Olívia de Cássia – jornalista
Nesta segunda-feira de carnaval, em casa, depois de ter ido
ao cinema e ouvindo velhas marchinhas de carnaval, me passa um filme na cabeça
e ainda bem que não são lembranças que me façam mais sofrer.
Felizmente dei a volta por cima, em todo aquele sofrimento
meu, mas de vez em quando é bom a gente rememorar certas passagens da nossa
vida, para que nos sirva de lição e não cometamos mais os mesmos erros.
Naquele tempo de então, eu achava que só seria feliz daquela
forma, com ele do meu lado, me acompanhando para todos os eventos, participando
do meu mundo, da minha vida profissional, até que um dia eu descobri, depois de
quase vinte anos de vida em comum, que não passei de um investimento lucrativo,
um objeto de manipulação, um degrau para a sua ambição desmedida.
No começo de tudo, nossos carnavais, eram muito divertidos;
eu achava que aquele era o centro das minhas atenções. Depois eu comecei a entender
todo o processo; comecei a ser deixada para trás, não servia mais como
companhia e passei a ser evitada.
As desculpas eram as mais esfarrapadas: que durante o
carnaval ia trabalhar, levar parentes do chefe para os balneários e não teria
tempo de ficar em casa; almoços com familiares de mulheres casadas que ele
estava se envolvendo e que só fiquei sabendo depois e outras desculpas pobres
de argumentos.
Toda aquela rejeição me causou muito sofrimento: mas no
fundo do meu coração eu sabia que existiam outras mulheres, outros casos; era tudo
muito doloroso e minha vida se tornou um inferno de Dante; ainda mais, porque
eu via minhas teses feministas irem de ralo abaixo.
Nada do que eu filosofava e apreendia estava sendo colocado
em prática, era tudo ao contrário. Eu queria que aquela realidade não fosse
verdade, minha autoestima era muito baixa, eu não queria acreditar no que as
investigações da minha mãe tinham descoberto.
Era uma trapalhada em cima da outra e todas foram
descobertas: o envolvimento com mulheres casadas, a ida aos motéis de União com
outras e a argumentação dele para que eu não fosse para União nos fins de
semana, cada dia caia por terra.
Era para que eu não soubesse de fato o que acontecia embaixo
do nariz de mamãe, que tratava de me ligar para dar todas as notícias. Dói
demais a gente ser traída, ser passada para traz e feita de idiota. A gente se
sente um lixo e foi aí que todo o processo depressivo teve início.
Se eu não tivesse buscado apoio eu não teria suportado todo
aquele processo dolorido e que me trouxe muito sofrimento e mais baixa
autoestima. Mas tudo agora é passado e já não me faz sofrer tanto assim.
Hoje eu sou mais feliz depois que aprendi a ter um pouco de
amor próprio, a seguir meu rumo apenas me dedicando ao que gosto de fazer:
trabalhar, escrever, ser jornalista. E viva a alegria, o amor próprio, autoestima
e a paz interior, porque é carnaval e a folia pede passagem. Bom restinho de
carnaval para todos.
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