Crescimento do consumo interno e demanda para exportação também são apontados pela CNA como motivos da alta do preço |
Olívia de Cássia / Repórter- Tribuna Independente
(foto: Sandro Lima)
O preço da carne bovina subiu em média 10% em Alagoas e em todo o país e o consumidor deve se preparar para essa alta se manter nos primeiros meses do ano, podendo recorrer a outras alternativas variáveis como frango, que manteve a média de preços, segundo donos de açougues visitados pela reportagem da Tribuna Independente. Outra alternativa apontada pelos especialistas é a pesquisa de preços e a diversificação de produtos.
Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o fator se deve à menor oferta, resultado principalmente da seca, que vem prejudicando as condições das pastagens e, consequentemente, a engorda dos animais ao longo do ano passado. Segundo a entidade, além disso, foi em virtude do crescimento do consumo interno e da demanda para exportação. No mês de dezembro de 2014, a arroba do boi gordo estava custando R$ 150.
Os insumos como farelo de soja e o milho, que complementam a ração do gado também tiveram aumento de preços e segundo o economista André Maia Gomes, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e especialista em Agricultura e Agronegócio, existe uma lei econômica simples da oferta e da procura e quando existe pressão de demanda e não existe oferta correspondente, o preço tende a subir.
TENDÊNCIA
“Há uma diferença fundamental entre preços agropecuários e preços industriais e de serviços; quando o preço aumenta, existe uma tendência clara de aumento da oferta, mas em médio prazo porque, no caso agropecuário, existe a necessidade de ser respeitado o ciclo biológico”, destaca.
O economista e professor observa também que, com a melhoria da distribuição de renda no país e o aumento real do salário mínimo, ocorreu pressão de demanda por carne. “Não havia oferta porque, entre 2005 e 2006, aconteceu queda real do preço pago ao agropecuarista, levando um desestímulo à produção; com isso aumentando até o abate de matrizes”, explica.
Para piorar, segundo ele, problemas de secas no Nordeste e outras regiões do país; no caso nordestino, parte relevante do rebanho afetado pela seca morreu. “Então precisa de um tempo para ocorrer o reequilíbrio entre oferta que andava relativamente em queda comparado à demanda em alta”, pontua.
André Maia Gomes destaca que, em 2009, já era para ter se sentido mais fortemente esse problema atenuado pelo enfraquecimento das exportações brasileiras em função da crise mundial mais forte naquele ano. “Isso permitiu que maior quantidade de carne que seria exportada fosse redirecionada para o mercado interno”, destaca.
‘Peso dos preços ainda vai demorar para ser derrubado’, diz economista
O economista exemplificou que se alguém for comparar dados do índice de preço ao consumidor de 2004 publicado pela Secretaria de Planejamento do Estado, com os mesmos dados referentes a 2014, verá como aumentou o peso do preço da carne.
“Fenômeno não sentido apenas regionalmente, como nacionalmente também. E da mesma forma que se tem que esperar um processo de recuperação desse rebanho até da recomposição do estoque de matrizes, para daí sair a produção de bezerros, isso indica que esse peso dos preços da carne bovina ainda vai demorar um pouco para ser derrubado”, avalia.
Segundo o economista, os dados do IPC do consumidor - publicação do próprio governo alagoano -, “mostra que a carne está pesando: o preço do patinho, cupim aparecem com destaque. Importa lembrar que a parte traseira do boi apresenta os cortes de carne mais sofisticados e a parte dianteira os menos apreciados e por isso mais baratos”, pontua.
FORMAS
André Maia Gomes disse também que existem diversas formas de a dona de casa driblar os preços altos e a primeira delas é pesquisar os preços. “Garanto que existem diferenças absurdas nesse quesito que podem beneficiar o consumidor; é possível encontrar, por exemplo, supermercados com fama de preço alto com preços de praticamente todo tipo de corte de carne, abaixo da média de preço local”, ensina.
Além disso, segundo ele, o preço do fígado ou da língua bovina são geralmente mais baratos. “Por outro lado, existem outros pontos de venda em Maceió que apresentam canais de comercialização mais curtos, o que favorece o consumidor. Importa apenas ter cuidado com o controle de qualidade do produto que se está consumindo”, orienta.
Segundo André Maia Gomes, a dona de casa e o consumidor em geral precisam fazer pesquisa de preços, pois existem várias alternativas viáveis.
“A carne bovina apresenta vários tipos de produtos que podem representar bons substitutos: ovinos, caprinos, carne de frango, peixes , seja de origem marinha ou fluvial e a carne de porco. Existe uma grande diversidade de opções para o consumidor, mas ele precisa pesquisar”, disse.
Pecuarista avalia que a seca foi um dos principais fatores para aumento
O pecuarista Manoel Gomes de Barros, o Mano, ex-governador de Alagoas, confirmou que um dos fatores para o aumento da carne bovina foi a seca, que prejudicou o pasto e por isso os criadores abateram muitas matrizes.
“Além da seca, também a abertura das exportações que teve um aspecto positivo; a oferta de insumos que está muito caro, como milho, farelo, tudo isso encareceu muito e fez com que o preço da carne bovina tivesse esse aumento”, observou.
Segundo Manoel Gomes de Barros, quem faz o confinamento de animais para o corte foi obrigado a aumentar o valor (Foto: Reprodução)
O preço do farelo de soja deu um salto em outubro do ano passado nos mercados interno e externo, em meio a uma forte demanda, surpreendendo criadores e agentes do setor.
Segundo Mano, quem faz o confinamento de animais para o corte foi obrigado a aumentar o valor da carne.
Segundo informações de sites de economia, na média das regiões, o preço do farelo de soja registrou aumento de 10,7 por centro entre 23 e 30 de outubro do ano passado. Entre 30 de setembro e 30 de outubro, o avanço foi de 15,2 por cento. “Por esses fatores, a ração cara, exportação e o abate de matrizes é que a tendência é o aumento de preços”, argumenta Manoel Gomes de Barros.
A reportagem da Tribuna Independente percorreu o bairro do Jacintinho para verificar o preço da carne nos açougues do bairro, que é um dos maiores da capital. Segundo o açougueiro Josinaldo do Livramento Silva, cortes como o patinho estão custando R$ 19,50; o acém com osso está custando R$ 13 (preço anterior R$ 12); o quilo de contrafilé era R$ 18 e está custando R$ 19,50. A costela de boi está sendo vendida no local a R$ 10,59.
Segundo o açougueiro Josivaldo do Livramento Silva, a previsão é que o valor alto da carne persista (Foto: Sandro Lima)
Josinaldo Silva disse ainda que a previsão é que o preço alto da carne persista. Em outro açougue do mesmo bairro, o preço está nessa média: bife R$ 15,99 e algumas promoções de miúdos de frango a R$ 4,20; o quilo do rim está a R$ 6, antes era comercializado a R$ 4.
A reportagem também constatou o aumento dos preços de miúdos como vísceras, passarinha, rim, coração, língua, que são usados com frequência na culinária nordestina.
Economista orienta consumidor a verificar o preço do quilo do produto
O economista André Maia Gomes argumentou que o consumidor deve observar o preço da carne pelo valor do quilo. “Muita gente olha o preço da mercadoria por aqueles números grandes e esquece de olhar o principal nesse caso: o preço por quilo. Essa informação vem com números bem pequenos, mas aparece lá no produto e poucos se preocupam em reparar esse detalhe. Um produto, por exemplo, que valha R$ 10, na verdade, pode ser de R$ 30 o quilo. Enquanto outro que apresente R$ 15, pode representar R$ 9 o quilo. Isso faz muita diferença”, explica.
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