Estudo indica que 70% dos trabalhadores vivem no limite
Olívia de Cássia – Repórter
O estresse
ocupacional é assunto sério e pode acarretar problemas de saúde ao trabalhador, como falta de
produtividade; custos para as empresas e impactos na sociedade. Dados recentes
de um estudo indicam que 70% dos trabalhadores brasileiros tendem a ficar mais
estressados no final do ano.
O motivo desse resultado são as temidas metas e
balanços do fim de ano das empresas e esse é o período de avaliar o que está
faltando para bater as metas e correr atrás para fechar o ano positivamente.
Pesquisas apontam que pessoas submetidas a longas jornadas
estressantes de trabalho tendem a ter problemas comportamentais graves. No final do ano, devido a essas atividades
que têm que cumprir, com ultimatos para balanços e tarefas indispensáveis, esse
processo é mais acelerado.
Os bancários são a categoria que mais sofre com jornadas
extenuantes de trabalho, principalmente no cumprimento das metas de fim de ano.
Segundo José Marconde, diretor de Saúde do Sindicato dos Bancários, os
trabalhadores dos bancos necessitam de condições de trabalho que de fato
possibilitem a proteção e a promoção à saúde.
“Só para citar um exemplo, em 2013, o INSS registrou 18.671
bancários doentes, afastados do trabalho. Do total de auxílio-doença
acidentário, 52.7% são devido a
transtornos mentais e do sistema nervoso. Entende-se que há uma
subnotificação, pois muitos bancários trabalham doentes, à base do consumo de
medicação tarja preta”, reclama.
Segundo o diretor do Sindbancarios, os trabalhadores nas
empresas financeiras, principalmente devido a pressão para o cumprimento de
metas inatingíveis, aumento descabido de produtividade e assédios moral, as
doenças relacionadas ao sofrimento mental já superam as doenças do sistema
musculoesquelético (casos de Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - LER/DORT).
“No Brasil, os bancários estão dentre as categorias mais
acometidas por doenças e acidentes do trabalho como fruto do modelo de gestão
adotado pelos bancos. Esse modelo de gestão está diretamente ligado à
selvageria pela busca por lucros cada vez maiores e exorbitantes”, disse.
José Marconde argumenta que com o aumento das demandas de
fim de ano, o problema se agrava ainda mais. “O bancário pede socorro. A falta
de condições necessárias para o bom desenvolvimento do trabalho nas agências e
unidades bancárias gera transtornos e adoecimento e sobra assédio moral, com
imposição de metas inatingíveis e ameaças de descomissionamento”, explica.
Segundo o diretor do Sindicato dos Bancários, os problemas
enfrentados pela categoria vão desde agência faltando empregados e os
trabalhadores lotados sendo sobrecarregados; filas enormes e clientes aviltados
e impacientes. “O resultado são empregados estressados e vítimas de doenças
físicas e psicológicas”, pontua.
O diretor afirma ainda que a redução dos postos de trabalho;
o ritmo intenso, desgastante e penoso da carga de trabalho; a cobrança
massacrante por metas inatingíveis; as más condições de trabalho (física,
ergonômica, organizacional, outras); a falta de valorização da categoria
bancária, inclusive com remuneração que faça jus ao lucro que produz; o assédio
moral e demais violências físicas e psíquicas estão entre os fatores estressantes e de adoecimento
na categoria.
José Marconde alerta que é preciso assegurar melhores
condições de trabalho e a valorização da categoria. Segundo o diretor, há leis
e conceitos de ética e de direitos humanos que devem ser respeitado, como o
cumprimento das convenções da Organização Internacional do Trabalho.
“Essas convenções foram homologadas pelo Brasil, as quais
determinam a participação dos trabalhadores nos assuntos relacionados às
condições de trabalho, à organização livre dos trabalhadores nos locais de
trabalho, à autonomia necessária dos serviços de saúde das empresas, dentre
vários temas”, observa.
Para José Marconde, é preciso que acordos e leis sejam cumpridos e não estão.
“Por exemplo, o banco discutir as metas, a organização do trabalho, a prevenção
de doenças, a reabilitação ocupacional, a promoção de saúde, conjuntamente com
os trabalhadores e sua representação sindical”, destaca.
POLICIAIS
Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais
(Sindipol\AL), Josimar Melo, doenças adquiridas por conta do trabalho como
dependência química, alcoolismo, depressão, diabetes, hipertensão e outros
problemas psíquicos são comuns na categoria policial.
“Normalmente o policial não consegue relaxar; a adrenalina
sobe e ele não consegue chegar logo ao estado normal, depois de uma ocorrência
policial, leva tempo e muitas vezes faz uso de calmantes para aguentar a
pressão do dia a dia, adquirindo problemas ocupacionais às vezes
irreversíveis”, observa.
Segundo o presidente do Sindpol, o Estado não oferece o
tratamento adequando quando o profissional da segurança precisa e uma das
reivindicações da entidade é que o Estado tenha acompanhamento psicossocial
para atender os policiais. “A maioria dos que conseguem se aposentar é por
problemas graves de saúde”, destaca.
Psicóloga alerta que
empresas precisam estar atentas à saúde dos funcionários
Arquivo particular
“As empresas, hoje, precisam estar atentas à saúde dos seus
funcionários e oferecer condições para que o estresse não tome conta da sua
vida pessoal e profissional”, comenta a psicóloga Rose Mendonça, com formação
em Psicologia e Psicoterapia humanista-Gestalt terapia.
Segundo ela, por meio de programas de antiestresse é
possível contemplar o incentivo à prática de atividades físicas, meditativas,
exercícios de respiração e de relaxamento que de fato amenizam esse estresse.
Rose Mendonça ressalta que, quando o trabalhador sentir sintomas de ansiedade,
fadiga e cansaço por conta de excesso de trabalho, deve procurar um
profissional capacitado, na empresa ou fora dela, para pedir orientação.
“Para evitar tais
problemas deve ser feita uma lista de atividades e o trabalhador deve organizar
ao máximo seu ambiente de trabalho. Com essa organização evitará o desperdício de
tempo, que gera a temida ansiedade e o desgaste próprio de cada atividade”,
destaca.
Ela ressalta que sempre aconselha seus pacientes que digam
não, quando necessário, colocando limites em situações difíceis de serem
administradas; que mantenham o diálogo com colegas de trabalho promovendo um
ambiente agradável; “respeite o horário de intervalo dando um pequeno descanso
para sua mente e corpo; faça atividade física, que reduz o nível de tensão,
previne a fadiga e o estresse”, ensina.
A psicóloga argumenta também que desorganização no ambiente
ocupacional, falta de clareza nas regras, normas e nas tarefas que devem ser
executadas contribuem para isso. A especialista explica que ambientes
insalubres e falta de ferramentas adequadas também causam estresse.
“Sensação de
insegurança no emprego; de insuficiência profissional; pressão para comprovação
de eficiência ou, até mesmo, a impressão continuada de estar cometendo erros
profissionais”, são fatores atribuídos ao cansaço de fim de ano.
Outros fatores que podem causar mais estresse no final do
ano para os trabalhadores também são
apontados pela psicóloga clínica Rose Mendonça como determinantes para essa
fadiga mental: “Conflitos, frustrações e ou desavenças conjugais, falta de
motivação, de projetos, ocupar a mesma função por muitos anos sem perspectivas
de crescimento profissional, entre outros motivos”, pontua.
Com a globalização, o mercado cada vez mais competitivo e a
era da informação, as empresas tem que produzir mais, dar mais retorno, com
mais agilidade, mais inovações. A pressão é automaticamente passada para os
trabalhadores. Começa então a espiral ascendente de desgaste, ônus para a
saúde, custos humanos, empresariais e sociais.
Rose Mendonça avalia que é preciso que as empresas melhorem
as condições físicas do trabalho com a adoção de ferramentas adequadas às
pessoas: investir no aperfeiçoamento pessoal e profissional dos funcionários,
oportunizando a realização de cursos profissionais e vivências socioeducativas.
Para a psicóloga clínica, é preciso que o trabalhador também
adote algumas atitudes, para minimizar ou prevenir o estresse no ambiente de
trabalho. Segundo Rose Mendonça, a manutenção de uma política de recursos
humanos que valorize o desenvolvimento humano de maneira continuada é um
excelente caminho, não apenas em relação ao estresse de final de ano.
Metas abusivas e
desumanas são responsáveis pelo desgaste do trabalhador
Foto: Sandro Lima
O psicólogo do comportamento e professor de uma faculdade
particular de Maceió Roberto Lopes Sales avalia que as metas voltadas para
algumas profissões, muitas vezes são desumanas.
Segundo ele, além do desgaste natural de o trabalhador querer fazer um
atendimento contínuo, em determinado horário, ele trabalha para cumprir,
forçado, aquelas determinações.
“Eu venho de uma família de bancários e percebo que muitas
vezes essas metas podem gerar até uma doença mental, em casos mais graves:
problemas como afastamentos do trabalho, por conta de doenças adquiridas;
Lesões por Esforços Repetitivos (LER\Dort); além de comportamentos desgastantes
e depressão, são alguns dos problemas mais comuns que afetam os trabalhadores”,
observa.
Segundo Roberto Sales, essas pessoas vivem no automático;
voltadas para atingir aquelas metas e quando terminam, já têm que atingir
outra. “Conheço pessoas que trabalham também no ramo imobiliário que vivem
assim; às vezes tendo que produzir essas metas, que não são simples, mas
abusivas, de ter que vender milhões”, destaca.
Na visão do psicólogo, alguns sérios problemas gerados no
estresse adquirido, principalmente no final de ano, dificultam a qualidade de
vida desses trabalhadores, principalmente no final do ano.
“Existe uma exaustão,
com relação ao trabalho árduo e contínuo que quando a pessoa chega em casa, só
deseja dormir, relaxar e fugir daquele contexto e aí muitas vezes acontece
grandes problemas familiares, sociais, o uso abusivo do álcool e das drogas,
para que o indivíduo saia da realidade e viva uma condição de fantasia, agindo
dessa forma para fugir de uma situação estressante e traumática”, pontua.
São várias as profissões elencadas como estressantes pelo
Ministério da Saúde: bancários, médicos, policiais militares, enfermeiros e
professores, entre outras profissões. No caso dos policiais, o psicólogo
destaca que esses trabalhadores vivem o tempo inteiro com medo de morrer.
“Ele quer viver em favor dos outros, mas quando está sozinho
tem que viver em momento de vigília e isso causa uma série de problemas nele,
porque nunca está relaxado, em alguns casos gera comportamentos doentios”,
pontua.
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