segunda-feira, 18 de maio de 2015

Luar do Sertão se prepara para fazer bonito no São João

Quadrilha estilizada compete há 28 anos,
já ganhou vários prêmios e passa 
a tradição de pai para filhos

Olívia de Cássia - Repórter
A quadrilha junina Luar do Sertão, do bairro do Prado, em Maceió, está se preparando para fazer bonito no próximo São João: os componentes recebem treinamento rígido nos ensaios, do coreógrafo, produtor e noivo Davi Perdigão, para que faça bonito e novamente seja vencedora nas competições que participa.

A quadrilha  Luar do Sertão não para; os componentes descansam um mês e em seguida já retomam às atividades - Fotos: Paulo Tourinho

A quadrilha não para; os componentes descansam um mês e em seguida já retomam às atividades. Davi está há onze anos como coreógrafo e explica que  a Luar foi a única de fora de Pernambuco escolhida para o Festival Pré-junino, para representar Alagoas e encerrar o evento, patrocinado pela Liga de Quadrilhas de Pernambuco, que aconteceu neste domingo, 17. (Veja o vídeo)  https://www.facebook.com/209350839219590/videos/vb.209350839219590/474633546024650/?type=2&theater&notif_t=comment_mention

Davi Perdigão, coreógrafo, produtor e noivo da quadrilha Luar do Sertão

Além de coreógrafo, Davi Perdigão também produz o kit bolsa-figurino que os componentes vão utilizar, como assessórios, sapatos, meias, entre outros objetos. O dançarino paga um valor X, dividido em três vezes, para todo o material que vai precisar nas apresentações. “Isso tudo sem apoio financeiro de ninguém, nós bancamos tudo”, ressalta o presidente da quadrilha Cláudio Menezes.

Cláudio Menezes, Presidente da quadrilha Luar do Sertão,

As quadrilhas estilizadas foram substituindo com o tempo as antigas quadrilhas tradicionais de São João, trazidas para o Brasil colonial pelos Europeus. No início, estavam associadas às formações militares existentes à época. Tinham passos mais lentos e uniformes e a música não era o forró.
No Nordeste, a dança ganhou traços regionais e marcação de triângulo, zabumba e sanfona, mas hoje essa tradição quase que se perdeu no tempo. As quadrilhas estilizadas mostram para o público a dança junina com passos coreografados, roupas com bastante brilho e até mesmo cenários.
Com a necessidade de cativar os jovens para a perpetuação da essência dessa tradição, muitas das quadrilhas existentes ganharam nova roupagem. As mais tradicionais permanecem e têm público cativo, mas ao longo dos anos as do tipo estilizadas vêm conquistando seu lugar nos arraiais do Brasil.

A quadrilha ainda não tem sede própria, mas o grupo está se organizando para isso

A reportagem do portal Primeiro Momento acompanhou uma tarde de ensaio da Luar do Sertão, que tem 32 anos de existência, mas compete há 28 e já ganhou vários prêmios durante esse tempo nos concursos de quadrilha pelo Brasil a fora. A Luar do Sertão tem uma particularidade: componentes que dançam desde a sua formação e foram passando a tradição para os filhos, que também participam da comunidade.
A quadrilha ainda não tem sede própria, mas o grupo está se organizando para isso. O presidente diz que em 1987 começou competindo e já ganhou no Campeonato Alagoano de Quadrilhas 15 vezes; três brasileiros; a mesma quantidade no Novo Nordeste, além de prêmios no Nordestão. A entidade tem uma vida própria e está em evidência durante todo o ano, realizando também trabalhos comunitários.

Quando terminam os festejos juninos o trabalho recomeça

O presidente Cláudio Menezes explica que assim que termina o São João, o trabalho recomeça, da mesma forma que as escolas de samba do Rio de Janeiro. “A gente faz eventos, bingos, festas em boates, feijoadas para arrecadar fundos o colocar o espetáculo em prática”, comenta.

O presidente Cláudio Menezes explica que assim que termina o São João, o trabalho recomeça, da mesma forma que as escolas de samba do Rio de Janeiro

O investimento das quadrilhas estilizadas é pesado, desde a maquiagem, cabeleireiro, vestimentas e todo o aparato que é utilizado nas apresentações. Tem roupas para os ensaios e específicas para as apresentações que é guardado segredo até a última hora. Segundo os organizadores, tem apresentação que é de mais de um traje e isso requer muito esforço.

