quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

MS quer reduzir partos induzidos

 Foto: Olívia de Cássia -arquivo
Em Alagoas, são 90% na rede privada e 56,42% na rede pública 

Olívia de Cássia – Repórter
O Ministério da Saúde quer diminuir o número de partos por cesariana, por avaliar que o procedimento aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios no recém-nascido e triplica os casos de morte da mãe. Mesmo com meta de 15% fixada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 84% dos partos realizados na rede privada do Brasil são feitos por cesariana.
A estatística oficial aponta que mais de 84% dos partos realizados no Brasil, na rede privada, são feitos por cesariana. Em Alagoas, a taxa é de 90% nos hospitais privados e na rede pública esse índice é de 56,42%.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apresentou consulta pública no mês de outubro, para discutir medidas de redução do número de cesarianas. Entre os temas, está o direito de mulheres, grávidas ou não, serem informadas sobre as taxas de cesáreas e de partos normais por médico e estabelecimento de saúde.
As medidas sugeridas entrarão em prática a partir deste mês e segundo o MS, o estímulo ao parto normal pode diminuir a mortalidade materna e a mortalidade infantil, particularmente a mortalidade infantil neonatal precoce.
Foto: Bruno Martins
'Cesariana só quando for necessária', diz médico
MEDO DA DOR
O médico obstetra Antônio Carlos Rocha de Morais disse que esse índice alto de partos induzidos no país e no Estado é por conta de que muitas mulheres o escolhem, com medo de sofrimento, da dor, do abandono e de descaso: o medo de sofrer.  Ele ressalta que a história do parto em nosso país veio de uma história sofrida.
“Claro que não justifica; muitas mulheres não querem passar por isso, avaliam que o trabalho de parto é sofrimento, mas o risco de um procedimento cirúrgico é maior do que em um parto normal. Ela vai ter dor no pós-operatório, pois a cirurgia não é isenta de dor; é mais demorada a recuperação, para tudo o que ela pensar: para cuidar dos filhos, para andar, fazer atividade física; a cesariana é mais demorada”, explica.  
O obstetra avalia que os médicos muitas vezes, com a vida corrida que têm, ficam sobrecarregados no consultório, “um trabalho de parto muitas vezes dura dez, doze horas acompanhando a parturiente. Na cesariana ele vai lá, faz o procedimento e em três horas já resolveu tudo”, pontua.  
Médico explica que cesariana é para diminuir um dano para a mãe e para o bebê
O obstetra Antônio Carlos de Morais argumenta que não está justificando o parto cirúrgico, são explicações técnicas. “Sou a favor do parto normal, a indicação da cesariana é para diminuir um dano para a mãe e para o bebê; ela entra em trabalho de parto e o médico detecta que teve um problema; aí é indicado”, destaca.
Outro ponto observado pelo médico é que o circular de cordão (crianças que estão com o cordão umbilical em volta do pescoço), também não é motivo hoje em dia para uma cirurgia. “A criança pode nascer com o circular e nascer tranquilamente”, destaca.
Segundo o médico, em muitas clínicas privadas, maternidades particulares, a mulher não chega nem a entrar em trabalho de parto, porque a indicação da cesariana já vem com antecedência. “Hoje o Código de Ética dá esse direito: se o médico acompanhou o pré-natal, esclareceu bem a paciente sobre os riscos de uma cirurgia e o que ela vai passar numa cesariana, se ela está ciente de tudo, aceita fazer; qualquer procedimento cirúrgico tem que ser informado à paciente”, conta.
Antônio Carlos de Morais explica os riscos que um parto induzido pode acarretar: “Toda cirurgia tem seus riscos, de sangrar muito, com esse sangramento aparecerem hematomas, infecção, embolia, cuidados com a anestesia e tem as sequelas: cicatrizes anormais, e as dores pélvicas”, ressalta.
Humanização deve ocorrer sempre, avalia obstetra
O especialista em obstetrícia destaca que tem sempre a ideia de que a humanização do parto tem sempre que ocorrer, independente de qualquer técnica. A primeira coisa, segundo ele, é acolher bem a paciente, informar e orientar sobre tudo e dar a oportunidade à mãe de realizar o que seja bom para ela e o bebê.
