quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ainda há tempo...

Olívia de Cássia – Jornalista

O mês de abril já vai acabando, mas ainda é tempo de lembrar as comemorações no país pelo fim do golpe militar de 64, ocorrido em 31 de março ou 1º de abril para outros. Eu era criança, tinha quatro aninhos quando se deu o fatídico, mas lembro que meu pai tinha muito medo que saíssemos de casa.

Fui crescendo com essa ideia de proibições no juízo e isso me inquietava, nunca gostei que me proibissem de fazer alguma coisa, porque isso me impulsionava á curiosidade e à desobediência e fui me colocando contrária às proibições, muito embora eu não entendesse o que se passava no País.

Com o passar dos anos, aquelas campanhas políticas foram me envolvendo, por influência do meu querido e saudoso pai; no país e só tinha dois partidos: Arena e MDB. A Arena arregimentava os partidários do regime e conservadores e o MDB os democratas, comunistas, intelectuais e libertários da época e comecei a simpatizar com ele, embora não tivesse compreensão do que fosse aquilo na verdade.

No começo, meu pai, muito mais por temor de que viesse a lhe acontecer algo, votava na Arena; com o tempo, ele foi tomando gosto pela política e passou a votar nos candidatos do MDB. Gostava de ficar no viaduto próximo à pracinha do cinema, para conversar com os amigos sobre conjuntura política e saber das novidades da cidade, pois não tinha muita opção naquela época.  

Eu amava ir com meu pai aos comícios, segurando bandeirinhas simplórias e faixas daqueles candidatos do meu pai (incluindo e principalmente do nosso primo Afrânio Vergetti, o preferido de seu João).
Do golpe militar e de sua torpe história só fui entender mesmo, para falar a verdade, quando já estava na faculdade, porque no ensino fundamental e médio, pouco ficávamos sabendo das tramoias dos militares no país.

Nossa turma adolescente também não se importava muito por política, apesar da rebeldia da idade e do gosto pela contestação; éramos influenciados pelo movimento hippie, roqueiros  e libertários. Éramos contrários às imposições da época, àquelas proibições, mas sem um entendimento mais profundo do que fossem e do que significassem.

Ficávamos sabendo, uma vez ou outra, que as pessoas que se contrapunham ao torpe regime, desapareciam como num passe de mágica ou eram consideradas terroristas e inimigas da nação. Para ser mais resumida podemos nos situar em algumas lideranças de nosso Estado que, inconformados com o que se passava no país, foram consideradas inimigas da nação, como o jornalista Jayme Miranda.

Este ano fiz questão de prestigiar o ato show que lembrou o fim do regime e um filme passou pela minha cabeça. Lembrei da minha época de faculdade, pois quando passei no vestibular, a primeira orientação da minha mãe foi que eu tivesse cuidado com os comunistas. E para ser autêntica, foi com quem primeiro tive contato na Ufal: todos os colegas do PCdoB, comunistas e revolucionários, por quem tenho um imenso carinho até hoje, apesar do distanciamento do dia a dia.  

E foi no contato com os comunistas que comecei a ler Máximo Gorki; Mark, Lenin, Trotski, entre outros socialistas. Mas, pensando bem,  como eu sempre gostava de ler, desde a mais tenra idade; aos 14 anos eu li o Diário de Anne Frank e comecei a me inquietar com algumas questões a partir dali.

Eu não era uma adolescente totalmente alienada, porque sempre gostei muito de ler. E lia tudo que me chegasse às mãos: Os Sertões, Memória do Cárcere, Vidas Secas e tantos outros romances que começaram a me inquietar o juízo. E muito por isso, alguns pais de amigas minhas, irmãos e namorados aconselharam que se afastassem de mim ‘porque eu era muito sabidinha e gostava de ler’.

Que nunca mais se repita no Brasil aqueles anos de aflição e desespero; defendo a democracia em toda a sua totalidade, com erros e acertos. Que nunca mais tenhamos que abdicar da nossa forma de pensar e de nosso olhar crítico diante das injustiças. Viva a liberdade, salve a democracia.

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