Olívia de Cássia – Repórter Primeiro Momento
A aprovação do texto principal do projeto que define família
como a união entre homem e mulher, no último dia 24 de setembro, na Câmara dos
Deputados, na avaliação do movimento LGBT alagoano foi um retrocesso. A
comissão aprovou o relatório por 17 votos favoráveis e cinco contrários, mas
quatro destaques ao texto ainda precisam ser aprovados.
Nildo Correia é presidente do Grupo Gay de Alagoas [GGAL]
pelo segundo mandato e está nas mobilizações desde o ano de 1997. Ele comenta
que, infelizmente, a aprovação do Estatuto da Família foi um grande retrocesso
para o movimento LGBT e a luta por direitos humanos.
“Infelizmente o estatuto não vem só tirar os direitos dos
LGBTs, das famílias formadas por pessoas homoafetivas, mas também o direito de
lares comandados por mães e pais solteiros; até netos criados por avós”,
avalia.
Uma das grandes lutas atuais da categoria é tentar
assegurar os direitos dentro das
questões dos planos municipais e estaduais de educação.
“Infelizmente, essa bancada fundamentalista tenta implantar
a ideologia religiosa, querendo, inclusive, conturbar a questão dos direitos de
discutir a diversidade sexual nas escolas; o direito de combate à pedofilia”,
entre outras questões.
O presidente do Grupo Gay de Alagoas também destaca que os
setores conservadores batem muito na questão de que o Plano de Educação que,
segundo ele, objetiva discutir sexualidade e não promiscuidade.
“É uma forma criminosa que eles usam em querer conturbar a
opinião pública e criminalizar os movimentos sociais. Queremos uma política de
qualidade, de combate à pedofilia; a essa sexualidade precoce dos jovens; devemos
discutir, sim sexualidade, para evitar que jovens a partir de 11, 13 anos não
engravidem tão cedo”, destaca.
A discussão da sexualidade entre jovens defendida pelo
movimento, segundo Nildo Correia, é para evitar que as crianças nasçam de pais
precoces, sem hipocrisia; discutir uma política de prevenção das DSTs\Aids; de
prevenção e combate à exploração sexual dos dias de hoje.
Sobre o aumento da transmissão HIV entre pessoas
heterossexuais, ele disse que antes considerada uma doença de homossexuais, atualmente,
o grande número de pessoas infectadas são mulheres heterossexuais, casadas, que
foram infectadas pelos companheiros e maridos que têm relacionamentos fora e
acaba levando o HIV para dentro de casa.
“Essas mulheres, infelizmente, são educadas, mesmo sabendo
que seus maridos são infiéis, a não exigirem o uso do preservativo e um dos
itens desse Estatuto da Família é proibir o uso do preservativo; o uso da
pílula do dia seguinte; proibir a vacina contra o HPV para meninas a partir de
nove anos, dizendo que é uma afronta à família”.
Afronta, na avaliação do presidente do GGAL, “são os homens
heterossexuais, por exemplo, levarem o HIV para suas companheiras; uma menina
nos dias de hoje, aos 11 anos, engravidarem; sendo infectadas por doenças
sexualmente transmissíveis. Isso, sim, eu tenho certeza, que é um afronta à
família”, pontua.
Alagoas ainda é um
dos estados que mais discrimina e mata homossexuais
Nildo Correia avalia que Alagoas é um dos estados que mais
discrimina e mata homossexuais. “Somos o Estado que tem mais vítimas de
homofobia; nos dados de 2014, Maceió aparece como a capital mais vulnerável com
relação a agressões físicas e morais”, destaca.
Ele observa que, segundo estatísticas do Grupo Gay da Bahia,
a população LGBT de Maceió é vulnerável 300 vezes mais, onde a pessoa pode ser
assassinada ou sofrer uma agressão e entende também que há a necessidade de uma
política pública efetiva e afirmativa no Estado no combate a esses crimes
homofóbicos.
RENILDO DOS SANTOS
“Eu posso dizer que o caso de maior repercussão tenha sido o
de Renildo [dos Santos, vereador de Coqueiro Seco, assassinado e decapitado,
esquartejado vivo, em virtude da homofobia], mas nós temos muitos casos como o
do professor no interior, que foi amarrado e arrastado por uma moto, em praça
pública, como um troféu e teve parte do seu corpo esfacelado”, pontua.
Outros casos de violência e truculência contra pessoas que
se relacionam homoafetivamente foram citados por Nildo Correia. Ele destaca que
esses exemplos precisam ser mostrados para a sociedade.
“A realidade dessas pessoas é, como se não bastasse ser uma
vítima, por serem homossexuais: são humilhadas, torturadas, têm a imagem ainda
sendo esfacelada para poder morrer”, reclama.
Nildo explica ainda que outra luta do movimento é contra
toda forma de preconceito no país. “No momento o movimento luta muito para
garantir essa política afirmativa dentro das escolas; contra a homofobia,
contra o femicídio; o racismo e o preconceito contra a diversidade cultural
afro nas escolas ”, reforça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário