Com os avanços da medicina, a experiência de quase-morte tem se tornado comum
Olívia de Cássia – Repórter
À medida que a medicina avança, a experiência de quase-morte (EQM) tem se tornado mais comum: técnicas de ressuscitação do coração e dos pulmões permitem o socorro de pacientes que, há algumas décadas, dificilmente, voltariam à vida. A discussão a respeito do tema vem de muito tempo e as opiniões se dividem: de um lado, pessoas que já viveram experiências assim, ou pessoas que vivem a espiritualidade; de outro, pessoas céticas, que não acreditam no assunto.
Saulo de Tarso, um médico alagoano que passou por uma experiência de EQM, falou à reportagem da Tribuna Independente sobre o fato. “Eu tive uma linda visão quando tive o segundo infarto do miocárdio e estava anestesiado e depois vim saber que passei por maus momentos”, observa.
O médico disse que se desligou da sala quando estava passando muito mal “e todos sabiam que eu iria operar. Vi luzes de todas as cores e em plena consciência de que algo difícil estava me acontecendo, via todo mundo na sala e me via também, pálido. Eu queria cuidar de mim e não podia; olhava para os monitores cardíacos e gritava para o anestesista: faz isso, faz aquilo e ninguém me ouvia, aí senti um sono profundo e uma mulher muito alta me disse: durma, teu mal foi embora”, destaca.
Saulo conta ainda que acordou com o cardiologista dizendo: “’Pronto, agora conseguimos desobstruir suas artérias; foste o paciente que mais me deu trabalho’. O cirurgião disse à minha filha médica e a minha esposa que eu não sairia da sala e que eu não voltaria mais vivo para casa”, observa.
O médico destaca ainda que todos da família choravam do lado de fora: “Enquanto eu tinha a ajuda de Deus. Era Nossa Senhora quem estava lá e ouvi dela coisas lindas, depois que saí da sala e me deram remédios para dormir, vi que todos choravam e mesmo assim adormeci; aí uma mulher alta e magra de azul disse-me: ‘teu povo chora porque eles não têm a tua fé, durma, eu cuidarei de ti até que te acordes e surpreenda a todos’”, pontua.
Segundo o médico alagoano, quando voltou a si estava sendo preparado para um transplante cardíaco: “O médico chegou a me informar, me deu um atestado de invalidez para eu me aposentar e tudo; aí fiz uma promessa com nossa senhora que, se ela intercedesse pela minha cura, eu rezaria por todos os meus inimigos três vezes ao dia e me salvei e faço isso todos os dias até hoje. O transplante foi desconsiderado e o atestado também. Vivo bem e dou plantões, estou firme”, ressalta.
Saulo acrescenta que depois disso foi estudar Teologia e dois anos Hebraico, para ler a Bíblia nessa língua e diz que se sente mais perto de Jesus.
Paciente teve um problema na face, dois enfartes e um edema pulmonar
Foto Sandro Lima
Aldemar Jambo-aposentado |
Seu Aldemar Jambo, 73 anos, residente atualmente na Praia do Francês, em Marechal Deodoro, conta que já vivenciou várias experiências que comprovam a existência de vida após a morte; mas disse que é difícil falar dessas experiências, porque as pessoas não acreditam.
Além de ter tido um problema grave na face, no final da década de 60 para começo dos anos 70; quase desenganado pelos médicos, ele passou por dois enfartes e um edema pulmonar e hoje faz caminhadas e vive confortavelmente no Francês. Aldemar Jambo observa que não tem religião: “Não frequento nenhuma, mas acredito em Deus e aí não preciso de religião. Até agora não vi necessidade”, ressalta.
O problema no rosto ele descreve que foi curado com a intervenção de um médico espírita, depois de estar internado e muito mal. Depois disso ele teve dois enfartes e um edema pulmonar. “Fui para a Santa Casa, dirigindo e passando mal, com braço ardendo; cheguei lá bem ruim e fui logo atendido, eles me levaram para a UTI, fizeram o procedimento devido e todo o tratamento, colocaram dois estentes cardíacos e eu passei mais de uma semana lá; quando eu saí, tive outro enfarte e voltei para o hospital”, observa.
Seu Aldemar conta que foi atendido por todos os médicos da Santa Casa e eles tiveram que fazer uma cirurgia às pressas, abriram-lhe o peito: “Além dos dois enfartes, eu tive um edema pulmonar; daí eu não lembro mais de nada. A parte que lembro é que eu estava numa maca, me senti flutuando e passei a viver deitado: eu saía passando pelas paredes da Santa Casa e percorri o hospital quase todo; tinha muito sangue, muitas coisas e mal-estar”, descreve.
Aldemar Jambo descreve ainda que nessa experiência, seu corpo foi seguindo, em direção a um local como se fosse uma caverna muito escura: “Eu entrei nessa caverna e vi mutilações, coisas horrorosas, e fui passando; vi pessoas em sofrimento, mas eu não senti medo, senti uma sensação muito gostosa e aí fui colocado em cima de uma pedra: depois que estava nessa pedra foi que vi uma luz, vindo em minha direção, até que eu ouvi me chamarem”, destaca.
