O mês de abril já vai acabando, mas ainda é tempo de lembrar
as comemorações no país pelo fim do golpe militar de 64, ocorrido em 31 de
março ou 1º de abril para outros. Eu era criança, tinha quatro aninhos quando
se deu o fatídico, mas lembro que meu pai tinha muito medo que saíssemos de
casa.
Fui crescendo com essa ideia de proibições no juízo e isso
me inquietava, nunca gostei que me proibissem de fazer alguma coisa, porque
isso me impulsionava á curiosidade e à desobediência e fui me colocando
contrária às proibições, muito embora eu não entendesse o que se passava no País.
Com o passar dos anos, aquelas campanhas políticas foram me
envolvendo, por influência do meu querido e saudoso pai; no país e só tinha
dois partidos: Arena e MDB. A Arena arregimentava os partidários do regime e
conservadores e o MDB os democratas, comunistas, intelectuais e libertários da
época e comecei a simpatizar com ele, embora não tivesse compreensão do que
fosse aquilo na verdade.
No começo, meu pai, muito mais por temor de que viesse a lhe
acontecer algo, votava na Arena; com o tempo, ele foi tomando gosto pela
política e passou a votar nos candidatos do MDB. Gostava de ficar no viaduto próximo
à pracinha do cinema, para conversar com os amigos sobre conjuntura política e
saber das novidades da cidade, pois não tinha muita opção naquela época.
Eu amava ir com meu pai aos comícios, segurando bandeirinhas
simplórias e faixas daqueles candidatos do meu pai (incluindo e principalmente do
nosso primo Afrânio Vergetti, o preferido de seu João).
Do golpe militar e de sua torpe história só fui entender
mesmo, para falar a verdade, quando já estava na faculdade, porque no ensino
fundamental e médio, pouco ficávamos sabendo das tramoias dos militares no
país.
Nossa turma adolescente também não se importava muito por
política, apesar da rebeldia da idade e do gosto pela contestação; éramos
influenciados pelo movimento hippie, roqueiros e libertários. Éramos contrários às imposições
da época, àquelas proibições, mas sem um entendimento mais profundo do que
fossem e do que significassem.
Ficávamos sabendo, uma vez ou outra, que as pessoas que se
contrapunham ao torpe regime, desapareciam como num passe de mágica ou eram
consideradas terroristas e inimigas da nação. Para ser mais resumida podemos
nos situar em algumas lideranças de nosso Estado que, inconformados com o que
se passava no país, foram consideradas inimigas da nação, como o jornalista
Jayme Miranda.
Este ano fiz questão de prestigiar o ato show que lembrou o
fim do regime e um filme passou pela minha cabeça. Lembrei da minha época de
faculdade, pois quando passei no vestibular, a primeira orientação da minha mãe
foi que eu tivesse cuidado com os comunistas. E para ser autêntica, foi com
quem primeiro tive contato na Ufal: todos os colegas do PCdoB, comunistas e
revolucionários, por quem tenho um imenso carinho até hoje, apesar do
distanciamento do dia a dia.
E foi no contato com os comunistas que comecei a ler Máximo
Gorki; Mark, Lenin, Trotski, entre outros socialistas. Mas, pensando bem, como eu sempre gostava de ler, desde a mais
tenra idade; aos 14 anos eu li o Diário de Anne Frank e comecei a me inquietar
com algumas questões a partir dali.
Eu não era uma adolescente totalmente alienada, porque
sempre gostei muito de ler. E lia tudo que me chegasse às mãos: Os Sertões,
Memória do Cárcere, Vidas Secas e tantos outros romances que começaram a me
inquietar o juízo. E muito por isso, alguns pais de amigas minhas, irmãos e
namorados aconselharam que se afastassem de mim ‘porque eu era muito sabidinha
e gostava de ler’.
Que nunca mais se repita no Brasil aqueles anos de aflição e
desespero; defendo a democracia em toda a sua totalidade, com erros e acertos.
Que nunca mais tenhamos que abdicar da nossa forma de pensar e de nosso olhar
crítico diante das injustiças. Viva a liberdade, salve a democracia.
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