De repente dá aquele aperto no peito, aquela saudade das participações nas passeatas, das fotos dos movimentos que eu fazia e tudo me veio à tona hoje. Naquela época, enquanto eu estava na rua, nos movimentos de reivindicação, aquele que eu achava fosse meu companheiro e parceiro estava me traindo a cada esquina, mas essa é outra história.
Não me arrependo um milímetro de ter ido às ruas protestar contra a falta de liberdade, contra a ditadura, por diretas já e outras mobilizações das mulheres alagoanas. Nessa época nós também estávamos terminando o TCC e precisávamos acompanhar o movimento, já que o tema do trabalho se reportava a essa seara.
Foram tempos de aprendizado, muita leitura, conhecimento, amizades que me fizeram mais fortes do que eu era. Leituras sobre feminismo, informações sobre mulheres guerreiras que lutaram e colocaram suas vidas em perigo.
Sempre gostei muito de fotografia e desde a faculdade eu registrava os movimentos, as mobilizações e outras paisagens. Muita coisa se perdeu no caminho, mas ainda consegui salvar algumas fotos daquela época.
Da mesma forma que as meninas da turma não gostavam muito de ir ao laboratório, eu ficava lá, horas a fio, com os meninos, para aprender um pouco sobre revelação de fotos. E aquela arte me encantava.
Eu gostava de sair às ruas, quando Maceió era uma cidade pacata, para fotografar, sem pauta e nem compromissos e também em União dos Palmares. Fotografei passeatas, mobilizações, monumentos históricos, praças, pessoas e coisas.
A fotografia me encanta, é como se a máquina fotográfica fizesse parte do meu corpo, fosse um apêndice útil e indispensável e também passei a usá-la para disfarçar um pouco os tombos e meu jeito atrapalhado de ser, embora eu nunca tenha confessado isso; talvez por timidez.
Desde o primeiro comício do Lula em Maceió; greves dos bancários, onde eu trabalhava na sede do sindicato, encontro de mulheres, passeatas e atos do primeiro de maio e protesto das mulheres nas ruas.
Fotografar para mim é mais que um hobby, faz parte da minha vida e embora agora já afastada do trabalho, quero continuar a fazer uso dessa ferramenta para me distrair. Às vezes as pessoas não entendem teu modo de ver as coisas.
A luz é a principal mola mestra da fotografia, mas outras nuances também se destacam e dependem do olhar de quem está fotografando. Mas esse texto seria para falar de saudade. Saudade de um tempo em que a gente participava de mobilizações, quando o país ainda vivia uma ditadura e depois as participações foram minguando.
Tive a honra de fotografar Luiz Inácio Lula da Silva em Alagoas. A primeira foi no primeiro comício que ele fez, na rua em frente à Assembleia Legislativa; na greve dos Bancários em 1991; no Espaço Cultural da Reitoria da Ufal, que ainda funcionava na Praça Sinimbu, onde ele autografou para mim duas fotos que eu tinha feito dele no comício.
Fiquei tão nervosa na hora com aquele contato com o maior sindicalista que o Brasil já teve, que quase não me contive. Também fotografei Lula em União dos Palmares, na caravana da esperança, na Palmarina, para uma palestra com trabalhadores rurais.
Nessa época ele percorreu todo o país; outra oportunidade foi fotografá-lo no Parque Hotel Quilombo, onde a equipe foi almoçar e todos nós acompanhamos.
Desde a minha juventude eu tive consciência da luta de classes e sempre fiquei do lado do oprimido. Na década de 1980 assisti, também na reitoria, uma palestra do mestre Paulo Freire e fiquei encantada.
Na palestra ele criticava os livros de alfabetização do Nordeste, numa época em que o nordestino não conhecia sequer o que era uva, maça e outras frutas. "Vivi viu a uva", dizia a cartilha da Amanda, que eu me alfabetizei. E fiquei pensando naquilo que ele disse.
O mestre falou da pedagogia do oprimido e levou o auditório lotado a aplaudi-lo. Meu tempo de universidade, posso dizer, que apesar das dificuldades e limitações que tínhamos foi um tempo de aprendizado, de boas amizades e conhecimento. Falo tudo isso com muitaa saudade. Boa noite.
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