Segundo ele, nesse momento em que ouviu lhe chamarem teve um susto: “Eles estavam me revitalizando; acordei assustado, mas a sensação na hora da luz era agradável e em nenhum momento eu tive medo. Aí retornei já tinham diversos médicos em volta, chamaram minha família e me recuperei aos poucos; depois que eu voltei, estava todo quebrado, não podia ficar deitado, tinha que ficar sentado, porque os pulmões ficavam cheios de líquido”, argumenta.
Aldemar Jambo pontua que nunca frequentou centro espírita: ele perdeu um filho de acidente automobilístico, na década de 90, e depois de dez anos de falecido o filho se comunicou com ele, por meio de uma carta psicografada. “Meu filho mandou outra mensagem, falando como estavam os familiares que já desencarnaram. Na carta há nomes dos familiares e a pessoa que psicografou nem me conhecia, não sabia nada da família. Eu tenho todas as provas, pelas experiências que eu já passei, que existe vida após a morte”, assegura.
“EQM é a comprovação da imortalidade da alma”, diz cardiologista
O médico cardiologista José Ricardo dos Santos, que também é presidente da Associação dos Médicos Espíritas em Alagoas e presidente do Lar São Domingos, observa que as experiências de quase-morte (EQM) são umas das mais contundentes comprovações da imortalidade da alma e da sobrevivência do espírito.
Ele avalia que é uma experiência muito interessante, porque as pessoas que passam por isso tiveram parada cardíaca comprovada: “O fluxo sanguíneo parou de circular e o cérebro também”. Segundo ele, essas pessoas, pelo menos um percentual delas, reanimadas com o choque elétrico, com as massagens cardíacas, quando recobram a consciência, lembram-se de ter tido experiências durante o período em que estiveram em parada cardíaca e com o cérebro sem funcionar.
Foto: Sandro Lima
O cardiologista destaca que as pessoas que passam por EQM “se veem fora do corpo, observam a equipe médica cuidando, fazendo a reanimação e se encontram com pessoas que já morreram: parentes, conhecidos”, ressalta. O médico diz que essa experiência é extremamente enriquecedora, porque as pessoas passam a dar valor às coisas mais importantes da vida, como: “As questões afetivas são tratadas com muito mais cuidado; questão das posses; da ambição; do orgulho; da vaidade”, argumenta.
PESQUISA
Ricardo dos Santos destaca ainda que existem hoje mais de 100 centros de pesquisa envolvendo a experiência de quase-morte. “O maior nome que estuda a EQM é o norte-americano Raymond Moody, que escreveu o best seller Vida Depois da Vida (1975). Foi a partir das pesquisas dele, que surgiram centros que estão pesquisando o fenômeno em várias partes do mundo, é um fenômeno que faz parte da pesquisa de comprovação da imortalidade da alma”, pontua.
O médico conta que teve uma paciente que era diabética e que se esqueceu de se alimentar e tomou insulina; por conta disso a glicose baixou demais e ela teve uma parada cardíaca e foi levada para o hospital. Segundo o relato do médico, essa paciente foi reanimada e quando acordou agradeceu a Deus por estar viva; disse que se viu fora do corpo, com uma criança no quarto.
“A criança tinha dois anos de idade e ela disse que tentava abraçá-la, mas não conseguia, porque as sensações que sentia eram diferenciadas e não conseguia falar com ninguém, nem ouvia, porque estava na sua condição espiritual, fora do corpo”. Indagado sobre pessoas que avaliam essas experiências como delírio, ele disse que o delírio só é possível se o cérebro estiver funcionando, porque senão não tem glicose; parada circulatória e o eletroencefalograma demonstra que não há nenhuma atividade elétrica no cérebro.
“Só pode ter sido de uma coisa extra cerebral. É extremamente frequente isso, há relatos de um centro de pesquisa nos Estados Unidos onde cerca de 30% das pessoas que têm parada cardíaca podem se lembrar de algumas vivências durante o período”, conta. O mais importante nessa pesquisa, segundo o médico Ricardo Santos, é quando ela é feita em crianças de quatro a cinco anos, que ainda não têm nenhum interesse religioso, nenhuma vinculação filosófica.
“A criança fala aquilo que está vivenciando espontaneamente; a experiência também independe da sensibilidade da pessoa, alguns pesquisadores dizem que é por falta de oxigênio no cérebro, mas quando isso acontece é uma confusão mental; é diferente”. Segundo o médico, algumas experiências não são válidas para a pesquisa. Só vale se tiver parada cardíaca e cerebral. “Nesses outros casos é experiência fora do corpo, é diferente”, explica.
