Foto: Adailson Calheiros
Este ano a Organização das Nações Unidas (ONU) chamou a
atenção para o desperdício de comida. Segundo a instituição, são desperdiçados 1,3
bilhão de toneladas de alimentos anualmente - o equivalente a um terço de toda
a produção mundial. Somente nos chamados países desenvolvidos, são 222 milhões
de toneladas desperdiçadas - quase o mesmo produzido em toda a África
Subsaariana, 230 milhões. O alerta foi dado nas comemorações do Dia Mundial do
Meio Ambiente, acontecido no dia 5 último.
Apesar de o Brasil ser o quarto produtor mundial de
alimentos, há também um grande desperdício, chegando a 64% de perda durante a cadeia
produtiva: 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indústria
de processamento, 1% no varejo e 20% no processamento culinário e hábitos
alimentares.
A nutricionista Ana Paula Albuquerque, que é especialista em
Saúde Pública e Pós-graduada em nutrição clínica, em Maceió, observa que uma
solução para este sério problema pode partir da modificação de atitudes e
costumes que cultivamos em nosso lar, realizando o aproveitamento integral
destes alimentos, fazendo com que a utilização das partes não convencionais
faça parte do hábito da população brasileira.
“Devemos sempre lembrar que o desperdício é um mal que
precisa ser combatido por todos e iniciado, preferencialmente, dentro da
própria casa”, diz Ana Paula. Ela observa que não se consegue grandes mudanças
mundiais apenas pensando-se globalmente, “pois grandes mudanças do
comportamento universal começam de forma humilde, com o exemplo próprio. Pensar
globalmente agir localmente. Cada um faz a sua parte e o grande resultado se
constroi”, pontua.
Com o objetivo de evitar o desperdício de alimentos, o
Governo do Estado e o Governo Federal firmaram um convênio para a criação de um
Banco de Alimentos em Alagoas, mas o projeto ainda não está colocado em
prática. Segundo Ana Paula Quintella, superintendente de Segurança Alimentar e
Nutricional da Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social
(Seades), provavelmente em agosto de 2014 o projeto será iniciado.
“Deverá ser
construído no prédio do Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de
Alagoas (Ideral). O projeto está pronto e aprovado e será firmado por meio da
Caixa Econômica, mas a licitação não foi finalizada”, explica Ana Paula.
CONSCIÊNCIA
Na Feirinha do Tabuleiro, em Maceió, a reportagem conversou
com três comerciantes. Seu João Pereira da Silva é vendedor de tomates,
pimentões, cebolas e outros produtos da hortifruti, há 25 anos. Ele conta que
quando sobra algum produto que não está muito machucado faz doação para as
igrejas Católica e Evangélica do local ou para outras pessoas da comunidade.
“Eles vêm pegar para fazer sopa, mas às vezes os tomates e
outros produtos estão muito machucados, podres, e só servem para lavagem de
porcos e a gente doa também. Tem semana que perde muito produto, mas tem outras
que não”, explica o feirante. Seu João observa que compra os tomates em caixas
de 30 quilos e que às vezes perde de dois a três quilos por caixa, no caso de
frutas e verduras; nesse caso ele diz que não doa porque não serve para
alimentação.
Neide da Silva trabalha em uma barraca que vende banana,
mamão, coco e verduras, mas foi logo se apressando e dizendo que às vezes sobra
verduras e frutas e estragam, mas que não fica muito tempo lá no local de
trabalho e que o dono não estava para falar com a reportagem.
Seu José de Lima é baiano e também comercializa seus
produtos na Feirinha do Tabuleiro. Ele disse que vende tudo muito fresco, mas o
que sobra doa para o Programa Mesa Brasil, do Sesc, ou para pessoas da
comunidade que fazem sopão para distribuir com pessoas carentes e outros
moradores do Clima Bom. “Não tenho muitas perdas aqui e sempre que posso
procuro ajudar, não gosto de desperdiçar alimentos”, argumenta seu José de
Lima.
O dono de um self service localizado no Centro de Maceió,
que preferiu o anonimato, explica que não faz doações das sobras de alimentos
para entidades que cuidam de pessoas carentes e para outras pessoas, porque a
lei proíbe.
Ele conta que não tem muito
desperdício em seu estabelecimento, porque já tem uma média de quantas
refeições serão vendidas em seu restaurante.
“As sobras de alimentos são consideradas restos e não podem ser doadas,
porque se acontecer algum problema de intoxicação por causa de alimento seremos
punidos. Também sobra muito pouco aqui e faço doação para um senhor do mercado que
vem buscar para os porcos”, explica.
Mesa Brasil realiza
ações educativas para evitar o desperdício
O Mesa Brasil é um programa do Serviço Social do Comércio
(Sesc), em nível nacional, que surgiu com o objetivo de combater o desperdício de alimentos e a
fome. Segundo Lisiane Damasceno Santana, coordenadora em exercício do programa
no Estado, o programa existe em Alagoas há dez anos, na modalidade de Banco de
Alimentos em Maceió e Arapiraca, e em Palmeira dos Índios colheita urbana
(modalidade inicial do programa em Alagoas).
O projeto funciona com a coleta dos alimentos que possuem
valores nutricionais, mas perderam o valor comercial, nas feiras livres ou
outro local que faz parte do convênio. Toda doação é coletada pelos carros do
programa e é destinada ao banco de alimentos, onde passam por uma seleção e
ensaque, antes de serem distribuídos às instituições.
A coordenadora também esclarece que o Sesc não realiza distribuição
de refeições prontas. “Doamos os alimentos para instituições que atendem a
beneficiários internos e externos, dependendo do trabalho realizado por cada uma
delas cadastrada no programa. Existem
instituições sistemáticas que recebem doações a cada 15 dias, e instituições
eventuais que recebem em casos de doações excedentes (grandes volumes). A
distribuição é realizada por uma nutricionista que destina os alimentos de
acordo com o perfil e per capita de cada instituição”, argumenta.
Segundo Lisiane Damasceno, o
Programa Mesa Brasil também realiza ações educativas para os
manipuladores de alimentos das instituições; transportadores das doações;
capacitações para os doadores, bem como oficinas focando o aproveitamento
integral dos alimentos para os beneficiários das doações.
São contempladas com as doações as entidades cadastradas no
programa: instituições como abrigos, creches, casa de recuperação para
dependentes químicos, associação de moradores de bairros, paróquias, centros
espíritas, casas de apoio a paciente com câncer, entre outros. Para se
cadastrar para receber o alimento do programa é necessário enviar ofício para
inclusão no Programa Mesa Brasil Sesc, em nome do diretor regional da
instituição no Estado, com nome,
endereço, características dos trabalhos desenvolvidos na instituição e público
atendido.
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