domingo, 11 de maio de 2014

Especialistas avaliam avanços e papéis assumidos pelas mulheres na sociedade

Léa Vergetti analisa como era ser mãe antigamente e diz que uma mãe que trabalhava fora tinha vantagens e desvantagens em relação às de hoje. Foto de Adailson Calheiros
Silvia Gomes avalia que ser mãe de antigamente ou nos dias atuais foi e será a maior realização de uma mulher. Foto: Arquivo do Facebook
Laudineide Cabral ressalta ainda que a maior dificuldade que encontrou na maternidade foi educar e ter que se afastar das filhas, quando eram pequenas, para ir trabalhar . Foto: Arquivo Particular



Mulheres falam da alegria e preocupações de serem mães nos dias atuais

Olívia de Cássia – Repórter

No segundo domingo de maio, a sociedade brasileira comemora o Dia das Mães: a data simboliza a luta e o papel exercido pela mulher na arte de criar e educar seus filhos. No tempo da pós-modernidade, em plena era da tecnologia e da livre informação, quando as mulheres conquistaram o direito de serem livres, o mercado de trabalho e o direito de decidirem sobre o seu corpo, ser mãe pode ter se tornado uma tarefa muito mais difícil do que no tempo das nossas avós e mães.

A Tribuna Independente ouviu especialistas sobre o papel da mulher na sociedade atual; a questão da maternidade e as conquistas que tiveram ao longo dos séculos, como a entrada no mercado de trabalho. Também ouviu mulheres, mães e avós, que relataram como é desempenhar esse papel, num tempo onde a maioria dos valores foram esquecidos e a mulher teve que se superar para exercer a maternidade, ser dona de casa, mulher e profissional.

Maria Aparecida Batista Oliveira. Arquivo do Facebook
A socióloga Maria Aparecida Batista Oliveira, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), observa que as mulheres foram inseridas em uma sociedade marcada pela ordem do sistema patriarcal e pela lógica da ideologia machista, durante um período de sua história, como no caso de nossas avós e mães. 

“O  lugar social destinado para as mulheres era o espaço doméstico a ela cabia lavar e passar roupa; cozinhar; limpar e arrumar a casa e cuidar dos filhos e filhas e também de sua educação”,  destaca.

A professora da Ufal  explica que nesse período histórico esse lugar representava para a mulher a responsabilização pela geração, bem-estar e educação da prole, e por outro lado a dependência, a submissão, bem como o controle de sua sexualidade pelo gênero masculino.

“Assim sendo é justificada a concepção de que a esfera privada será o lugar privilegiado das mulheres já que elas ideologicamente representam a afetividade; o desejo; a fragilidade e a abnegação, enquanto o espaço destinado ao homem é o publico, o racional e o politico. Por isso mesmo a sociedade decanta a bonita tarefa de ser mãe, à medida que está em suas mãos o futuro e a beleza dos filhos”, pontua.

Aparecida Oliveira ressalta que não é tarefa fácil ser mãe, mas com toda a complexidade que a maternidade apresenta, as mulheres mães afirmam em seus depoimentos o prazer de serem mães e a realização de seu ser mulher. Segundo a socióloga, ser mãe é extremamente prazeroso e proporciona  alegria e satisfação para as mulheres, mas é importante destacar a complexidade desse papel,  na sociedade atual.

 “É preciso que todos os atores sociais ( homem e mulher) construam estratégias de negociação, parceria e a efetiva valoração da maternidade e do poder feminino, para que, juntos, possam se constituírem  como trabalhadores e trabalhadoras responsáveis pelos filhos.

PSICÓLOGOS AVALIAM

Papel da mulher se modificou, mas é preciso ter dosagem e equilíbrio

O psicólogo Raffael Gonçalves fez uma rápida avaliação do papel exercido pelas mães atuais em comparação às mães de antigamente e observou que hoje os costumes mudaram, com a ida da mulher para o mercado de trabalho que, de certa forma, a ‘distanciou’ da família.  Raffael Gonçalves avalia como positivo a independência da mulher, do ponto de vista financeiro, fato que a possibilitou “que seja uma mãe solteira, sem a cultura machista de agressões e a colocou em uma condição mais central da família”, argumenta.

Segundo ele, a depender da mãe, se há um afastamento, é importante que tanto as mulheres quanto os homens observem isso, pois quando elas se entregam demais ao trabalho e à profissão, há uma carência na educação dos filhos, que termina ficando a cargo da escola. Nesse caso, segundo observa, é importante que haja um equilíbrio.

Com relação às conquistas que as mulheres mães de hoje tiveram, Raffael Gonçalves  destaca  que tanto mães quanto os pais devem ter uma visão quanto à responsabilidade que assumiram. “A mulher assumiu funções importantes no mercado de trabalho e quando a família passa a ter essa ajuda financeira, não pode deixar de se importar com os filhos e com o seu desenvolvimento”, destaca.

ACOMPANHAMENTO

Edberto Lessa Wanderley também é psicólogo e por telefone destacou alguns pontos sobre o tema da maternidade nos dias atuais. Segundo ele, o papel da mulher na se modificou completamente: “A mulher já não é aquela mãezona que apenas cuidava da casa, do marido e dos filhos. São poucas aquelas que abdicaram da profissão, ou sacrificaram um pouco a atuação no mercado de trabalho, para acompanhar a rotina dos filhos; é muito difícil”, observa.

Ele avalia que é importante que haja um acompanhamento, não só da mãe, mas também do pai, no cotidiano dos filhos. “Só trabalho para juntar dinheiro e dar todo o conforto para os filhos, sem amor e afeto,  não é o aconselhável, pois mães que trabalham muito sem se preocupar com os filhos, chegam em casa estressadas e vão descansar ou saem para se divertir, sem observá-los e acompanhá-los”. O ideal, segundo ele, “é que haja uma dosagem para que se tenha um equilíbrio”, argumenta.

A respeito de mães que lutam com filhos dependentes químicos, Edberto Wanderley observa que muitos casos estão relacionados “com esse desleixo involuntário de algumas mães, pois elas nunca acham que o filho vai por esse caminho e acabam se descuidando um pouco”, quando menos espera, está com o problema da dependência em casa.

Dificuldade foi educar e encaminhar para a vida


Laudineide Cabral 
A professora Laudineide Cabral tem duas filhas que já são casadas e mães também. Ela avalia que ser mãe nos dias atuais é, além das obrigações normais do dia, tentar educar e encaminhar para a vida da melhor forma possível. Para a professora, ser mãe foi a melhor coisa que me aconteceu na sua vida.

Laudineide Cabral ressalta ainda que a maior dificuldade que encontrou na maternidade foi educar e ter que se afastar das filhas, quando eram pequenas, para ir trabalhar tendo que deixá-las com um vizinho ou babá e principalmente orientá-las na adolescência.  “Foi muito difícil, pois eu não tinha minha família perto, precisava deixar com desconhecidos; muitas vezes minhas filhas estavam doentes e eu entrava em desespero”, destaca.

Ela analisa que a vida moderna dificulta na educação dos filhos, pois os pais não têm mais a “privacidade de ‘tentar’ retardar o conhecimento dos filhos a respeito de certos assuntos, quando não é o momento de conhecerem a respeito deles; com a internet e televisão, fica quase impossível conseguir”, destaca.
Diferente de muita gente que defende a abertura total na internet e na televisão sobre todos os temas, a professora avalia que deveria existir ‘censura’ nas emissoras, nos horários inconvenientes.

 “Na internet está tudo muito aberto e de fácil acesso; é complicado demais. Com isso, só com muito diálogo e conscientização de todos os males que a vida pode trazer, como amizades erradas e más companhias; curiosidades comuns da idade; podemos mostrar o lado positivo e negativo de tudo, para que tenhamos um controle a respeito do que os filhos estão fazendo”, argumenta.

Mãe de ontem e avó de hoje analisa a maternidade

Foto de Adailson Calheiros
A professora aposentada Léa Borges Vergetti, residente do Residencial Recanto da Serraria, diz que é mãe de antigamente e avó atual e presente, pois os netos moram vizinhos e vivem mais na casa dela do que em casa. Dois já são adolescentes e o pequeno é autista. Léa Vergetti analisa como era ser mãe antigamente e diz que uma mãe que trabalhava fora tinha vantagens e desvantagens em relação às de hoje.