Curado de câncer, jornalista diz que tem muito respeito pelo assunto
O jornalista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Regis Cavalcante, não passou por experiência de quase-morte, mas foi curado de um câncer, há décadas passadas, por um médico espírita. Ele falou à reportagem sobre o tema e disse que tem muito respeito pelo assunto.
Regis Cavalcante conta a sua experiência e diz que não tem receio de falar sobre isso. Ele disse que os médicos já tinham marcado uma cirurgia e atestado metástase nos seus pulmões. Nesse período, ele foi apresentado ao médico Edson Queiroz, que recebia a entidade doutor Fritz e pouco tempo depois foi assassinado. Regis argumenta que o médico fez os exames e disse que ele não precisava fazer a cirurgia.
“Eu não lembro, não senti nada, mas Eliane (esposa) disse que o médico (espírita) colocou umas agulhas nas minhas costas; eu tive uma experiência que não posso negar, diante das evidências. Eu sou uma testemunha viva e seria uma estupidez negar, diante das evidências; eu não esperava passar por isso e quando voltei a São Paulo não precisei mais operar”, relata.
Psicóloga diz que reencarnação é a prova de que existe vida após a morte
A psicóloga Cláudia de Bulhões avalia que existe vida após a morte e que a reencarnação é uma delas. “Não se pode dissociar mente de espírito; isso se pode comprovar pela evidência; nós podemos transitar pelo tempo através da memória”, observa. Cláudia de Bulhões foi aluna de Brian Leslie Weiss, psiquiatra e escritor norte-americano, pesquisador sobre o tema. Suas pesquisas incluem os temas reencarnação, terapia de vidas passadas, regressão a vidas passadas e sobrevivência do ser humano após a morte.
Psicóloga Cláudia de Bulhões. Foto: Adailson Calheiros |
Ela pontua que o nosso cérebro é uma caixinha preta: “Está provado que nosso cérebro traz coisas passadas que não foram resolvidas nessa vida e que deixam a pessoa emperrada; eu avalio que a vida após a morte é possível, porque nós temos o nosso momento, até o nosso momento para morrer, existem estudos científicos sobre isso”, explica. A psicóloga segue a linha existencialista e pontua que quando a pessoa tem a parada de todo o corpo humano e uma coisa espiritual diz que ele não podia morrer, ela volta.
“Não existe uma contestação entre o físico e o espiritual, apenas o que é predeterminado ou predestinado”, destaca. Segundo ela, nós temos que nos preparar para encarar isso como uma realidade: “Isto é energia, existe um fator energético, tanto existe que é o que não nos deixa voar: é a força da gravidade da terra”, conceitua.
Os espíritas avaliam que quando acontece uma situação de EQM e a pessoa retorna, “é porque ainda não era a hora dela”, segundo Tereza de Bulhões, historiadora, com formação em história antiga e em vidas passadas. O fotógrafo Ulisses Pinheiro disse que acredita em vida após a morte, pela análise de estudos de pesquisadores renomados em diversos países, incluindo no Brasil, integrando as diversas categorias profissionais, além do legado dos filósofos da antiga Grécia, notadamente dos Ensinamentos de Jesus Cristo.
REVISTA
A reportagem pesquisou em uma edição da Revista Superinteressante do ano de 2005, celebrando os 25 anos da publicação, que traz uma matéria sobre o tema, com o título: ‘Na fronteira da morte’ - A ciência começa a decifrar as experiências extraordinárias de quem quase passou para o lado de lá- e a revelar o que todos sentimos no fim da vida’. A matéria traz relatos de pessoas que passam pela experiência e fala também sobre a obra de Moody sobre EQMs, A Vida Depois da Vida.
Na pesquisa de campo para escrever o livro, esse autor catalogou 150 casos, que culmina em conclusões de forte inclinação espiritualista. “Por ser muito explorado em meios nada científicos, o assunto virou tabu”, afirma a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da UFRJ, para quem as experiências refletem reações normais de cérebros moribundos.
Segundo a revista, a situação começou a mudar na virada do milênio. “Sem ligar para a rejeição da academia, meia dúzia de corajosos dos EUA e da Europa entrou de avental e tudo nesse pântano entre a ciência, a religião e a filosofia. Seus trabalhos detectaram os processos cerebrais que detonam os eventos da experiência de quase-morte. E mais, fornecem indícios de que a luz no fim do túnel talvez seja experimentada por todo mundo na hora derradeira”, observa o texto.
Uma edição do Globo Repórter, disponibilizada na internet, com o título ‘A experiência de quase-morte, diz que “as visões de quem esteve à beira da morte são impressionantes” e traz dois personagens que descrevem uma experiência parecida com a de Aldemar Jambo.
Segundo a reportagem, médicos que trabalham em UTIs ouvem histórias ricas em detalhes. Relatos de pessoas que não admitem a possibilidade de terem tido alucinações. "Elas falam que isso foi a coisa mais real que já viveram na vida. E é isso que diferencia de uma experiência conduzida por uso de drogas, seja abusivo ou terapêutico", ressalta o neurocirurgião Paulo Porto de Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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