Apesar das dificuldades, time faz trabalho social
com alunos de escola pública de Maceió
Olívia de Cássia - Repórter
Jovens de vários bairros da capital alagoana da equipe do Maceió Rugby praticam o esporte há nove anos, treinam três dias da semana na quadra de esporte em frente ao Hotel Enseada, na Pajuçara, mas ainda não têm patrocínio do poder público.
O apoio que o time precisa, por meio de recursos estaduais e do município ainda não foi possível, porque a equipe não tem o CNPJ para que possa ter patrocínio nas competições, mas os participantes esperam que tão logo a documentação fique pronta, venham os apoios necessários.
Quando a turma precisa viajar, faz vaquinhas ou pedágio nos sinais de trânsito da capital alagoana e cada viagem para fora do Estado implica em custo elevado e se torna quase inviável sem patrocínios fixos, apenas com os apoios esporádicos recursos dos próprios jogadores e pequenos outros incentivos de colaboradores.
Apesar disso, os atletas do Maceió Rugby desenvolvem trabalho de responsabilidade social com alunos da Escola Campos Teixeira, do bairro da Ponta da Terra e dão treino pelo Projeto Escola para crianças e adolescentes carentes.
Os alunos recebem lições de disciplina e boa conduta, além do esporte e o raciocínio lógico. “Eles aprendem o rugby tag, para sair desse mundão que é meio perdido e para participar o aluno tem que ter boas notas e frequência na escola”, explica André de Souza, pilar direito do time.
André de Souza observa que os alunos que estudam de manhã praticam o esporte à tarde e vice-versa. “O rugby exige disciplina: o respeito dentro e fora do campo e se o aluno faltar aula, não participa; se falta às aulas com frequência será cortado do esporte. É uma coisa boa para eles e para a gente também”, explica.
O pilar direito acrescenta que é tradição no rugby a confraternização, um chamado terceiro tempo, quando são finalizadas as partidas e os atletas vão se confraternizar. “A disputa, a rivalidade é só no campo, quando sai existe aquela amizade, é isso que esse esporte traz: é o que gosto nele, os meninos saírem de suas casas para praticar o esporte e ocupar a cabeça com algo positivo”, argumenta.
Pedro Ernesto, treinador do time, trabalha com o esporte há quase quinze anos
Pedro Ernesto é paulista, formado em Publicidade e Propaganda e é o treinador do Maceió Rugby há um ano e meio; diz que trabalha com o esporte há quase quinze anos. “Comecei a jogar em São José dos Campos, uma cidade conhecida como a capital do rugby e a apitar os campeonatos da Federação Paulista e da Confederação Brasileira”, destaca.
Em Maceió, Pedro Ernesto conta que tem uma gráfica, se mudou por conta do trabalho da esposa. “Já existia um time que estava mal das pernas e tinha um treinador que foi embora para Arapiraca e fui convidado para assumir a vaga”, explica.
O treinador destaca o projeto da escola, apadrinhado pela equipe do Maceió Rugby, e observa que essas crianças precisam de um olhar especial. “A gente vai criando apego; o impedimento é financeiro. Eu dou treino no colégio, posso ir porque não tenho emprego, tenho minha empresa, trabalho em casa e há disponibilidade”, pontua.
Pedro argumenta que se tem apoio, grana, daria para participar de torneios em outros estados. “A escola ajuda, abre a quadra, o horário, mas não tem como colocar na receita, não pode tirar, a única dificuldade é essa, mas não tem recompensa melhor do que um abraço”, observa.
Atleta da equipe feminina destaca que o esporte melhora o condicionamento físico
Natália Momberg é atleta da equipe feminina do Maceió Rugby e disse que na última etapa de João Pessoa a equipe participou com 16 meninas. “Eu entrei no time tem pouco tempo, vai fazer seis meses; existe uma rotatividade na equipe feminina, mas aqui temos um time mais consolidado: tem aparecido meninas novatas querendo participar”, explica.
Segundo a atleta, o rugby melhora o condicionamento físico: “Para mim me deixou muito mais ativa do que quando eu não estava praticando esporte; fortalece os músculos, é preciso ter um treinamento baseado em força e o rugby tem essas vantagens”, pontua.
“O time feminino só joga sevens, que é um jogo muito rápido e com muita corrida; a gente precisa ter treinamento de resistência para aguentar a corrida, segurar o tempo de jogo e de força. A gente tem momento de explosão dentro do jogo e tem que trabalhar muito resistência física e fortalecimento”, comenta.