“Muitas vezes a mulher quer um parto normal e não consegue; a cesariana muitas vezes é um procedimento que a paciente tem alguns traumas e o médico tem que respeitar isso. A humanização também é tentar diminuir o máximo de sofrimento da mulher, fazer técnicas de analgesia, diminuir dor, com massagem, música, movimento, exercício, e por conta disso tem alguns profissionais envolvidos hoje no trabalho de parto como: fisioterapeutas, enfermeiras obstetras e as doulas”, observa.
Ele descreve que as doulas podem ser fisioterapeutas, enfermeiras ou qualquer mulher da comunidade: são acompanhantes de parto que oferecem suporte afetivo, físico, emocional e de conhecimento para as mulheres. Antigamente os partos eram realizados pelas parteiras que cuidavam da mulher em todos os aspectos; a doula só não faz o parto”, explica.
Hoje os partos são feitos em hospitais com uma equipe especializada. Obstetras que têm a função de fazer o parto, pediatra para avaliar a saúde do bebê, a enfermeira e auxiliares que devem auxiliar os médicos para que nada falte e atender as outras mulheres também.
“São técnicas que a gente oferece para melhorar a humanização. Esse suporte pode ser dado antes, durante e depois do parto. Muitas vezes a dor é uma felicidade para algumas mulheres, ela chega a ter um prazer como um orgasmo no nascimento, ela chega no auge da contração; algumas colocam dessa forma e explicam que a dor desaparece como mágica com o nascimento do bebê. Se a mulher ajudar tudo ocorre muito bem e para isso ela precisa ser bem assistida”, reforça.
Mães contam experiências do nascimento de seus filhos
Foto: Olívia de Cássia: arquivo
Márcia Maria escolheu o parto induzido
O bebê Vinícius nasceu em um hospital da rede privada de Maceió; a mãe de Vinícius, a enfermeira Márcia Maria Medeiros de Cerqueira, disse que escolheu o parto cesariano por vontade própria. “Escolhi por vontade minha mesmo, pois tinha medo de sentir as dores do parto; mas o parto normal, sem dúvida, é bem melhor, pois a recuperação é bem mais rápida; a cesárea tem mais risco de infecção à mãe”, observou.
Vinícius é o segundo filho de Márcia Medeiros e ela aproveitou a cirurgia para encerrar a maternidade. “Já tenho a Mirela, de seis anos, trabalho fora e meu esposo também e hoje em dia não dá para ter mais filhos”, observa.
Marcela Tarcila de Oliveira Felix é assessora parlamentar, tem 27 anos, um bebê de dois anos e quatro meses e quando descobriu que estava grávida, a gestação já estava com cinco meses. Ela contou à reportagem da Tribuna Independente que foi induzida a fazer a cirurgia para ter o filho porque o bebê já estava com quatro quilos e a médica a alertou para o perigo de ter um parto normal com uma criança tão grande.
“Eu descobri que já estava grávida com cinco meses de gestação e, na realidade, eu fui induzida a uma cesariana porque a médica explicou que o meu bebê já tinha quatro quilos e era uma aberração, nos dias de hoje, eu ter um parto normal; disse que isso era coisa dos tempos mais antigos e que não existia mais isso. Eu também já estava com mais de nove meses e fiquei com medo”, observou.
A advogada Rita Mendonça conta que teve parto normal e que foi maravilhoso: “Tive parto normal e foi maravilhoso; em menos de trinta minutos saí da sala e estava com o bebê nos braços, se precisasse saía andando de tanta disposição  O maior problema que tive foi o medo da dor que tanto se alarda. Eu esperei tanto doer de um jeito que justificasse tanto escândalo, que a Bia nasceu com 'cabeça de funil', de tanto tempo apertada e já pronta para sair, e eu esperando mais dor”, observa.