“A vantagem era que antes você encontrava pessoas de confiança e que precisavam trabalhar para cuidar das crianças; tudo era mais trabalhoso, pois não tinha máquina de lavar, nem fraldas descartáveis. Quando tinha bebê numa casa você sabia logo pela quantidade de fraldas no varal; eu mesma tinha cem; isso tudo lavado à mão”, observa.

Ela destaca que em compensação aos dias atuais, antigamente não havia violência: “A gente ia trabalhar fora, cansada, mas tranquila. As crianças eram mais sociáveis, pois tinham vários amigos nas brincadeiras; eles mesmos faziam a maioria dos brinquedos, pois os industrializados eram muito caros; só ganhavam no aniversário e no Natal. Também não tinham tantas novidades e o apelo do consumismo era pouco”, explica.

Léa Vergetti avalia que hoje a coisa mudou: “Não se encontra mais quem queira trabalho doméstico;  todo mundo tem Bolsa Família; uma boa creche custa muito caro e você sabe que o salário do trabalhador no geral é baixo. As escolas também são caras e as mães de classe média que  trabalham fora hoje, sofrem mais que as de antes e têm que contar com as avós para ajudar”, destaca.

Essa mãe de antigamente e avó presente de hoje ressalta que as crianças também mudaram e já não brincam tanto juntos. “Às vezes por falta de espaço ou por conta da violência das ruas”.  Ela destaca que as opções de brinquedo das crianças de hoje são muitas: “Novos jogos, internet e outros”.

Léa Vergetti observa ainda que hoje as crianças se comunicam mais com a ponta dos dedos do que oralmente. “Aqui onde nós moramos, por ser um condomínio de casas, as crianças ainda brincam na rua e jogam bola, mas eu tenho um sobrinho que dá dó: no prédio onde mora, só tem ele de criança”, ressalta.

 Tecnologia sem limites dificulta relacionamento entre mãe e filha

Mãe de uma adolescente de 15 anos, a técnica de enfermagem Silvia Maria Gomes, servidora do Hospital Geral do Estado (HGE), confessa que o mundo atual a assusta, diante de tantos acontecimentos.

 Ela observa que a tecnologia sem limites e pessoas com pensamentos distintos fazem com que não seja fácil ser mãe nos dias de hoje. “A tecnologia sem limites, o convívio com outras pessoas de outros pensamentos fazem com que não seja nada fácil ser mãe nos dias de hoje”, destaca.

Silvia Gomes avalia que ser mãe de antigamente ou nos dias atuais foi e será a maior realização de uma mulher; “pelo menos para mim, em especial: tive Victória aos 35 anos, depois de uma luta de 12 anos; engravidei cinco vezes e dessas cinco gestações ficou ela”, conta.

A servidora do HGE, que está desviada da função depois de um câncer na mama, observa que procura acompanhar o tempo, “com ela dentro desse tempo. Procuro ouvir suas opiniões, discuti-la, concordar às vezes e argumentar, mostrando o lado ruim e o lado bom do assunto debatido. Quando eu comecei a trabalhar fora, Victória tinha três anos e eu tive que me ausentar dois dias na semana, pois tinha que viajar”, destaca.

Silvia Gomes mora em União dos Palmares e trabalha no HGE. “É muito difícil o período de adaptação; na verdade, sempre foi muito ruim para nós duas, mas sempre conversei com ela que o meu trabalho era o meu prazer, que eu gostava de trabalhar e era necessária essa forma de vivermos; sempre nos entendemos, ela é muito centrada e isso sempre me ajudou”, destaca.

A auxiliar de enfermagem conta que na verdade, às vezes se sente mais filha e ela a mãe: “Existe o respeito, porque existem os limites de mãe e filha: tudo tem que ter limites. A  modernidade é notável e necessária para a evolução, apesar de que, se pusermos regras, eles querem dominar o tempo; a vida deles e as nossas vidas.  Adoro ser cúmplice dela e vice versa; ser mãe é a primeira maravilha do mundo”,  pontua Silvia Gomes.

AJUSTE

A profissional liberal Roberta Costa diz que a mulher nos dias de hoje tem que ser uma “supermulher”, ajustando horários com atribuições profissionais, mas não pode esquecer também dos momentos de lazer e do sexo. “Tem que ser completa e completar marido e filhos”, observa.

