Olívia de Cássia – jornalista
Da varanda de casa miro o pátio da Estação Ferroviária; daqui a pouco vai passar o trem, que já está com os dias contados. Será substituído pelo Veículo Leve sobre Trilhos o VLT ou Veletê, como o gente diz na Tribuna Independente.
O trem, da maneira como ainda vem sendo usado, já não desperta tanto o interesse da população para o deslocamento, apesar de ser um transporte barato. A estrutura é velha, sem segurança e precisa mesmo ser atualizado, com urgência.
Para quem alcançou o auge desse tipo de transporte, até a década de 70 e início dos anos 80 do século XX, em Alagoas, era o principal meio de locomoção da maior parte da população.
Pra a gente viajar de União dos Palmares até Maceió, a principal via de acesso de carro ou ônibus era pela Rua da Ponte, passando em frente da entrada da Fazenda Jurema e seguia adiante. As estradas esburacadas e de barro, as pontes eram muito perigosas e de madeira e dessa forma, andar de trem era mais seguro e vantajoso.
O percurso de trem demorava cerca de quatro horas, de Maceió a União e vice versa. Da capital até a Terra da Liberdade o trem passava por várias estações: Bebedouro, Satuba, Fernão Velho, Lourenço, Murici, Branquinha e União. De lá seguia em frente até o Estado de Pernambuco.
Andar de trem era uma saborosa aventura. Revíamos paisagens, pessoas de classes diversas e vendedores aproveitavam para vender seus produtos. Nessas aventuras das viagens de trem era quando a gente saboreava as guloseimas mais gostosas: picolé da Gut Gut, uvas passas e maças (que naquela época só vendia na festa da padroeira), tareco, pirolito em forma de cone e biscoito Weifer.
Só quem vivenciou essa época entende o sabor que as viagens de trem possuíam. Saindo de Maceió avistava-se a Lagoa Mundaú, passava-se na estação de Bebedouro, onde muitas mocinhas da época estudavam internas no Colégio Bom Conselho, e o trem seguia adiante para Fernão Velho, onde os pratos de sururu eram oferecidos aos viajantes. Um verdadeiro mix de produtos variados.
O trem seguia em frente percorrendo canaviais, passando por povoados e os passageiros aproveitavam o longo percurso para conversar ou dormir, só acordando quando passava o ‘homem das passagens’ que pegava os bilhetes e perfurava em vários locais, com uma espécie de grampeador.
No trem também tinha restaurante para os grandes percursos, além dos ambulantes que embarcavam para vender de tudo. Com a construção das estradas, acentuada no meio da década de 70 do século passado, as viagens de trem foram minguando, decaindo e tornando-se sem muita segurança, pela falta de manutenção de sua estrutura.
Espero que o percurso do VLT se amplie pelo interior e a gente possa rever paisagens tão belas quanto as que víamos antes.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
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