Olívia de Cássia – Repórter
Eu ouvia algumas autoridades falarem e ressaltarem as
belezas do Sertão, mas só conhecia aquela realidade dos livros e dos
noticiários: de terra seca, clima semiárido, plantações mortas; apenas a palma servindo de alimentação para o
gado; solo empobrecido e da luta dos sertanejos pela sobrevivência, reforçando
aquela tese de que “o sertanejo é sobretudo um forte”.
Nascida na Zona da Mata, na Terra da Liberdade, até então eu
não tinha ido aqueles lados, de onde, segundo minhas pesquisas, vieram os meus
primeiros ancestrais se espalhando por Capela, União dos Palmares, Murici,
Branquinha, Atalaia e pelos rincões desse país.
Ano passado, por motivo de trabalho, comecei a conhecer
algumas cidades sertanejas e fui me encantando aos poucos pela região. O Sertão
alagoano tem riquezas e belezas variadas e só precisa que os governantes tenham
um olhar especial pelo local.
Este ano tive o privilégio de fazer meu primeiro passeio
pelos cânions do São Francisco, conhecer a hidroelétrica do Xingó e a cidade
lapinha de Piranhas: me apaixonei de imediato e, encantada com tanta beleza, vou voltar ao local sempre que puder.
Não é à toa que falam com tanta paixão do Sertão. Luiz
Gonzaga imortalizou o seu amor pela sua terra, falando do sofrimento de quem
mora na região, devido à escassez de chuvas e solo arenoso e escritores como
Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, que tanto dissertaram em suas obras a
respeito da peleja que é viver em lugar insalubre.
Mas o Sertão não é só de sofrimento e o turismo na região
dos cânions do São Francisco está crescendo e cada dia, atraindo muitos visitantes
ao local. Quem vai fazer o passeio tem vontade de voltar.
Visitei o local no último sábado do mês de fevereiro e é
fascinante quando o catamarã vai se aproximando daqueles paredões, cuja água
represada pelo lago formado depois da construção da usina hidrelétrica não
atinge nem a metade daqueles morros gigantes.
São paredões rochosos gigantescos, onde pedras formam
esculturas naturais, que até parece foram esculpidas pela mão humana. São
morros de pouca vegetação e muito pedregulho, que formam um conjunto harmonioso
com as águas do Velho Chico, um dos rios mais importantes do País e que precisa
de mais cuidado para não morrer e se tornar esgoto, como muitos nos municípios
brasileiros.
O Rio São Francisco atravessa regiões com condições naturais
das mais diversas e tem cinco usinas hidrelétricas. Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas são estados
por onde o rio passa, com sua beleza natural e que enche os olhos de quem vê.
Em Alagoas, as obras do Canal do Sertão aviva a esperança
dos sertanejos, mas preocupa alguns pelo fato de algumas lideranças rurais
avaliarem que as águas vão ser úteis muito mais para grandes fazendeiros. É
preciso que haja fiscalização.
Em Pernambuco, as ações de revitalização do rio São
Francisco envolvem obras de grande alcance ambiental que objetivam barrar a
poluição e o assoreamento do Velho Chico. O
trabalho pretende melhorar as condições de vida da população ribeirinha
dos municípios do raio de atuação da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba.
Segundo informações, as obras integram o Programa de
Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, coordenado pelo
Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Ministério da Integração
Nacional, e outros 14 ministérios, sendo a Codevasf uma das executoras das
ações.
Assim como lá, por aqui aqui é preciso incremento de ações
para que o Velho Chico seja recuperado nas áreas onde já tem assoreamento, para
não prejudicar o povo do Sertão. O programa das cisternas, de autoria do
Governo Federal, ajuda muito, mas é urgente e necessário que se desenvolva
programas alternativos para aliviar a dor dos agricultores daquele lugar. Impossível
não se apaixonar!
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