Olívia de Cássia – jornalista
A inquisição ou ‘Santa Inquisição’ foi um período de
vergonha na história da humanidade, em que em nome de uma crença religiosa se
matou e levou à fogueira vários personagens, mulheres e homens que eram contra
os dogmas pregados pela igreja. Uma vergonha para a história.
Fazendo uma pequena incursão pela história, para reacender
um pouco a memória de quem já esqueceu, o Tribunal do Santo Ofício da
Inquisição, fundado pelo Papa Gregório IX, mandou para a fogueira milhares de
pessoas que eram consideradas hereges, por praticarem atos considerados
bruxaria, heresia ou simplesmente por serem praticantes de outra religião que
não o catolicismo.
Para avivar a memória de muitos, é só dar uma passada nos
livros de história e na internet também, para constatar que estamos
presenciando, em pleno século XXI, numa época de avanços tecnológicos, que
alguns setores da humanidade estão retrocedendo.
O retrocesso é visto pelas redes sociais e também até nos
campos de futebol, com manifestações de intolerâncias religiosas e doutrinárias
tais quais aquelas que vemos, guardadas as devidas proporções, todos os dias,
nesses locais.
A Inquisição da atualidade está revelada na intolerância de
setores da sociedade burguesa, em personagens atrasadas do Congresso Nacional,
que foram colocados lá por pessoas que pensam da mesma forma e têm se
expressado com tamanha virulência, fazendo tremer no túmulo o mais medieval dos
pensadores.
Naquela época, mais terrível que qualquer episódio da
história humana até então, a Inquisição enterrou a Europa sob um milênio de
trevas deixando um saldo de incontáveis vítimas de torturas e perseguições que
eram condenadas pelos chamados “autos de fé” – ocasião em que é lida a sentença
em praça pública.
O cientista Galileu Galilei foi um exemplo bastante famoso
da insanidade cristã na Idade Média: ele foi perseguido por afirmar através de
suas teorias que a terra girava em torno do sol e não o contrário.
Outros como Giordano Bruno, o pai da filosofia moderna, e
Joana D’Arc, que afirmava ser uma enviada de Deus para libertar a França e
utilizava roupas masculinas, foram mortos pelo Tribunal do Santo Ofício.
Também uma lista de livros proibidos foi publicada, o ”Index
Librorum Prohibitorum”, através do qual diversos livros foram queimados ou
proibidos pela Igreja. O Tribunal era bastante rigoroso quanto à condenação. O
réu não tinha direito de saber o porquê e nem por quem havia sido condenado,
não tinha direito a defesa e bastavam apenas duas testemunhas como prova.
Felizmente a Igreja Católica respira outros ares, desde as
ideias pregadas por Dom Helder Câmara, o Papa João Paulo II e agora o nosso
querido Francisco, entre outras personalidades que valem a pena ainda
acreditar.
Minha professora de História e Francês no ginásio, em União
dos Palmares, na década de 1970 do século passado, dona Salomé da Rocha Barros,
uma mulher inteligente, repetia sempre nas aulas que proferia em sala de aula
que o homem (ser humano) iria evoluir tanto que voltaria à idade da pedra
lascada e cozinhar em fogão à lenha.
Eu nunca me esqueço dessa frase da saudosa professora e ela
me serve sempre de exemplo, quando vejo em pleno século XXI manifestações de
retrocessos da alma de pessoas que estão se mostrando como são verdadeiramente
nas redes sociais.
É um discurso enfadonho de ódio e intolerância contra
crenças religiosas, ideologias políticas e um pensar diferente, que me deixa
acabrunhada e envergonhada; nos meus 55 anos de vida, nem na época da ditatura
militar, me deparei com tanto atraso e retrocesso.
É vergonhoso a gente ler as opiniões sem embasamentos
filosóficos ou teóricos, que destrincham ódio virulento, pregando discórdias,
fogueira, morte e trucidamento de pessoas. Na minha mente já calejada pelo
tempo nunca tinha presenciado tanto desconforto.
E me vem a lembrança da menina que sempre fui, inquieta e
inconformada com esse tipo de comportamento e com o que estava imposto e
estabelecido. Sempre lutei contra isso e vou continuar lutando, até o fim dos
meus dias. Daqui a pouco vão me condenar à fogueira também. Para refletir.
Fiquem com Deus.
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