sábado, 25 de maio de 2013

Meus afetos...

Olívia de Cássia - jornalista
Eu ficava contando os carneirinhos no colo do meu avô Manoel Paes (seu Né Tibúrcio), na Rua da Ponte, por horas a fio. Eu tinha uma identificação profunda com meu avô, muito antes de me afinar com meu saudoso e querido pai.
Quando não era contando carneirinhos e outros bichos que eu identificava nas nuvens, na porta da mercearia do meu pai, na Rua da Ponte, à noite, estávamos brincando de outras histórias que ele me contava e que eu ouvia atentamente.
Meu avô não sabia ler, mas apreciava literatura de cordel e pedia para que eu, que estava sendo alfabetizada naquela época, ou qualquer visita lesse para ele aquelas histórias de Lampião no Inferno, do Padre Cícero, das Caiporas e outras, que nós comprávamos quando íamos para feira livre de União dos Palmares, aos sábados.
Para mim era uma aventura andar com meu avô e a feira livre era nosso passeio predileto. Lá na casa da Rua da Ponte, onde ele e minha avó Olívia moravam, tinha uma espreguiçadeira que meu avô gostava de deitar e eu subia nas costas dele nessa cadeira e mexia na careca dele, fingia que estava dando banho e ele se punha a rir.
Era difícil fazer o meu avô rir, porque ele era muito carrancudo, os outros netos e sobrinhos tinham um respeito e um medo grande dele, mas comigo ele se rendia ao meu carinho e afetividade e eu não tinha medo dele. Era muito amor que existia entre nós, duas almas que nasceram juntas.
Com meu avô e meu tio Antônio de Siqueira Paes eu tenho as lembranças mais ternas e puras da infância, na Rua da Ponte e na Barriguda. Com meu pai a afinidade maior foi crescendo na infância, na adolescência e depois na fase adulta. Eu sempre me afinei bem mais com os homens da família, embora amasse minha mãe e minhas tias.
Meu avô Manoel me protegia de tal forma, que bastava um olhar dele para o lado de quem quer que fosse, para intimidar. Perto dele minha mãe não me batia, nem ousava brigar comigo. Essa proteção eu perdi aos quinze anos, quando ele já estava bem velhinho, aos 94 anos, já sem saber o que estava fazendo.
Era tão linda a nossa amizade e afeto, que chamava a atenção dos moradores da Rua da Ponte.  Eu ficava na porta da casa com eles que sentavam um ao lado do outro, apreciando o movimento ou conversando com algum vizinho.

Família e avô é a melhor coisa na vida da gente e depois que a gente perde só ficam as boas lembranças do que vivemos. Eu não conheci os pais de meu pai, pois foram para outro plano quando eu pai ainda era criança, mas tenho a sorte de ter tido meus pais por muito tempo, meus avós Manoel e Olívia, meus tios e uma família que apesar das brigas que tínhamos me faz muita falta. 

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