terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O que passa?

Olívia de Cássia – jornalista

O que passa na cabeça de um jovem, nos dias de hoje, eu ainda não sei definir. Alguns podem argumentar que há falta de políticas públicas, cultura e lazer nas comunidades, para integrar a juventude na sociedade e ocupar as suas mentes e corações. São muitos os argumentos e as linhas de pensamento que se afiguram.

Nesta fase da vida, grande parte do aprendizado ocorre fora das áreas protegidas do lar e da religião, a conversa torna-se parte importante do processo. É verdade que este grupo de pessoas não tem sido contemplado com a atenção necessária pelos setores sociais e por alguns gestores.

Menos ainda o jovem do campo, que enfrenta enormes barreiras, principalmente no acesso à educação formal e informações em geral, apesar de ter havido uma melhora substancial no que diz respeito ao tema.

Estamos vivendo dias complicados, no que diz respeito à questão da juventude brasileira. Estamos diante de quadros que chegam a preocupar: uma juventude agressiva, que maltrata morador de rua, que simula assaltos a pessoas humildes para se divertir ou que se perdeu no mundo da droga, por problemas diversos, gerados em lares insalubres e com problemas de relacionamentos.

Entrevistei o psicólogo Roberto Lopes Sales há poucos dias, para uma reportagem sobre os efeitos do crack no organismo e ouvi do especialista várias explicações que me convenceram a afirmar que é preciso um olhar diferenciado para com a nossa juventude.

Os jovens sempre foram vistos como rebeldes e contestadores, pelo menos os da minha geração: a maioria de nós queria conquistar mundos; nossa rebeldia era contra valores impostos, a favor da liberdade sexual, da liberdade de expressão, movimento paz e amor, influenciado pelos hippies e pelo festival de Woodstock; a rebeldia do rock in roll.

Éramos contestadores de um sistema, vivíamos em plena ditadura e queríamos ser livres e felizes, mas nosso contexto era mega diferente do que acontece nos dias de hoje. O que quer a juventude atual, quando esgotadas todas as suas possibilidades de transgredir e não tem um limite que os impeça disso, agride pessoas humildes só com o objetivo de ‘tirar onda’?

Recentemente em Maceió tivemos o exemplo de jovens de classe média que simularam um assalto a um pedreiro, tomaram seu celular e ainda gravaram um vídeo que foi amplamente compartilhado na internet, nas redes sociais. À polícia, um deles  disse que tudo não passou de uma brincadeira e que a intenção dos três era fazer uma 'pegadinha' com a vítima.

O que pensar de uma atitude assim¿ Pode ser e é verdade, que falta política pública para a juventude, equipamentos de cultura e lazer, gratuitos,  em número adequado às necessidades da grande quantidade de jovens que há nesse país, mas na minha humilde avaliação, algumas situações são questão de educação, de valores e princípios mesmo.

Falta humanidade, solidariedade e fraternidade a quem age de forma agressiva como estamos vendo nos últimos dias. E não é porque é jovem que tem que se passar a mão por cima e deixar fazer tudo o que quer, sem repreensão.

Está havendo também, no meu entender, a perda de autoridade por parte dos pais. Eu não pari, não tive filhos e talvez alguns digam que é fácil falar quando não se está na pele do outro. Mas antigamente a gente respeitava pai, mãe, os mais velhos e os professores eram reverenciados como se fossem da família ou nossos pais.

Mas ainda bem que temos muitas exceções a esses exemplos perversos e negativos e que nos entristecem. Precisamos acreditar em uma juventude participativa, rebelde com causa, solidária e que abrace causas de responsabilidade social, para que o mundo se torne melhor. Fica a reflexão. 

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