De repente a gente se vê tão sufocada de problemas que
deseja se despojar de tudo e sair por aí, sem rumo, sem meta, sem direção. É
nessas horas que dá vontade de voltar a ser criança e não ter compromissos e responsabilidades;
mandar tudo para o espaço.
São tantas as angústias, sensação de impotência diante dos
entraves financeiros, do caos estabelecido que eu fico me lembrando do que
diziam meus pais. Eu me rendo nessas horas e confesso que não tive competência
para administrar minha vida.
Parece que passa um filme na minha cabeça, diante das
dificuldades enfrentadas: e elas são muitas, desde as de saúde até as
financeiras. Fico vendo os dois no
embate: dona Antônia valente, protestando porque para ela Jornalismo era
profissão de doido, de maconheiro e de desocupado.
Ela não queria que eu seguisse a carreira de jornalista por
puro preconceito, queria que eu seguisse a Medicina, o Direito, ou até o Magistério;
no caso do meu pai ele dizia que era uma atividade que não daria para o meu
sustento, que não me daria qualidade de vida: é parece que os dois eram visionários
e tinham um pouco de razão ou toda a razão do mundo.
Quanta falta eu sinto do apoio e do conforto que ambos sempre
procuraram nos dar, mesmo sendo pessoas simples, criadas no campo. Quando
terminei o ginásio, no Colégio Santa Maria Madalena, lembro a luta da minha mãe
para conseguir uma bolsa de estudos para eu vir estudar em Maceió e fazer o
científico, pois em União só tinha segundo grau na área de pedagogia.
Ela conseguiu no Cepa, no Moreira e Silva, com a esposa de
seu Ezíquio, então prefeito do município e alugou uma casinha velha, aqui
mesmo, na Vieira Perdigão, fundos da Estação Ferroviária, onde depois vim morar
definitivamente.
Terminado o Científico, acabei prestando o primeiro
vestibular para Medicina, como era do gosto dela, mas claro que não obtive o
resultado desejado e talvez essa não era mesmo a minha sina, como ela mesmo
dizia.
Sinto tanta a falta do calor das nossas discussões, dos
desentendimentos, da comidinha feita na hora, dos lençóis limpos, cheirosos e
daquela minha cama confortável na qual eu dormi por tantos anos no meu quarto
de menina-moça.
As lembranças lá de casa têm cheiro, um cheiro de saudade
que fica impregnado na alma da gente e que parece que aflora justamente nessas
horas de dificuldades, de impedimentos e de muitas dúvidas. Bom final de tarde
para todos!
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