Muitas vezes dor não é ‘do outro mundo, como se propaga’, diz especialista
O obstetra Antônio Carlos de Morais explica que muitas vezes a dor do parto não é do outro mundo como se propaga e se a mulher pratica exercícios, tem uma vida saudável, quando ela vai ter o bebê fica esperando essa dor forte e ela não vem. Ele observa que para a mulher não sentir essa dor que se divulga tão forte, é aconselhável fazer exercícios no pré-natal.
“Ela tem primeiro que querer, pois ninguém é obrigado a fazer o que não quer, estar disposta e hoje em dia a gente encaminha os pacientes para fisioterapeutas, para fazerem pilates, ioga para relaxar, mudar postura, trabalhar respiração e colocar o marido, a irmã ou a mãe, alguém bem querido junto dela nesse momento, que é bom para a  grávida, dá mais segurança”, avalia.
O médico explica que se com todo esse procedimento a dor não diminuir, existe a possibilidade de se fazer uma analgesia mais leve, mas mantendo a movimentação. “Se usa também hoje a banheira, para relaxar, são várias medidas. Já se estuda a possibilidade de mudar a posição do parto, porque a posição deitada não ajuda a saída do bebê; na posição vertical a força da gravidade ajuda, já tem camas PPP que a paciente entra no pré-parto, tem o parto e fica no puerpério. Nesse caso o parto acontece dentro do quarto, junto da família”, argumenta.
Coordenadora da Rede Cegonha diz que no início mulheres preferem parto normal
Por meio da assessoria, a médica e coordenadora estadual da Rede Cegonha em Alagoas, Syrlene Medeiros, observa que estudos mostram que as mulheres no início da gestação preferem o parto normal, mas ao longo do tempo ela vai sendo estimulada a realizar a cesárea e isso se dá por vários motivos.
“Por parte da mulher, porque quer fazer laqueadura tubária ou porque tem medo da dor, afinal o parto normal que estamos ofertando não é um parto natural. Por parte do profissional, porque não tem tempo para acompanhar o trabalho de parto e porque a remuneração não compensa o tempo que ele vai disponibilizar para esta paciente parir normal”, observa.
PRIVADO
Ela explica que em Maceió, de janeiro a junho de 2014 – segundo  tabulação  CAE / SMS de Maceió / DATASUS  foram realizados 11.492 partos, sendo 7.452  cesáreas, que  correspondem a 64,94% e parto normal  4.018 (35,04%). Na rede SUS, de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), foram realizadas 4.114 cesáreas (54,39 %) e 3.449 partos normais (45,61%).
Segundo a coordenadora Saúde da Mulher, Suzangela Dória de Mendonça, “a taxa de cesárea é maior nos hospitais privados e de acordo com estudo técnico, existe uma redução dos partos cesáreas acontecidos em Maceió no mesmo período correspondente em 2013: total de partos:  12.760, sendo 8.982 cesárias (70,50%) e normal  3.754 (29,5%). Na Rede SUS  foram realizados  10.889 partos, sendo 6.536 cesáreas (63,5%) e 3.753 normal (36,5%)”, observa.
Na capital existem 11 maternidades, sendo sete que atende pelo SUS e quatro da rede privada. São elas: Santa Monica – SUS; Santo Antonio – SUS; Nossa Senhora de Fátima  - SUS;  Nossa Senhora da Guia – SUS; Denilma Bulhões – SUS;  Hospital Universitário – SUS; Hospital dos Usineiros – SUS; Santa Casa – Privada; Unimed – Privado; Artur Ramos – privado; Hospital Maceió – privado.
No interior: União dos Palmares- Hospital São Vicente; São Miguel dos Campos- Santa Casa; Penedo- Santa Casa; Coruripe- Carvalho Beltrão; Arapiraca: Hospital Regional e Hospital Nossa Senhora de Fátima; Palmeira dos Índios- Hospital Santa Rita; Santana do Ipanema- Hospital Clodolfo Rodrigues; Delmiro Gouveia- Hospital Antenor Serpa.  Além dessas maternidades, o Estado tem as casas de parto normal nos municípios de menor porte.

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