terça-feira, 16 de junho de 2015

A inquisição da atualidade



Olívia de Cássia – jornalista

A inquisição ou ‘Santa Inquisição’ foi um período de vergonha na história da humanidade, em que em nome de uma crença religiosa se matou e levou à fogueira vários personagens, mulheres e homens que eram contra os dogmas pregados pela igreja. Uma vergonha para a história.

Fazendo uma pequena incursão pela história, para reacender um pouco a memória de quem já esqueceu, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, fundado pelo Papa Gregório IX, mandou para a fogueira milhares de pessoas que eram consideradas hereges, por praticarem atos considerados bruxaria, heresia ou simplesmente por serem praticantes de outra religião que não o catolicismo.

Para avivar a memória de muitos, é só dar uma passada nos livros de história e na internet também, para constatar que estamos presenciando, em pleno século XXI, numa época de avanços tecnológicos, que alguns setores da humanidade estão retrocedendo.

O retrocesso é visto pelas redes sociais e também até nos campos de futebol, com manifestações de intolerâncias religiosas e doutrinárias tais quais aquelas que vemos, guardadas as devidas proporções, todos os dias, nesses locais.

A Inquisição da atualidade está revelada na intolerância de setores da sociedade burguesa, em personagens atrasadas do Congresso Nacional, que foram colocados lá por pessoas que pensam da mesma forma e têm se expressado com tamanha virulência, fazendo tremer no túmulo o mais medieval dos pensadores.

Naquela época, mais terrível que qualquer episódio da história humana até então, a Inquisição enterrou a Europa sob um milênio de trevas deixando um saldo de incontáveis vítimas de torturas e perseguições que eram condenadas pelos chamados “autos de fé” – ocasião em que é lida a sentença em praça pública.

O cientista Galileu Galilei foi um exemplo bastante famoso da insanidade cristã na Idade Média: ele foi perseguido por afirmar através de suas teorias que a terra girava em torno do sol e não o contrário.
Outros como Giordano Bruno, o pai da filosofia moderna, e Joana D’Arc, que afirmava ser uma enviada de Deus para libertar a França e utilizava roupas masculinas, foram mortos pelo Tribunal do Santo Ofício.

Também uma lista de livros proibidos foi publicada, o ”Index Librorum Prohibitorum”, através do qual diversos livros foram queimados ou proibidos pela Igreja. O Tribunal era bastante rigoroso quanto à condenação. O réu não tinha direito de saber o porquê e nem por quem havia sido condenado, não tinha direito a defesa e bastavam apenas duas testemunhas como prova.

Felizmente a Igreja Católica respira outros ares, desde as ideias pregadas por Dom Helder Câmara, o Papa João Paulo II e agora o nosso querido Francisco, entre outras personalidades que valem a pena ainda acreditar.

Minha professora de História e Francês no ginásio, em União dos Palmares, na década de 1970 do século passado, dona Salomé da Rocha Barros, uma mulher inteligente, repetia sempre nas aulas que proferia em sala de aula que o homem (ser humano) iria evoluir tanto que voltaria à idade da pedra lascada e cozinhar em fogão à lenha.

Eu nunca me esqueço dessa frase da saudosa professora e ela me serve sempre de exemplo, quando vejo em pleno século XXI manifestações de retrocessos da alma de pessoas que estão se mostrando como são verdadeiramente nas redes sociais.

É um discurso enfadonho de ódio e intolerância contra crenças religiosas, ideologias políticas e um pensar diferente, que me deixa acabrunhada e envergonhada; nos meus 55 anos de vida, nem na época da ditatura militar, me deparei com tanto atraso e retrocesso.

É vergonhoso a gente ler as opiniões sem embasamentos filosóficos ou teóricos, que destrincham ódio virulento, pregando discórdias, fogueira, morte e trucidamento de pessoas. Na minha mente já calejada pelo tempo nunca tinha presenciado tanto desconforto.


E me vem a lembrança da menina que sempre fui, inquieta e inconformada com esse tipo de comportamento e com o que estava imposto e estabelecido. Sempre lutei contra isso e vou continuar lutando, até o fim dos meus dias. Daqui a pouco vão me condenar à fogueira também. Para refletir. Fiquem com Deus.

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