabafar e ou encobrir alguma falha ou me sentir mais segura diante das minhas fraquezas.

Sou crítica dos meus erros, porque sei que foram cometidas e quando o foi. Muitas vezes a gente passa a vida errando, querendo acertar, de forma atabalhoada e sem previsão. E como diz Paulo de Tarso de Moraes Souza, ‘na vida a gente está toda hora pagando pelos erros que comete e se beneficiando dos acertos por ventura realizados’.

Tenho tentado acertar de uma forma ou de outra. Escrever é um sacerdócio, uma paixão sem limites.  E quando a gente começa a distinguir aquilo que nos conforta por meio da escrita e da leitura, não há nada melhor que isso.

Diz um ditado que quem gosta de escrever o faz pelo prazer de escrever, sem se preocupar com quem lerá ou se ao menos vão ler, mas pelo menos nós dizemos o que sentimos. Mostramos ao mundo que nesse silêncio todo ainda existem vozes gritando.

No jornalismo devemos ficar atentos a respeito disso e pensar no leitor que está do outro lado; tentar simplificar ao máximo o que dizemos, para não confundir aquele que religiosamente nos seguem ou nos acompanha pelas mídias. De resto, precisamos nos analisar de vez em quando. E quando isso acontece...


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