quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Digressões no Dia da Emancipação


Olívia de Cássia – jornalista

(Texto e fotos)

Hoje, 16 de setembro, é o Dia da Emancipação Política de Alagoas, essa terra tão linda que se ressente da falta de maiores cuidados e que é tão divulgada negativamente lá fora. Antigamente, nessa data, na década de 70, quando eu morava em União dos Palmares, costuma vir para Maceió, com alguma amiga, para ver o desfile das bandas dos colégios que era realizado no Estádio Rei Pelé, o Trapichão.
Naquela época era uma verdadeira festa e o evento atraia muita gente ao estádio. Quase sempre eu chegava à véspera ou logo cedo no mesmo dia, para aproveitar o sol da manhã e ir à praia, porque o desfile desse dia sempre foi realizado à tarde. Vinham verdadeiras caravanas dos interiores para a capital, com a finalidade de participar da festa da emancipação política do nosso Estado.
Já não se tem o mesmo entusiasmo de antigamente para esse tipo de evento, até porque as opções de diversão hoje em dia são maiores do que naquela época, que quase não se tinha nada para se fazer e a data era sempre um grande acontecimento em Maceió.
Nesta quinta-feira, eu fiz a viagem inversa: viajei a União dos Palmares para matar a saudade da terrinha, fazer algumas visitas aos amigos e familiares, até para me fortalecer mais um pouco e tocar a vida, que não tem sido muito maleável para mim.
Novamente eu visitei a beira do rio, onde existiu a Rua da Ponte. Não tem jeito, uma força maior me puxa para lá. Cada vez que vou ali e vejo tudo destruído me dá um aperto no peito, um nó na garganta e uma vontade de chorar incontida. O cenário é tão feio, tão vazio, tão diferente que só quem viveu e andou muito por ali é capaz de sentir essa angústia danada que a gente sente.
Depois de amanhã vai fazer três meses da enchente que destruiu cidades de Alagoas e Pernambuco. Fiquei por um tempo ali, com meu irmão Paulinho, procurando descobrir a localização das casas, mas é quase impossível.
Não restou nada, nenhuma referência do nosso passado e a gente fica apontando cantos no monte de escombro e terra. Na beira do rio há muitos restos de construção e muita coisa o rio levou para o seu leito ficando mais assoreado ainda.
Ficamos ali divagando, tentando adivinhar os locais onde costumávamos pescar e tomar banho quando éramos crianças. Exercícios de suposições para descobrir onde ficavam os quintais onde muito brincamos, mas não existe mais nada ali, tudo se foi, o Mundaú levou tudo.
Conversamos à beira do rio sobre a nossa rotina e atualizamos os fatos acontecidos. Ando divagando ultimamente a respeito de muita coisa em minha vida, não só por causa dessa enchente que trouxe a catástrofe para nossa querida terrinha e que dela poderemos num futuro tirar alguns ensinamentos.
Cheguei à conclusão, depois dessa conversa com meu irmão e familiares, depois de muito divagar na viagem de volta para Maceió, que não há nada mais triste e constrangedor do que você constatar que se enganou tanto com relação a uma pessoa, principalmente àquela que você dedicou todo o seu carinho e atenção.
É um sentimento de frustração, decepção, sensação de fracasso diante das coisas da vida que a gente fica até sem rumo, sem direção. É o mesmo sentimento diante de uma tragédia, de uma paisagem de terra arrasada. Parece que não restou nada. A vida vai aos poucos nos dando muitas rasteiras e vamos percebendo o quanto fomos ingênuos em nossas vivências.
São aprendizados que só o tempo vai dispondo para que a gente perceba que o ser humano é passível de muitas falhas e muitas vezes fraco diante das intempéries da vida, se entregando à ganância por causa de dinheiro. E vemos nossos sonhos destruídos pelo tempo, por essas decepções e amarguras que temos na vida.
A gente nunca conhece o outro, por mais que viva por perto. Achamos sempre que aquele ente querido nunca vai nos magoar nem nos decepcionar. Mas eis que chega o destino e nos prega uma peça-surpresa e descobrimos que a alma humana é capaz de trair, tripudiar, passar por cima e ainda achar que tem razão. Foram essas as digressões e constatações de hoje, na minha viagem à terra querida. É a vida.

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