Secretário jurídico fala de como tudo começou
Octávio Augusto Vieira é secretário jurídico do Maceió Rugby, número três e pilar esquerdo do time e conta que a turma mais antiga começou tentando jogar futebol americano: “Só que a bola que eles conseguiram foi uma bola de rugby, aí eles começaram a estudar sobre o esporte”, destaca.
A reportagem do Primeiro Momento pesquisou que jogos com bola e contato físico são praticados pela sociedade humanas há milênios. “Os romanos, por exemplo, praticavam o harpastum, muito semelhante ao rugby moderno, no qual os atletas jogavam em equipes e buscavam levar uma bola à outra extremidade da quadra de jogo, empurrando os oponentes”.
Autores antigos como Ateneu, Galeno, Sidônio Apolinário e Júlio Polux relatam a prática contemporânea. Na Itália, na região de Florença, floresceu o Calcio, cujas regras foram formalizadas em 1580, segundo as quais duas equipes com 27 jogadores deveriam conduzir a bola até o outro lado do campo adversário, em dois tempos de 50 minutos, contando ainda com juízes de campo e de linha
Os celtas, por sua vez, praticavam o Caid, ao qual se atribui grande influência sobre o rugby. Como afirma o historiador Hilário Franco Júnior, os jogos com bola são manifestações antropológicas, comuns a diversas sociedades humanas ao longo dos séculos.
Octávio Augusto destaca que rugby é uma disputa de território e que ajuda o atleta a pensar rápido. Uma partida desse jogo tem duas partes de quarenta minutos. E o objetivo é fazer maior número de pontos. Cada time no rugby tem 15 jogadores titulares e seis reservas.
“Nasceu antes do futebol americano, por volta de 1836, na Inglaterra, numa partida de futebol, na cidade de mesmo nome e reza a lenda que grupo de universitários estava treinando, um jogador pegou a bola e saiu com a bola na mão disputando o campo e daí nasceu essa disputa”, explica.
Ele ressalta que são 50 linhas, 50 metros e elas vão se dividindo em linhas de 20 e de dez até o tray (gol); essa linha na barra, que a gente chama de agá; o futebol americano usa o ypsilon. “O objetivo é a bola iniciar a marcação e impedimento; a bola é como se fosse uma bandeira, ela vai ganhando territórios”, ensina.
Segundo Octávio, quanto mais o time vai ganhando territórios, até o ponto de o atleta chegar ao território do adversário, que é o tray, uma linha do in gol, de cinco metros atrás que vai da barra do agá “e temos que colocar a bola nesse espaço, ela cobre toda a lateral do campo e tenho cinco metros para conseguir colocar a bola ali dentro, eu marco um ponto, equivalente a um gol, que no rugby tem uma coisa parecida que os americanos fazem, que aqui a gente chama de conversão”, destaca.
O secretário do time pontua ainda que a conversão, “quando o atleta chuva a bola da mesma linha onde eu a coloquei no chão e esse chute me converte mais três pontos, então o total eu consigo cinco pontos. O rugby é um jogo mais corrido, mais dinâmico. Se fosse para diferenciar eu diria que o FA é um pouco mais estratégico, tem muitas pausas”, pontua.
O atleta comenta ainda que “o rugby tem uma trombada, um contato mais programado, uma coisa mais técnica, um jogo completamente corrido: tem dois tipos de jogo; o bola viva e o bola morta. O jogo do tipo bola morta é quando eu cometo um penal; paro o jogo e vou dar oportunidade de os times estarem iguais”, observa.
Octávio argumenta também que o rugby é um jogo muito honesto, que impõe respeito, com tratamento polido entre os atletas. “Ninguém fala com árbitro que não seja com a referência de meu capitão e todas as reclamações são para ele”.
Se o atleta sofrer um jogada desleal, ele destaca que é comunicado ao capitão e ele vai organizar a situação: “O rugby é um jogo de cavalheiros; o atleta tem que estar presente na jogada, você tem que estar atento porque a qualquer momento pode ter um impacto e é um jogo que ‘abusa’ da capacidade física e mental. O atleta tem que aproveitar as regras, o rugby não é um jogo de força”, explica.
Diferente do que se pensa, o secretário jurídico do time comenta que o que menos se usa no rugby é a força. “É um jogo de pensamento rápido e não se joga pra frente: a jogada é para trás, é um jogo fiel à regra. Eu gosto desse método regrado, porque eu não consigo, por exemplo, roubar uma bola e jogar para frente. Eu tenho que conquistar o meu time, galgo cada metro; impõe muita disciplina”, reforça.
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