Olívia de Cássia - jornalista
Minha mãe era uma pessoa obstinada e cética em alguns casos.
Quando queria uma coisa ia à luta e ai de quem se atravessasse no caminho dela,
principalmente se o objetivo fosse com relação aos filhos. Se algum menino se aproximasse de mim, ela não
contava história: ia na casa dele e falava com os pais, para pedir que se
afastassem de mim. Ela era assim, possessiva.
Quando terminei o ginásio, no Colégio Cenecista Santa Maria
Madalena, em União dos Palmares, da mesma forma que ela tinha feito com relação
aos meus irmãos, conseguiu uma bolsa de estudos para mim, com a esposa de seu
Ezíquio Correia, então prefeito de União, para que eu estudasse em Maceió e
pudesse ter um trocado para pagar a passagem do ônibus e o lanche.
Vim estudar na Escola Moreira e Silva, no Cepa, para fazer o
Científico, pois queria fazer vestibular e m União, naquela época, só tinha o
curso normal, o pedagógico. Terminei a oitava série ginasial em 1975 e em 76 já
estava na escola, em Maceió. Naquela época, escola pública era valorizada e lá
estudavam muitas lideranças que hoje assumiram cargos importantes no Estado e
na política.
Fui morar numa casinha velha, de poucos recursos, de
propriedade de seu Marinho, um senhor que possuía várias casinhas de aluguel em
Maceió, no Centro e redondezas. A casa já era na Vieira Perdigão, coincidentemente a
rua que moro hoje.
Meus irmãos tinham transformado numa pequena república, onde
abrigava vários estudantes de União, mas quando eu cheguei lá eles saíram e
ficamos eu e meu querido irmão Petrônio, que já cursava o terceiro ano no
Moreira.
Dona Antônia queria ter uma filha médica, custasse o que
custasse, mas essa não era a minha seara e creio que para ela foi a maior
decepção da vida, quando fui reprovada no meu primeiro vestibular, que fiz para
Medicina para agradá-la; anos depois
quando fiz para Comunicação Social e fui aprovada, depois de várias tentativas,
ela não aguentou e desabafou: “O curso é tão ruim que foi o último que
anunciaram na televisão”.
Em 1982, naquela época, o saudoso Luiz Tojal anunciava os
aprovados na Ufal, pela TV Alagoas e falava todos os cursos: Comunicação foi o
último e quando meu nome foi anunciado eu nem acreditei e na casa da minha tia
Ozória caí em prantos.
Fomos para a antiga Reitoria comprar o kit do fera, eu e
minha prima Rejane, que também tinha sido aprovada em Educação Física e no
outro dia, de madrugada, viajamos de trem, devidamente vestidas nas nossas
camisas de fera, para União dos Palmares, cantarolando músicas da MPB.
Lembrar toda aquela fase traz um misto de saudade e contentamento, por
ter realizado meu sonho de ter sido aprovada no curso que eu queria, pois fazer
jornalismo, escrever ou ser escritora era meu sonho da infância, mesmo com as
opiniões contrárias de mamãe.
Os perrengues que passamos na profissão são imensos, mas
quando fazemos aquilo que gostamos, com amor e dedicação, a vida fica mais leve
e podemos dizer que somos felizes, apensar de tudo.
Mas a obstinação da minha mãe não parou e ela continuou a lutar
por aquilo que queria, até quando ficou mais debilitada e colocou uma ideia na
cabeça: pedir de presente a família, o túmulo da prima Luiza que ela tanto
gostava.
Ela queria ser sepultada no local e assim, toda semana ela
ia varrer e cuidar do local, até que veio a falecer e foi sepultada, junto da
prima que tanto admirava. Estranhamente
não quis ficar junto do meu pai e dos meus avós. Assim era minha mãe: forte,
destemida e cética e quem quisesse atravessar na sua frente ela passava por
cima.
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