Acalentar filho e acompanhar primeiros passos não tem preço
Mulheres se submetem a qualquer tipo de tratamento para engravidarem
Olívia de Cássia / Tribuna Independente 11 Mai de 2015 - 10:52
Foto: Adailson Calheiros
Dizem que o sonho de toda mulher é a maternidade, acalentar um filho no colo, acompanhar os primeiros passos, os primeiros descobrimentos. Muitas mulheres fazem todo tipo de sacrifício no que se refere a tratamentos clínicos, para conseguirem engravidar e com o apoio das novas tecnologias conseguem o objetivo. Outras não precisam ir muito longe e engravidam sem tentativas cansativas; algumas preferem o caminho do coração e adotam.
Luciana Manzini disse que passou cinco anos tentando ter um filho e que fez uma série de tratamentos para conseguir o intento. “Foram cinco anos de muita frustração, de expectativa. Tive obstrução nas trompas e por isso a dificuldade para engravidar. Depois de várias tentativas veio a indicação médica da fertilização in vitro, que foi feita em Pernambuco”, destaca.
A relações públicas destaca que na primeira tentativa de fertilização deu certo e engravidou de duas meninas. Ela conta que foram quatro embriões implantados, dos quatro ficaram as duas e no terceiro mês ela teve um sangramento.
Era um terceiro embrião que não tinha se desenvolvido e estava sendo eliminado, mas os outros dois embriões permaneceram e deu tudo certo: as gêmeas nasceram de parto cesárea, a bolsa estourou e Luciana teve que ser operada.
“A maternidade é uma realização, porque é um sonho, eu já casei querendo filho; era uma coisa muito certa. Meu esposo queria esperar mais um pouco, embora que a gente tenha namorado durante dez anos; quando namorávamos eu usava os métodos normais para evitar e quando realmente resolvemos ter filhos vimos a dificuldade”, explica.
Luciana Manzini observa que depois que teve as gêmeas engravidou novamente, mas quando estava suspeitando da gravidez, perdeu a criança. “A gravidez estava no comecinho; um mês e meio, as meninas estavam com quatro anos, hoje estão com sete. Elas nasceram prematuras, perto de oito meses, mas apesar de terem sido prematuras, a recuperação foi rápida; quatro dias depois elas já estavam no apartamento comigo, com sete dias de nascidas tivemos alta”, destaca.
Ex-bancária fez laqueadura no primeiro casamento e quando quis reverter, teve problemas
A ex-bancária Kátia Guimarães da Rocha é paulista, mas mora em Alagoas há muitos anos e conta que foi mãe pela primeira vez aos 17 anos; tem a filha Bianca que hoje está com 22; um ano e seis meses depois teve a segunda filha, que hoje tem 20 anos, ambas do primeiro casamento que durou onze anos.
Depois da segunda filha, ela conta que fez laqueadura de trompas, aos 19 anos, porque disse que não se adaptava aos outros tipos de anticoncepcional e tinha medo de ter outra gravidez. “Consegui fazer a laqueadura e o casamento durou onze anos, me separei e casei novamente. Fiz três cirurgias para reverter o processo e oito meses depois da cirurgia fiquei grávida, só que foi uma gravidez tubária: eu quase morri, foi muito complicado”, comenta.
Kátia Guimarães observa que ela e o atual marido resolveram fazer o tratamento para fazer a inseminação artificial, mas um dia antes desistiram, porque ficaram com medo de passar por tudo novamente e resolveram adotar. “Já era uma coisa que a gente tinha vontade de fazer, mas queríamos primeiro tentar ter nosso filho mesmo. Foi quando eu fui visitar um abrigo e tinha o Gianlucca, que estava com dois meses e pouco, quando o conhecemos; aí nos apegamos muito”, destaca.
(Foto: Adailson Calheiros)
Kátia, o marido e o filhote: família realizada com a chegada de Gianlucca depois do processo de adoção
Kátia Guimarães pontua que, da mesma forma que já estavam apaixonados pelo bebê, o marido falou: ‘vamos correr atrás’. “Aí fizemos um curso, entrevistas, passamos por todos os trâmites, é muito longo o processo e muito doloroso; tivemos que passar por muitas situações e já estávamos apegados à criança; resolvemos pedir a guarda dele, quando já tinha completado nove meses”, explica.
Ela conta que o quarto do bebê já estava pronto, com todo o enxoval e o bebê chegou só com a roupa do corpo. “Depois o juiz revogou a guarda provisória e deu a definitiva e hoje ele é muito amado pelas irmãs; minha outra filha foi embora para a Irlanda mas foi aos prantos”, destaca.
Kátia conta que trabalhava em um banco privado há dez anos e resolveu ser mãe de novo, ter tempo para se dedicar à criança: “O tempo que eu não tive com minhas filhas, pois estava trabalhando; hoje eu dedico a ele, a gente participa de tudo: festinha da escola que eu não ia das meninas, reunião de pais na escola; tenho o maior prazer de ir”, destaca.
A ex-bancária ressalta que com as duas filhas mais velhas geralmente quem ia levar às festinhas ou reuniões de pais eram os avós, pois ela trabalhava e estudava. Enquanto fazíamos a matéria, o garoto não parava quieto e fez questão de dizer seu nome, sua idade e nome do colégio que estuda: ‘meu nome é , Gianlucca Guimarães Laranjeira, tenho três anos e estudo na escolinha”, disse ele.
Jornalista conta que não teve problema para engravidar
Já a jornalista Camila Ferraz está grávida pela primeira vez de uma menina e disse que a gravidez foi uma surpresa. Ela faz parte daquele grupo de mulheres que não tiveram dificuldade com a fertilidade e não recorreu a nenhum tratamento para tal.