Tradição vai sendo passada para novas gerações

karlleane e o marido Leandro se conheceram na quadrilha em 2011, casaram o ano passado, mas há quatro anos estão juntos. Ela diz que ano passado dançou grávida e esse ano vai dançar de novo e deixar o bebê com a sua mãe e conta que está na Luar do Sertão há cinco anos.

Karlleane e o marido Leandro se conheceram na quadrilha em 2011, casaram o ano passado, mas há quatro anos estão juntos

O esposo Leandro observa que é uma satisfação participar desse meio junino. “Desde que eu vim, em 2007, me apaixonei; conheci minha esposa aqui: ela já vinha de outra quadrilha e começamos a namorar. Ano passado a gente noivou, ela já estava grávida, eu não sabia, ela dançou grávida de quatro meses e em setembro no chá bebê eu fiz uma surpresa e a gente casou no chá de bebê; o fruto desse amor pela quadrilha e pelo São João está aqui”, diz ele mostrando o filho.

O fruto desse amor pela quadrilha e pelo São João está aqui”, diz ele mostrando o filho.

“Nossas roupas, nossos calçados, tudo a gente paga nesses eventos que faz para arrecadar dinheiro para as competições. Estamos associados como se fosse uma ONG que faz vários trabalhos sociais: começamos essa prática do ano passado para cá, arrecadando alimentos, material de limpeza, roupa, para ajudar o pessoal dos asilos, inclusive ano passado fizemos uma ação solidária no Natal, ajudando aqueles que nunca tiveram nada”, observa Leandro.
Suelene e Guilherme é outro casal que também começou a namorar na Luar do Sertão e estão na quadrilha desde o começo. Antes eram apenas amigos, cada um namorava pessoas diferentes e depois iniciaram o relacionamento, casaram e estão desde o início. Ele conta que já tem 50 anos e mesmo assim ainda vai dançar por muitos anos.

Suelene e Guilherme é outro casal que também começou a namorar na Luar do Sertão e estão na quadrilha desde o começo

Bruna e Stefani, 22 e 18 anos, são filhas de José Costa Lima Júnior, que dança com sua esposa desde o início. Bruna conta que dança desde os 12 anos; o pai há 30 anos: “Estou desde a fundação da quadrilha, já dançava em outras. Eu e minha esposa fazemos parte da fundação e achávamos que quando as meninas começassem a dançar a gente parava, mas estamos aqui até agora, minhas filhas já dançam há anos também”, explica Júnior.

Bruna e Stefani, 22 e 18 anos, são filhas de José Costa Lima Júnior, que dança com sua esposa desde o início

Noiva e Rainha da Quadrilha

Darianny é noiva da quadrilha há nove anos, mas disse que está na Luar do Sertão há 12. “Já dancei grávida, com barrigão; isso aqui é uma confraternização maravilhosa, faz parte da minha vida, é minha segunda família, me sinto em casa, mas todo ano é uma emoção diferente”, pontua.

Darianny é noiva da quadrilha há nove anos, mas disse que está na Luar do Sertão há 12 anos

Jane Lima é a rainha da quadrilha pela primeira vez, mas destacou que já dança há oito anos na quadrilha. “Eu sempre gostei de dançar e da cultura junina e já faz 20 anos que danço quadrilha, antes estava em outra, já participei de várias quadrilhas do bairro que acabaram e resolvi participar da Luar”, enfatiza.

Jane Lima é a rainha da quadrilha pela primeira vez, mas destacou que já dança há oito anos na quadrilha

Ela conta que procurou o pessoal da organização, “fui atrás, falei com o presidente e estou aqui até hoje. Jane explica que as apresentações requerem muito ensaio, porque tem ano que tem várias trocas de roupa: “Enquanto um grupo está dançando o outro vai trocar de traje”, destaca.

