Olívia de Cássia – Repórter
Sujeitos à violência, sem alimentação adequada, desnutridos,
sem uma cama quente para dormir e
passando por situações de perigos que as ruas oferecem, moradores de rua,
homens, mulheres e crianças vão perambulando por aí e aumentando as
estatísticas da miséria na capital alagoana rica de belezas naturais.
Além disso, os
moradores de rua são discriminados e rotulados de sujos; nojentos e sem
educação. A maioria das pessoas que vive em situação de rua, segundo os
pesquisadores, tem um passado marcado pela violência; pelo desamparo e por
problemas vivenciados na família.
Nas ruas do Centro de Maceió, principalmente na Praça da
Liberdade, próximo ao Quartel da Polícia, é comum durante o dia a gente encontrar
grupos de crianças cheirando cola de sapateiro e\ou praticando pequenos furtos.
Eles também costumam ficar em frente à Federação Espírita de
Alagoas, onde ganham alguns trocados lavando e tomando conta dos carros que são
estacionados no local; outros perambulam pelas ruas pedindo esmolas para matar
a fome e o torpor provocado pela cola de sapateiro.
Apesar dos programas sociais do governo, essas pessoas
desconhecem as instituições que procuram amenizar as suas dores. Conversei
outro dia com uma moradora de rua, tentei falar com outros na ideia de fazer
uma reportagem a respeito da vida que levam, mas não consegui.
O Alex, que frequenta a rua onde moro e recebe comida e
algum agrado de alguns moradores, não
permitiu que eu o entrevistasse; não quis me contar sua vida. Achou
desinteressante e eu respeitei sua vontade.
Outra moradora, Maria Teresa Santos de Jesus, não fez
oposição à ideia de que eu falasse sobre e contasse sua vida. Ela perambula no
Centro de Maceió e nas imediações da Santa Casa de Misericórdia, ou no Comércio.
Já a encontrei algumas vezes. Me disse que dorme em qualquer lugar; algumas
vezes em portas de lojas.
Foto: Olívia de Cássia
Maria Teresa Santos de Jesus, moradora de rua há 40 anos |
Teresa Santos de Jesus não parece a idade que tem: 55 anos,
negra e de corpo sofrido. Me contou que é moradora de rua há 40 anos e disse
que saiu de casa porque foi muito espancada pelo irmão.
"Eu morava no Benedito
Bentes; meu irmão me espancava e hoje mora lá e não me dá valor”, lamenta. A mulher me faz um relato breve da sua
história e comenta: “Além de apanhar muito do meu irmão, meu padrasto matou
minha mãe, de faca. Isso faz tempo, eu era pequena e tinha oito anos, relata
Teresa em seu drama”, ressalta.
Com os olhos cheios de lágrimas e ameaçando chorar, Maria
Teresa de Jesus diz que é bom a imprensa divulgar as dificuldades que os
moradores de rua enfrentam e que é bom que as pessoas saibam como eles vivem.
“É bom conversar; alivia mais os problemas”, avalia.
Maria Teresa não fala muito sobre a violência que estão
sujeitos, os moradores de rua, principalmente as meninas e mulheres, sujeitas à
violência sexual e ao desrespeito por parte de algumas pessoas insensíveis. Fala apenas da sua situação.
“Eu sobrevivo catando latinha; vendo a três reais o quilo e visto
e como as comidas que as pessoas me dão. Não tenho lugar certo para dormir; durmo
em qualquer lugar: na porta das lojas ou em outro canto; às vezes peço às
pessoas para tomar um banho e minha vida é assim: preciso de remédio por causa
das minhas pernas, tenho problema de circulação”, observa, mostrando as pernas
cheias de varizes grosas.
“Isso é germe em minha perna, preciso de medicamento; a
senhora nunca vai me encontrar andando em companhia de alguém; prefiro estar
só, não é vida para mim andar com aquele pessoal que consome droga, às vezes
eles fazem mal à pessoa”, comenta.
