quarta-feira, 20 de abril de 2011
Noite insone
Olívia de Cássia – jornalista
Toda noite é assim: insone e de muitas lembranças; durmo tarde. Um dia alguém me disse que quem ‘vive de passado é museu’, por conta do meu jeito de ser amolecida e saudosa. Pois então, ultimamente eu tenho vivido desse passado, talvez pela falta de um presente mais consistente. Um passado cheio de pequenas histórias, de muitas e queridas lembranças.
As coisas tristes que me fizeram sofrer eu confesso que gostaria de esquecer, trancar de cadeado no baú da minha memória ou deletar de vez do meu pensamento, não quero sentir rancor de nada, nem de ninguém. Mas a gente não passa impune na vida e não dá, simplesmente para ignorar tudo o que vivemos.
Cada música que escuto; cada detalhe da minha vida, cada parte da minha história. Não dá para ignorar que sou fruto hoje desse passado vivido. Sou uma mulher que não tem medo de me revelar por inteira, que não tem vergonha do seu passado nem da sua vida.
Tudo o que eu fiz foi pensando em ser feliz, em realizar meus sonhos e expectativas. Sempre acreditei nas pessoas, fui tola, supervalorizei quem não merecia, amei mais do que deveria; detalhes que me fizeram mais carente e mais frágil.
São essas e tantas outras lembranças que povoam minha mente, todas as noites, quando chego do trabalho, com a cabeça cheia de informações e muita adrenalina no corpo. Demora muito para que eu consiga sossegar, relaxar e dormir.
É no meu travesseiro, ouvindo o rádio do celular, que penso em tanta coisa para dizer e que só consigo verbalizar na escrita. Sou travada mesmo para a palestra e o microfone, não tem jeito. As palavras fogem quando penso em ligar e dizer: ‘Peraí, temos um assunto pendente há quase dez anos’.
Mas quando estou diante do outro eu me calo. Não consigo dizer nada do que eu queria e teria planejado dizer e só escuto muito mais do que falo. Por que eu sou assim, não sei dizer.
Cada um é o que é e não adianta questionar a razão. O tempo passou, envelheci e continuo a ser a mesma pessoa de quando era adolescente e jovem, de coração tolo, cheio de ponderações diante dos erros dos outros e às vezes intransigente diante de meus próprios erros. Por que é que é que a gente é assim?
Sou um poço de contradições, de sentimentos desencontrados, ora amargurada, ora cheia de saudade, de perdão e de vontades....
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