Mirabel Alves
Secretário da Comissão
de Direitos Humanos da OAB/AL
Faz mais de setenta
dias que o adolescente Davi da Silva desapareceu, após uma abordagem feita por
uma guarnição da Polícia Militar de Alagoas, fato ocorrido em 25 de agosto do
corrente. Esse fato choca e preocupa exatamente porque envolve membros da
segurança pública que deveriam agir no mais estrito cumprimento da lei, mas,
infelizmente nem sempre é o que ocorre.
Afirmamos isso porque
se a guarnição tivesse agido da forma legal, o adolescente Davi estaria hoje
são e salvo e, caso tivesse cometido qualquer ato infracional estaria
respondendo por ele nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Infelizmente criou-se um fosso entre os fatos ocorridos e a verdade real que
necessita vir à tona.
A legislação
brasileira, aliás, muito extensa, garante a todos nós o direito de sermos
acusados e julgados nos termos da lei com o exercício da ampla defesa e do
contraditório, o que garante ao Davi e demais adolescentes e a todos nós
cidadãos brasileiros, o direito de nos defender e provar a nossa inocência, se
inocente formos e, se culpados, temos o direito de responder às penas previstas
em lei, nada mais que isso.
No caso do Davi da
Silva, há uma responsabilidade do poder público envolvendo o caso, isso porque
o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Art. 4º, garante que a
responsabilidade pelo saudável desenvolvimento da criança e do adolescente é
missão da família, da comunidade, da sociedade e do poder público.
No caso Davi, estando
ele sob a custódia do poder público, por meio da apreensão realizada pela Polícia
Militar de Alagoas, é o Estado o
responsável pelo seu misterioso sumiço, uma vez que ele se encontrava sob
custódia da segurança pública alagoana ao ser abordado pela guarnição militar
da Radiopatrulha.
As entidades da
sociedade civil, juntamente com os familiares, têm insistentemente cobrado uma
posição acerca do caso e isso tem feito a diferença, já que se a família
tivesse permanecido inerte, certamente o caso já estaria esquecido e os
responsáveis pelo desaparecimento de Davi estariam certos de suas impunidades.
Não importa quem é a
pessoa a ser abordada pelos policiais; ela merece respeito por parte dos agentes
da segurança pública. É dever da autoridade policial tratar com dignidade
humana o cidadão que tem boa posição social, bem como as pessoas simples da
periferia, o que nos diferencia é somente a posição social, não havendo
qualquer amparo para os policiais que abordam os meninos das periferias com
brutalidade evidente, dando chutes nas pernas, empurrões, puxões nos braços e,
muitas vezes até fazendo eles desaparecerem como se fossem feitos de fumaça.
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