Andressa engravidou aos 17 anos, quando cursava o 1º ano do ensino médio, e resolveu parar de estudar. Foto Adailson Calheiros |
Olívia de Cássia – Repórter
Com a mudança dos costumes e o passar do tempo, muitas mulheres estão tendo filhos muito cedo e algumas abandonam a escola, ainda meninas, quando se tornam mães. Muitas o fazem porque não têm com quem deixar seus filhos, outras por vergonha da gravidez. Foi o que aconteceu com a jovem Andressa Leão, que mora no Pontal da Barra e engravidou com 17 anos, em 2011; fazia o primeiro ano do ensino médio e parou de estudar até hoje.
“Estou atualmente com 21 anos, pretendo voltar a estudar, eu até tentei, quando minha filha nasceu, mas eu moro em uma casa que tem escada e a escola que eu estudava fica no Vergel, porque aqui no bairro não tinha escola do segundo grau; aí não deu, estudei dois meses e desisti”, observa.
Já Elisângela Cerqueira conta que também engravidou aos 17, quando estava iniciando o ensino médio. “Descobri que estava grávida; terminei o primeiro ano e quando eu tive o bebê não concluí porque fiquei com vergonha de as pessoas comentarem; esperei meu filho completar sete anos de idade, para retornar a estudar novamente”, explica.
Elisângela ressalta que não tinha com quem deixar a criança: “Eu não tinha com quem deixar; fiz uma forcinha e acabei deixando ele com meus pais. Todos os dias papai ia buscá-lo e eu ia estudar à noite, na Escola Rodriguez de Melo, na Ponta Grossa, na Praça Santa Tereza”, destaca.
Essa mamãe conta que fez as duas séries do primeiro grau ainda à noite e o terceiro, pela manha. “Deixava meu filho na escola e ia estudar e terminei o ensino médio em 2000”, relata. Elisângela Cerqueira diz que se sentiu prejudicada quando deixou de estudar, porque ficou com vergonha.
“Fiquei com vergonha de mim mesmo, de frequentar as aulas e alguém me olhar atravessado, porque estava grávida e tinha receio de alguém perguntar, fazer indagações”, pontua.
Jovem engravidou com 16 anos e teve que enfrentar a gravidez sozinha
Alessandra Maria tinha 16 anos quando engravidou pela primeira vez do namorado: é um exemplo de jovem mãe que teve que enfrentar uma gravidez sem a presença do companheiro, aos 16 anos e que deixou de estudar até hoje, quando já está no terceiro relacionamento e tem três filhos: dois meninos e uma menina.
Ela comenta que quando engravidou o namorado recebeu a notícia com alegria, mas com pouco tempo depois revelou que não estava preparado para assumir uma família e não apareceu mais. Com o afastamento do pai da criança e com a gravidez em andamento ela disse que começou a ter outro relacionamento e não voltou mais a estudar. A reportagem pesquisou que isso acontece com muitas meninas no País e no Estado.
“Maurício queria assumir o meu filho de qualquer jeito e morar comigo; quando nós aproximamos ele aparentava ser uma pessoa, mas quando fui o conhecendo aos poucos, ele se mostrou muito estranho e descobri que é usuário de drogas e acabei o namoro”, conta.
Hoje, Alessandra sobrevive ajudando o atual companheiro, que vive de pequenos bicos, revendendo produtos em catálogos como perfumes, sapatos e outros objetos.
Depois que o primeiro bebê nasceu, Alessandra fala que não se arrepende de ter engravidado, porque, segundo ela, a maternidade colocou mais juízo na sua cabeça, mas que gostaria de ter continuado os estudos. “Antes da gravidez eu vivia em farras, bebendo, com amizades incertas e não muito recomendáveis”, revela.
Psicólogo explica que é preciso consciência da responsabilidade que se vai assumir
O psicólogo, advogado e jornalista Arnaldo Santtos destaca que é preciso consciência, de ambos os lados, de toda responsabilidade que se vai assumir. “Num casamento tradicional em que um pai e uma mãe vão cuidar de um bebê, a vida do casal vai mudar completamente e são diversas as responsabilidades que serão assumidas para o resto da vida”, argumenta.
Segundo Arnaldo Santtos, o fato de a mulher estar gestante já é, por si só, um fato ímpar na vida dela. “É o que representa de mais sublime numa mulher, ou seja, parir um filho, dar a luz. Esse poder, somente a mãe tem”.
O psicólogo analisa que se a opção de ter o bebê sozinha for da mãe, mesmo assim, é preciso que se tenha plena consciência da situação, ou seja, de toda responsabilidade que se vai assumir. “E mesmo assim, é preciso que o bebê tenha uma referência masculina. Vai chegar um momento em que os questionamentos vão surgir: ‘quem é meu pai? Por que eu nunca o vi?’ Isso será inevitável. Portanto, o apoio da família é fundamental”, observa.
O advogado e especialista em psicologia também avalia que ter um bebê independente é erro, até mesmo conceitual. “O bebê não deve ser uma espécie de objeto da mãe com o argumento de que ‘eu produzi meu bebê’. Isso cria mecanismo de posse. E posse é um dos sinais de existência de algum tipo de patologia”, ensina.