Segundo Roberta Costa, a mulher sente-se plena: “Mulher em todos os sentidos, até podendo se comparar a Maria, a mãe de todas as mães”. Ela argumenta que as maiores dificuldades que as mulheres encontram atualmente são: pagar as contas, ter que fazer a junção de dificuldades e lazer; ao contrário das outras mulheres entrevistadas ela observa que a vida moderna facilita a educação dos filhos: “A tecnologia ajuda em tudo”, destaca.

Num depoimento muito rápido, Noélia Costa Amaral, presidente do Fórum Permanente de Combate às Drogas, em Alagoas, falou à reportagem sobre as dificuldades de ser mãe. Noélia Costa tem três filhas e disse que foi muito difícil criá-las e educá-las.

 “Eu trabalhava fora, os três horários, trabalhava muito e tinha que deixá-las com a secretária; mas hoje, graças a Deus, elas estão criadas e casadas e o que deixei de bom para elas foi educar para uma vida saudável, valores e princípios; mas foi tudo muito sofrido”, explica.

Filhos relatam como é conviver com mães modernas

A jornalista Mariana Vasconcelos tem 30 anos, mora com os pais  e diz que a mãe começou a trabalhar muito nova; tinha jornada tripla- dois empregos e à noite ela era esposa e mãe. Após 17 anos de trabalho, a mãe de Mariana optou por aderir ao Plano de Demissão Voluntária, em 1996 e, de lá para cá, a dedicação é integralmente à família.

“Mesmo trabalhando muito, não tenho lembranças de minha mãe ausente, ao contrário; ela sempre compensava. Lá em casa somos quatro: meus pais, eu e meu irmão. Nossa família sempre foi unida, mantemos a tradição de fazer as refeições juntos, mesmo depois que crescemos e passamos a trabalhar, bem como a de dar boa noite e um beijo em cada um antes de dormir. Isso faz a gente ser grato ao outro por tê-lo em nosso dia e por todos terem voltado pra casa bem. Esta forma de viver em família eu quero manter e seguir quando tiver a minha”, revela. 

Segundo Mariana, em tempos mais agitados, “saíamos para o trabalho e ela ficava em casa. Eu achava interessante como ela realmente gostava de ficar na casa, fazendo as coisas que ela gostava de fazer. Hoje, com meu pai também em casa, os dois fazem as programações juntos; caminham na praia, fazem pilates, têm uma vida a dois e em família, sossegada, saudável e tranquila”, destaca.

Mariana ressalta que quando a gente cresce é que passa a entender melhor as decisões e as reações em cada situação. “Admiro demais minha mãe pela personalidade, pelo amor que ela nos transmite, pela forma como ela cuida de nós, sempre nos mostrando o lado da paz, da boa convivência com as pessoas e principalmente pela força que ela tem quando é preciso tê-la. Devido à base que formamos graças aos ensinamentos do amor de mãe, e do pai também, é que posso dizer que somos uma família muito feliz e que eu e meu irmão, temos uma mãe muito especial e imensamente amada por todos nós”, ressalta.

TECNOLOGIA

O jornalista Bruno Martins destaca que tem uma mãe moderna e que isso não o incomoda, pelo contrário. "Minha mãe despertou realmente para a modernidade quando adquirimos o primeiro computador, no final de 2002. O artefato ficava no meu quarto, mas sempre que estava disponível ela utilizava; assim foi feito o primeiro e-mail dela que abriu espaço para a febre do bate-papo disponível no MSN”, explica.

Com isso, segundo ele, era comum ver a sua mãe varando as madrugadas conversando com amigos e familiares no ambiente virtual. “O acesso aos downloads de música a empolga até os dias de hoje; ela  também é ouvinte das rádios disponíveis na internet”, observa.

“Do computador, a febre passou para os smartphones que a mantém conectada até fora de casa. Além do Facebook, ela mantém seus perfis no Orkut, Instagram e Foursquare, rede social para fazer os check-ins e informar os amigos em que localidade ela está”, conta o jornalista.

Segundo Bruno, a mãe é tão moderna e antenada em tecnologia que “só para se ter uma ideia do vício em tecnologia, hoje, no quarto dela, encontram-se um computador, um notebook, dois celulares com acesso à internet. Dessa forma, o presente do dia das mães não podia ser outro que não o “gadget” que ainda faltava, um tablet”, confessa Bruno. 

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