Maria Teresa, como tantas outras mulheres e meninos que
moram nas ruas, tem as marcas dos maus tratos e das intempéries do tempo no
corpo. Ela disse que nunca pediu ajuda do governo e que prefere viver assim,
sozinha.
“Tem três anos que
não tenho contato com minha família; tenho uma filha de 12 anos, Manuela, que
mora no Benedito Bentes, perto do colégio, com a mulher do meu irmão. Eu não
consumo drogas e nem ando com quem consome: é melhor andar sozinha do que mal
acompanhada”, pontua.
Semas possui três
serviços para a população de moradores de rua
Entrei em contato com
a assessoria da Secretaria de Assistência Social de Maceió (Semas) para saber
dos programas que estão sendo oferecidos para essa camada da população. Segundo
os dados do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas), Maceió tem cerca
de mil pessoas em situação de rua.
A maioria delas possui residência fixa, mas encontra na
mendicância uma fonte de renda, por isso acabam passando grande parte do dia
nas vias públicas. Famílias do interior do Estado que vêm até a capital
(principalmente durante as datas, feriados e períodos comemorativos) também
fazem parte desta estatística, segundo a assessoria da Secretaria de
Assistência Social de Maceió (Semas).
Atualmente existem três serviços que atendem às demandas
específicas da população que se encontra em situação de rua no município. São
eles: a Casa de Passagem Manoel Coelho Neto (Albergue Municipal), o Centro de
Referência Especializado Para a População em Situação de Rua (Centro POP) e o
Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas).
“Vale ressaltar que, a partir desses equipamentos, os
usuários podem ser encaminhados aos demais programas da Semas, a exemplo do
Cadastro Único (CadÚnico) para programas sociais. Os encaminhamentos vão
depender do diagnóstico social, feito junto com os usuários, pelos
profissionais desses serviços”, observa.
Foto: Olívia de Cássia
Segundo informações da instituição, a principal dificuldade
encontrada pelos profissionais do Seas, que trabalham diariamente para garantir
os direitos deste público, ainda é o fato de algumas pessoas tentarem
ajudá-los, por meio de mendicância.
A Semas também disponibiliza um número para que a população
contribua com o trabalho realizado pela Secretaria em benefício da população em
situação de rua. Por meio do telefone 0800 284 8048, das 8h às 17h, qualquer
cidadão pode repassar informações sobre famílias ou pessoas isoladas em
situação de vulnerabilidade social nas vias da capital.
Dessa forma, segundo a assessoria, as equipes dos Centros de
Referência Especializados em Assistência Social (Creas) e Centros de Referência
Especializados em População em Situação de Rua, os Centros Pop, são acionadas a
demanda apresentada.
HISTÓRICO
Desde novembro de 2013, a Semas vem trabalhando para
garantir um acompanhamento dos serviços socioassistenciais direcionados à
população que se encontra em vias públicas. Foram criados o Plano Emergencial e
o Grupo de Trabalho Intersetorial Direcionado ao Atendimento à População em
situação de Rua, atualmente ativo e contando com a participação de 11
secretarias municipais.
“A Assistência Social não é contra a doação, mas esta doação
direta para pessoas que estão nas ruas, dificulta o trabalho de reinserção
familiar e de encaminhamentos aos programas socioassistenciais, por parte da
Prefeitura de Maceió. Nós orientamos que a melhor forma de doação seja
destinada para instituições que desenvolvem trabalhos com população de rua”,
enfatizou.
Ainda segundo informações da Secretaria, “o papel da
Prefeitura de Maceió é de sensibilização, orientação e encaminhamento das
pessoas que estão em situação de rua. Após ser constatado o risco social, a
pessoa que se encontra em situação de moradia nas ruas de Maceió conta com a
disponibilidade de diferentes serviços. Entre eles, os relacionados ao
acolhimento institucional, o retorno para a cidade de origem e a reinserção no
meio familiar”, completou.
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