Eu ficava contando os carneirinhos
no colo do meu avô Manoel Paes (seu Né Tibúrcio), na Rua da Ponte, por horas a
fio. Eu tinha uma identificação profunda com meu avô, muito antes de me afinar
com meu saudoso e querido pai.
Quando não era contando
carneirinhos e outros bichos que eu identificava nas nuvens, na porta da
mercearia do meu pai, na Rua da Ponte, à noite, estávamos brincando de outras
histórias que ele me contava e que eu ouvia atentamente.
Meu avô não sabia ler, mas
apreciava literatura de cordel e pedia para que eu, que estava sendo
alfabetizada naquela época, ou qualquer visita lesse para ele aquelas histórias
de Lampião no Inferno, do Padre Cícero, das Caiporas e outras, que nós
comprávamos quando íamos para feira livre de União dos Palmares, aos sábados.
Para mim era uma aventura andar
com meu avô e a feira livre era nosso passeio predileto. Lá na casa da Rua da
Ponte, onde ele e minha avó Olívia moravam, tinha uma espreguiçadeira que meu
avô gostava de deitar e eu subia nas costas dele nessa cadeira e mexia na
careca dele, fingia que estava dando banho e ele se punha a rir.
Era difícil fazer o meu avô rir,
porque ele era muito carrancudo, os outros netos e sobrinhos tinham um respeito
e um medo grande dele, mas comigo ele se rendia ao meu carinho e afetividade e
eu não tinha medo dele. Era muito amor que existia entre nós, duas almas que
nasceram juntas.
Com meu avô e meu tio Antônio de
Siqueira Paes eu tenho as lembranças mais ternas e puras da infância, na Rua da
Ponte e na Barriguda. Com meu pai a afinidade maior foi crescendo na infância,
na adolescência e depois na fase adulta. Eu sempre me afinei bem mais com os
homens da família, embora amasse minha mãe e minhas tias.
Meu avô Manoel me protegia de tal
forma, que bastava um olhar dele para o lado de quem quer que fosse, para
intimidar. Perto dele minha mãe não me batia, nem ousava brigar comigo. Essa
proteção eu perdi aos quinze anos, quando ele já estava bem velhinho, aos 94
anos, já sem saber o que estava fazendo.
Era tão linda a nossa amizade e
afeto, que chamava a atenção dos moradores da Rua da Ponte. Eu ficava na porta da casa com eles que
sentavam um ao lado do outro, apreciando o movimento ou conversando com algum
vizinho.
Família e avô é a melhor coisa na
vida da gente e depois que a gente perde só ficam as boas lembranças do que vivemos.
Eu não conheci os pais de meu pai, pois foram para outro plano quando eu pai
ainda era criança, mas tenho a sorte de ter tido meus pais por muito tempo,
meus avós Manoel e Olívia, meus tios e uma família que apesar das brigas que
tínhamos me faz muita falta.
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