“Fiquei surpresa; não fiz tratamento nenhum. Tomava anticoncepcional, mas passei um mês sem tomar por conta das fortes dores de cabeça e engravidei rapidinho. A sensação é inexplicável! Uma mistura de sentimentos. Primeiro o susto, o medo e depois a emoção. A felicidade é o amor que aumenta a cada dia”, pontua.
Camilla Ferraz observa que a cada exame de ultrassom é uma nova emoção. “Fico boba, choro; não sei se estou preparada, mas farei o máximo para fazer a minha filha a criança mais amada e mais feliz do mundo”, observa.
A jornalista diz ainda que está muito mais sensível com a gravidez. “Sempre fui chorona, mas agora triplicou”, diz sorrindo. A maior preocupação de Camila Ferraz é com o tempo disponível que terá para se dedicar à maternidade. “Tempo para cuidar dela, educar, enfim... A mãe que tem várias atividades acaba tendo pouco tempo para os filhos e essa é uma das minhas maiores preocupações. Quero muito me dedicar e aproveitar ao máximo cada momento”, pontua.
Incapacidade de conceber superior a 12 meses já caracteriza infertilidade
Alessandra Evangelista, ginecologista especialista em Medicina Reprodutiva, observa que a incapacidade de conceber em um período superior a 12 meses sem uso de método contraceptivo configura o quadro clínico de infertilidade. “Quando esse casal não atinge seu objetivo que é a gravidez, ou antes mesmo de tentar, já sabe que terá dificuldades; o ideal é procurar um especialista”, aconselha.
Segundo a ginecologista, essa primeira abordagem pode ser feita por um ginecologista que, por meio de exames, vai avaliar tanto a mulher quanto o homem e definir o melhor tratamento. “Os tratamentos podem se iniciar com o acompanhamento deste casal com a monitorização da ovulação, indicando assim os dias favoráveis à relação sexual”, explica.
Alessandra Evangelista pontua que em alguns casos a indução da ovulação por intermédio de medicações é necessária, e dependendo do problema do casal poderá ser indicado o procedimento de inseminação intrauterina (quando o sêmen é preparado e colocado no útero da mulher) ou fertilização in vitro (quando o embrião é feito no laboratório e colocado no útero da mulher).
“Cada técnica tem sua taxa de sucesso, indicação e custo, por isso a opinião de alguém que entenda sobre o assunto para nortear o melhor a ser feito é imprescindível. Cada caso deve ser individualizado”, ressalta.
A especialista destaca ainda que algumas mulheres antes mesmo de realizar um tratamento específico de fertilidade precisam ser submetidas a cirurgias como no caso de pacientes com endometriose e queixa de dor ou perda da função de algum órgão, mas cabe ao médico que está acompanhando explicar o motivo dessa indicação.
“O importante é saber que hoje em dia o médico possui em suas mãos um arsenal de tratamentos que pode e deve ser usado para esse casal atingir seu objetivo. Sendo assim, a mulher que quer engravidar deve procurar um especialista e conversar sobre seu problema. Lembrando sempre que perder tempo e postergar a decisão de se consultar é o que mais prejudicará o sucesso em atingir seu objetivo”, conclui.
Causas orgânicas e psicológicas podem impedir a mulher de engravidar
A psicóloga clínica Rose Mendonça, especialista em Gestalt Terapeuta disse que muitas são as causas que impedem uma mulher de engravidar, de orgânicas a psicológicas. Por conta disso, ela observa que em seu consultório se depara com situações onde a falta de informação e o despreparo emocional perante uma situação dessas, podem levar desde à desestrutura familiar ao final de uma carreira profissional.
Muitas vezes até, segundo ela, há um processo de vida adoecido, sendo agravado por uma série de patologias. “A impossibilidade de gerar filhos pode levar à sensação de completo fracasso”, argumenta. A psicóloga destaca que o primeiro passo é enfrentar o problema. “Encarar e aceitar o que você está sentido ajuda a suportar os sentimentos de tristeza e perda: é normal que a paciente sinta-se em uma das mais difíceis fases da vida, com um sério problema, sem saber que decisões tomar”, destaca.
Segundo Rose Mendonça, é importante que a pessoa entenda que não é culpada, pois esse tipo de pensamento negativo interfere nocivamente no processo psicoterapêutico, muitas vezes levando a paciente ou o parceiro a uma raiva de si mesmo desproporcional. Ela avalia que a participação do parceiro nesse momento é imprescindível.
(Foto: Arquivo pessoal)
Psicóloga Rose Mendonça diz que mulher não pode se sentir culpada
“Evite culpá-lo pela dificuldade em engravidar; trabalhem juntos cuidando um do outro para que possam combater o problema”, aconselha. Rose avalia que é importante que seja determinado um limite de tentativas e formas de tentativas de engravidar. “Com isso a mulher sente-se mais segura, além de ter um relativo controle sobre o lado financeiro diminuindo os índices de ansiedade. O tratamento de infertilidade requer tempo, dedicação e acompanhamento de um especialista”, avalia.
“É nesse momento onde a angústia e a ansiedade serão trabalhadas: durante a psicoterapia será possível aprofundar conteúdos íntimos da mulher ou do casal e oferecer acolhimento facilitando a elaboração de estratégias mentais para a preparação do luto e a solução do problema. Somente esse ambiente acolhedor poderá tocar em conflitos inconscientes mais profundos”, ressalta
Nenhum comentário:
Postar um comentário