Arnaldo observa que o ciúme possessivo também é um sinal de que a pessoa precisa de psicoterapia. “Apresentar comportamento de posse sobre o outro não é um comportamento saudável; aliás, o comportamento de amor é exatamente o inverso: é dar liberdade ao outro.
O papel de um pai na relação de criação do bebê é fundamental. Na psicanálise ele representa a lei, o “não”, embora esse papel possa ser representado, também pela mãe, mesmo numa relação heterossexual”, explica.
Se a questão do criar o filho sozinho pela mãe foi porque o companheiro abandou o bebê, o psicólogo diz que isso vai ter um efeito psicológico ainda muito mais negativo na mãe. Seria o sentimento de abandono duplo e neste caso é preciso que a mãe tenha um acompanhamento psicoterápico para suportar o sentimento.
Pesquisa recente indica que 309 mil meninas de 15 a 17 anos estão fora da escola
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indica que o Brasil tinha 309 mil meninas de 15 a 17 anos fora da escola, em 2013, e segundo a avaliação, mais de 257 mil delas não estudam nem trabalham. O levantamento foi feito pelo Movimento Todos pela Educação.
A professora e diretora do diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteal), Célia Capistrano, avalia que Alagoas não foge desse quadro e boa parte das adolescentes que têm o apoio da família consegue superar essa dificuldade, mas a maioria está fora da escola por falta de creche para deixar os filhos.
Segundo ela, o Estado não dá as condições de creche para essa maioria e observa que está previsto no Plano Nacional de Educação que os municípios devem atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil; os estados e o Distrito Federal, prioritariamente nos ensinos fundamental e médio.
“A previsão do PNE é que até 2016 os municípios tenham cumprido 50% dessa demanda, com creches construídas para crianças de quatro a cinco anos”. A professora observa que em Maceió há creches construídas, “mas sem a parte humana, não tem o profissional para trabalhar”.
A diretora do Sinteal também destaca que os municípios alegam que as creches oneram o orçamento. “Temos muitas dificuldades: estagiários trabalhando sem a supervisão de um profissional nos municípios, que alegam que creche é cara, mas só tem prioridade nos palanques políticos, em época de campanha; depois que se assume qualquer administração, a educação é esquecida. Alega-se que a educação infantil é cara; sim, mas é necessária”, destaca.
Célia Capistrano reconhece a problemática das adolescentes, jovens e adultas também, que têm filhos e precisam trabalhar, mas têm dificuldade para encontrar com quem deixar seus filhos. Segundo a professora, uma creche é importante, “faz muita falta, sem contar que ela oxigena a rede e faz com que as adolescentes quando têm os filhos não desistam de estudar e possam trabalhar sossegadas, sabendo que o filho está nas mãos de profissionais e até rendendo mais”, pontua.
A diretora do Sinteal entende que a principal política pública para resolver essa questão é ter creche, para a população que estuda e trabalha. “Maceió tem uma demanda reprimida de mais de 90 mil crianças de zero a cinco anos fora da escola. O problema não é só em Maceió. Rio Largo não construiu sequer uma creche dessa nova meta do governo federal que era construir dando todos os recursos para a construção da creche. O município só precisava oferecer o terreno”, ressalta.
Segundo Célia, o município tinha como meta construir dez creches; “inclusive algumas foram construídas e estão abandonadas, servindo de ponto de droga e para o tráfico. Tem uma creche aqui na Cambona que a construção foi paralisada e está servindo de dormitório”, denuncia.
Outra informação da professora é que no Conjunto Santa Maria, no Eustáquio Gomes, onde foi construído um Cras (Centro de Referência da Assistência Social), um posto de saúde e a escola, mas está tudo abandonado.
Ela fala do jogo de empurra entre os Poderes Executivo estadual e municipal. “A escola, é lamentável, cada dia mais vai para o chão: já tiraram as telhas e quase tudo, o patrimônio está jogado para o tráfico de droga; está abandonada pelo poder público”, lamenta.
Segundo a educadora, as pessoas reclamam (governo), “mas tiram as pessoas das favelas, das lagoas e levam para conjuntos habitacionais sem estrutura, creche, sem escolas, para o ensino fundamental; aí eles (comunidades carentes) vão descer para trazer os filhos para a escola e a tendência é venderem as casas e voltarem para o mesmo lugar”, observa.
Nesse jogo de empurra de Estado para município, o que falta, segundo avalia a professora, é política pública para a educação: creches e escolas em tempo integral, segundo Célia Capistrano, é o que iria resolver essa problemática das meninas que engravidam cedo e abandonam a escola.
“As meninas engravidam porque vão para a escola em um horário e no outro ficam ociosas, sem lazer e sem ocupação, sem a continuidade da educação: tarefas, estudos, atividades físicas. O ócio é que leva a isso: tanto à gravidez quando à questão das drogas”, avalia.
Também a falta de educação familiar, a mídia e as redes sociais estão fazendo com que as crianças percam a ingenuidade. “A educação não está sendo priorizada, queremos as promessas de campanha cumpridas, pois se não for pela educação que se melhora o mundo, tão pouco será sem educação”, argumenta.
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