Local abre normalmente de segunda a sexta e fecha nos finais de semana
Olívia de Cássia - Repórter
A antiga Casa do Poeta Jorge de Lima, em União dos Palmares, transformada em Memorial na gestão do então prefeito Areski Damara de Omena de Freitas Júnior (o Kil) e reinaugurada em 5 de novembro de 2010, guarda um pequeno acervo do poeta palmarino e peças de escavações da Serra da Barriga, em União dos Palmares, quer pertenceram aos quilombolas.
A Casa fica aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h, em horário comercial e fecha nos fins de semana, o que tem gerado algumas reclamações dos visitantes que chegam à cidade para visitar o local. O Memorial Jorge de Lima retrata a memória e a trajetória de um dos poetas brasileiros mais importantes do País, parnasiano, que depois aderiu ao modernismo.
Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares, em 23 de abril de 1893. Foi um político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor. Era filho de comerciante rico e mudou-se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de Medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.
Jorge de Lima voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia-se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar-se definitivamente no Rio de Janeiro. Em 1939 passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições.
Segundo os especialistas na obra do poeta, em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos.
O acervo de União dos Palmares é composto por fotos e painéis com poemas e trechos importantes de livros de Jorge de Lima. Em um dos painéis, está ilustrada a visão simples que o escritor tinha sobre si mesmo.
"Tenho um metro e 68 de altura, 59 quilos e meio e uso óculos. Sou meio careca e meio surdo. Sou católico praticante e meu santo é São Jorge. Visto sempre cinza e acordo às quatro da manhã, com os galos e a aurora. (...) Minha leitura predileta é poesia.(...) Sou casado, tenho dois filhos e quatro netos. Gosto de pintar, esculpir e compor."
Grande parte do acervo dessa compilação da obra do poeta teve a contribuição de Francisco Valois, poeta já falecido, pesquisador e amigo de Jorge de Lima. “O Memorial Jorge de Lima tem toda uma cronologia do poeta, do nascimento até a morte e o que ele tanto produziu não só em União dos Palmares, como em Alagoas e no resto do País”, comenta o professor Carlos dos Santos, que também é guia turístico do município.
O acervo do Memorial Jorge de Lima é considerado de suma importância para o Estado e o município. “O Memorial é muito importante para os palmarinos, pois nele está retratado o legado de Jorge de Lima para o povo da sua terra; destaca-se os livros famosos: A Mulher Obscura, Calunga, Invenção de Orfeu, que alguns literários consideram uma das obras mais difíceis de ser interpretado, devido à complexidade que Jorge de Lima expõe, entre outros”, observa.
Segundo o professor, no Memorial, as pessoas têm noção do bom conteúdo da obra do poeta, de quem foi Jorge de Lima, do que ele já produzia quando era pequeno.
Centro Arqueológico Palmarino guarda objetos encontrados em escavações na Serra da Barriga
No primeiro andar do prédio, o professor Carlos dos Santos conta que funciona o Cenarpe – Centro Arqueológico Palmarino, onde as pessoas podem encontrar panelas, cachimbos, jarras, urnas funerárias, retratando um pouco da cultura que foi deixada pelos quilombolas: índios, negros e brancos, que conviveram na Serra da Barriga.
“Essas eram as raças que organizavam o Quilombos dos Palmares, que foram sendo colecionadas e catalogadas ao longo do tempo: a urna funerária era onde os índios da tribo Aratu colocavam as pessoas que morriam. Nas urnas pequenas eram colocadas crianças e nas maiores os adultos”, pontua.
O professor comenta que desde a década de 1980 para cá, a Serra da Barriga sofreu uma série de consequências, com relação ao ambiente, quando foi liberado o espaço para o turista ter acesso ao local; antes, só havia trilha que dava acesso à serra, que hoje é o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.
Segundo o professor, para ter acesso á serra, antes da liberação, as pessoas subiam por algumas trilhas para chegar à Serra da Barriga. “Lá, as casas eram de palha, com aqueles colchões de palha também, que criavam uma série de bichos, besouros e depois os próprios moradores começaram as plantações e encontravam uma série de materiais como os cachimbos, era frequente encontrar essas peças, em cima da terra e os turistas que iam à serra levavam para casa”, reforça.
Segundo Carlos dos Santos, naquela época não estava havendo a preocupação com a arqueologia do local, a preservação de quem foi o material, a quem pertencia, se aos negros, aos indígenas, aos brancos, e posteriormente teve a ação das máquinas que passaram para abrir o acesso ao local.
“E mais suma vez, infelizmente, houve o descaso de não fazer a prospecção arqueológica, para saber setinha material ou não naquele espaço e teve muita coisa destruída. Para fazer aquele platô plano foi tirado pelo menos 80 centímetros de terra e ambiente ficou meio que plano”, observa.
Outra particularidade relatada pelo professor é que a maioria do material encontrado pertencia aos indígenas, porque foi a primeira camada. “O restante do material foi destruído pelas máquinas; esse material que você vê aqui são pequenos pedaços de pedra afiados, que os índios utilizavam para tirar a carne do animal, quando eles matavam e tudo era aproveitado pelos quilombolas”, pontua.
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