 De outras localidades 

Os 140 componentes que dançam na quadrilha não vêm só do bairro do Prado, mas também de outros bairros e do interior do Estado como Arapiraca e Porto Calvo; mais vinte pessoas no apoio e uma banda com 14 músicos. “Os ensaios da Luar são ‘overdose’, às vezes duram o dia inteiro e a comunidade se organiza levando comida, para que os componentes possam se alimentar”, destaca.
Joyce Prado é moradora do bairro operário de Fernão Velho e está na quadrilha Luar do Sertão há oito anos e participa junto com o noivo da agremiação. “É um mundo mágico, a gente se diverte, apesar de gastar, é uma família e tem um pessoal que quando não posso ir para casa durmo na casa deles, virou uma família, na verdade”, avalia.

Joyce Prado é moradora do bairro operário de Fernão Velho e está na quadrilha Luar do Sertão há oito anos

Aldiran só tem um ano na Luar do Sertão e disse que está gostando muito. “Estou amando participar, o pessoal é ótimo, acolhedor e encontrei aqui uma nova família”, destaca.

Aldiran só tem um ano na Luar do Sertão e disse que está gostando muito

Costureira fala do seu trabalho na confecção das roupas das quadrilhas estilizadas

A costureira Marisa Cabral confecciona roupas das quadrilhas estilizadas de Maceió há anos e diz que se abrir mão, trabalha o ano todo. “Começo a trabalhar para o São João depois do carnaval; depois que a quadrilha deixou de ser tradicional e foi para o formato estilizada, é realmente uma escola de samba”, pontua.

A costureira Marisa Cabral confecciona roupas das quadrilhas estilizadas de Maceió há anos e diz que se abrir mão, trabalha o ano todo

Dona Marisa Cabral conta que tem oito pessoas trabalhando com ela e que terceiriza o trabalho, para poder dar conta. “Antigamente o trabalho era todo em casa; agora não. Eu tenho pessoas que fazem o babado para mim, outra peça e só faço montar”, destaca.
Ela conta que existe quadrilha estilizada que tenha só uma roupa: “Hoje, por mais simples que seja, tem mais de um traje. Outra quadrilha aqui do Prado só tem cinco anos, 40 casais e já vem cada dama com duas roupas. Ninguém usa mais uma roupa só para dançar; nem pensam”, observa.

A estilista pontua que para participar de uma quadrilha estilizada o participante tem que desembolsar muito dinheiro: cerca de três mil reais para um casa

Ela explica que antigamente as roupas eram confeccionadas com tecidos barateados como chita e bico: “Hoje não se usa nem bico mais, é lantejoula, estrais e outros detalhes caros. Uma componente de uma dessas quadrilhas do bairro gastou quase R$ 300 reais só com pedras para colocar na roupa; extrapolou mesmo”, ressalta.
A costureira pontua que para participar de uma quadrilha estilizada o participante tem que desembolsar muito dinheiro: cerca de três mil reais para um casal. “Tem que ter condições para entrar num balanço desse e a costureira para dar conta, tem que trabalhar muito. Antigamente eu costurava só para a Luar; eu fazia as roupas de todos os componentes, mas quando começou a crescer, em matéria de temas e de roupas, não deu mais, teve que colocar mais costureiras”, pontua.
Marisa Cabral explica ainda que cada casal representa de quatro a cinco estados do Nordeste. “Um homem que vai representar quatro estados ele vem com quatro camisas, quatro coletes; um monte de roupa, a mulher do mesmo jeito”, explica.

Segundo ela, as quadrilhas grandes como a Luar do Sertão, cada componente tem que se manter para adquirir os trajes, além dos custeios para as viagens

Marisa explica que esse glamour nas quadrilhas estilizadas está em todo o País e as de Alagoas têm que acompanhar, porque quando chegam lá fora é do mesmo jeito ou mais. “É um espetáculo e as escolas de samba perdem; cada componente se manter. Boi e quadrilha são muito mais ricos do que escolas de samba”, avalia.
Segundo ela, as quadrilhas grandes como a Luar do Sertão, cada componente tem que se manter para adquirir os trajes, além dos custeios para as viagens. “Os patrocinadores são os próprios componentes, que arcam com todas as despesas”, complementa.

Veja mais fotos do ensaio da Quadrilha Luar do Sertão

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