domingo, 22 de maio de 2016

Sobre a adolescência e de outros que tais

Por Olívia de Cássia

Quando a gente é adolescente costuma supervalorizar pessoas e coisas, como se fossem mais importantes do que são. Pelo menos comigo aconteceu assim; eu era uma pessoa de baixa autoestima e admirava nas pessoas o que eu não conseguia ser.

Segundo meu amigo rastafári Thiago Correia, eu fui a primeira mulher alternativa de União dos Palmares; isso por conta da minha rebeldia; roqueira, fui a primeira jovem a fazer vestibular para jornalismo naquela época e não costumava discriminar as pessoas de classe diferente da minha.

 Sempre gostei de rock in roll e de boa música; namorei um ex-hippie de 24 aos aos 17  e embora ele fosse pessoa conhecida da família, quase parente, fomos muito discriminados pela sociedade conservadora da época.

O namoro foi quase platônico, durou um mês apenas, mas durante seis anos sofri o pão que o diabo amassou por conta desse amor impossível. Por mais que minha mãe se colocasse contrária e tramasse alguma coisa para me fazer esquecer aquele sentimento, mais ele aumentava.

As beatas que iam para a igreja, já naquela época, quando me viam ficavam cochichando como se eu fosse alguma portadora de doença contagiosa. A discriminação era semelhante ou pior do que existe hoje, para quem se arrisca a pensar diferente.

Já àquela época, influenciada pelos movimentos de libertação, pelas minhas leituras, eu já avaliava a conjuntura de forma diferente, embora fosse uma adolescente romântica e ingênua, tanto que brinquei de boneca até aquele dia do beijo que me marcou para o resto daqueles dias.

O movimento hippie nasceu entre os anos 60 e 70, a década em que teve seu maior reconhecimento e desenvolvimento, seu lugar de origem foram grandes comunidades dos Estados Unidos.

Naquela época vários artistas eram símbolo do movimento, como o cantor e compositor Raul Seixas; Jimmy Hendrix, Os Beatles; John Lennon, entre outros. Os hippies defendiam o conceito “Paz e Amor”, mas negavam o nacionalismo, o patriotismo e as causas de violência e guerras. Aqueles jovens defendiam os valores da natureza, e desconfiavam do poder econômico e militar.

Segundo a literatura, no final dos anos 60 e início dos anos 70, o desenho animado Scooby- Doo foi feito por animadores que homenagearam à cultura hippie, além disso um personagem da série seria hippie (o Salsicha), mas não foi aprovado, então homenagearam os hippies imitado um carro desenhos floridos (Mistery Machine ou Máquina Mistério) que imita os carros coloridos e libertys dos anos 60 e 70.

Isso tudo acontecia, sem que nós tivéssemos essas informações, mas as influências do movimento foi se expandindo pelo mundo e por incrível que pareça, já naquela época chegou a União dos Palmares.
Minhas pulseirinhas alternativas e algumas roupas customizadas que eu usava foram alvo da fúria da minha mãe e ela queimou as minhas roupas, deixando poucas peças no guarda-roupa.

Talvez esse meu lado contestador tenha me influenciado a fazer jornalismo, apesar de eu ser considerada pelas pessoas do movimento hippie como uma 'filhinha de papai careta, que não fumava maconha, apesar da fama".

Depois de anos passados e já na faculdade, fiquei sabendo que alguns personagens da minha terra me achavam metida e intolerante, pela minha forma de pensar a vida. Hoje eu penso e repenso; me ponho no lugar da minha mãe, sei que para ela era difícil me entender.

Minha mãe nunca acreditava quando eu desmentia os falatórios sobre a maconha; preferia acreditar nas Candinhas fofoqueiras e mal amadas. Primeiro ela me castigava e depois ela procurava saber da verdade.

E esses eram os principais motivos das  nossas discórdias tão visíveis para toda a União. Eu corria para a casa das amigas e lá encontrava o apoio e a compreensão das mães das minhas amigas, que me conheciam mais profundmente que minha mãe, porque quase nunca conversávamos amigavelmente.

Eu não tenho crise nenhuma em falar dos problemas da adolescência, das crises existenciais, talvez seja por isso que passei tão pouco tempo na terapia e resolvi escrever sobre tudo aquilo; escritos que nunca publiquei.

Não é que eu não amasse a minha mãe,  pelo contrário; mas ela me tratava como se tivéssemos sido inimigas em outras vidas. Talvez no plano espiritual tudo isso, todos os meus dramas tenham uma explicação.

Minha mãe tinha uma personalidade muito forte e dominadora e como filha de senhor de engenho, tinha o espírito coronelista e dominador. Ela queria que todo mundo estivesse ali, submetido às suas ordens, o problema todo era a minha desobediência e rebeldia que ainda trago comigo, talvez justificando a assertiva de que pau que nasce torto morre torto" e não tem jeito. Boa tarde.


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