Olívia de Cássia – jornalista
O que passa na cabeça de um jovem, nos dias de hoje, eu ainda
não sei definir. Alguns podem argumentar que há falta de políticas públicas,
cultura e lazer nas comunidades, para integrar a juventude na sociedade e
ocupar as suas mentes e corações. São muitos os argumentos e as linhas de
pensamento que se afiguram.
Nesta fase da vida, grande parte do aprendizado ocorre fora
das áreas protegidas do lar e da religião, a conversa torna-se parte importante
do processo. É verdade que este grupo de pessoas não tem sido contemplado com a
atenção necessária pelos setores sociais e por alguns gestores.
Menos ainda o jovem do campo, que enfrenta enormes
barreiras, principalmente no acesso à educação formal e informações em geral,
apesar de ter havido uma melhora substancial no que diz respeito ao tema.
Estamos vivendo dias complicados, no que diz respeito à
questão da juventude brasileira. Estamos diante de quadros que chegam a
preocupar: uma juventude agressiva, que maltrata morador de rua, que simula
assaltos a pessoas humildes para se divertir ou que se perdeu no mundo da
droga, por problemas diversos, gerados em lares insalubres e com problemas de
relacionamentos.
Entrevistei o psicólogo Roberto Lopes Sales há poucos dias,
para uma reportagem sobre os efeitos do crack no organismo e ouvi do
especialista várias explicações que me convenceram a afirmar que é preciso um
olhar diferenciado para com a nossa juventude.
Os jovens sempre foram vistos como rebeldes e contestadores,
pelo menos os da minha geração: a maioria de nós queria conquistar mundos;
nossa rebeldia era contra valores impostos, a favor da liberdade sexual, da
liberdade de expressão, movimento paz e amor, influenciado pelos hippies e pelo
festival de Woodstock; a rebeldia do rock in roll.
Éramos contestadores de um sistema, vivíamos em plena
ditadura e queríamos ser livres e felizes, mas nosso contexto era mega diferente
do que acontece nos dias de hoje. O que quer a juventude atual, quando esgotadas
todas as suas possibilidades de transgredir e não tem um limite que os impeça
disso, agride pessoas humildes só com o objetivo de ‘tirar onda’?
Recentemente em Maceió tivemos o exemplo de jovens de classe
média que simularam um assalto a um pedreiro, tomaram seu celular e ainda
gravaram um vídeo que foi amplamente compartilhado na internet, nas redes
sociais. À polícia, um deles disse que
tudo não passou de uma brincadeira e que a intenção dos três era fazer uma
'pegadinha' com a vítima.
O que pensar de uma atitude assim¿ Pode ser e é verdade, que
falta política pública para a juventude, equipamentos de cultura e lazer,
gratuitos, em número adequado às
necessidades da grande quantidade de jovens que há nesse país, mas na minha
humilde avaliação, algumas situações são questão de educação, de valores e
princípios mesmo.
Falta humanidade, solidariedade e fraternidade a quem age de
forma agressiva como estamos vendo nos últimos dias. E não é porque é jovem que
tem que se passar a mão por cima e deixar fazer tudo o que quer, sem
repreensão.
Está havendo também, no meu entender, a perda de autoridade
por parte dos pais. Eu não pari, não tive filhos e talvez alguns digam que é
fácil falar quando não se está na pele do outro. Mas antigamente a gente
respeitava pai, mãe, os mais velhos e os professores eram reverenciados como se
fossem da família ou nossos pais.
Mas ainda bem que temos muitas exceções a esses exemplos
perversos e negativos e que nos entristecem. Precisamos acreditar em uma
juventude participativa, rebelde com causa, solidária e que abrace causas de
responsabilidade social, para que o mundo se torne melhor. Fica a reflexão.
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